quinta-feira, 5 de julho de 2012

A Origem das Religiões


Pat Zuckeran

Seria Psicológica?

Qual é a origem da religião? Por que todas as culturas do mundo adoram um ser divino? Os antropólogos e historiadores têm estudado essa questão e, atualmente, existem três teorias principais: a teoria subjetiva, a teoria evolucionista e a teoria do monoteísmo original.

A teoria subjetiva ensina que a religião se origina com o homem. Os seres humanos têm uma necessidade psicológica de um ser transcendente que dê sentido e esperança à sua existência neste universo vasto e impessoal. Os aderentes desta opinião acreditam que essa composição religiosa existe sob a nossa consciência. As culturas têm várias concepções da realidade de acordo com sua própria experiência, mas a consciência e o desejo pela religião é um fenômeno universal. Assim, eles concluem que essa disposição está em nosso subconsciente. Em outras palavras, nossas crenças sobre um ser transcendental não são o resultado de realidades externas ou interações com esse ser. Antes, essas crenças derivam da nossa psiquê.

Esses sentimentos são expressos em termos mais concretos através de símbolos e atitudes, e não através de um conjunto de sistemas de crenças definidos. À medida que uma cultura progride, esses símbolos e atitudes se desenvolvem num conjunto de crenças e práticas.

Houve vários proponentes importantes na promoção desta teoria. Friedrich Schleiermacher acreditava que a religião começou com um sentimento de dependência. Isto levou à necessidade de um objeto do qual depender, o que resultou na idéia de Deus. Ludwig Feuerbach ensinava que o conceito de Deus é na realidade a imagem de uma pessoa idealizada. Sigmund Freud acreditava que Deus derivou da necessidade humana básica de uma imagem paterna. A figura do pai idealizado torna-se nossa imagem de Deus.1

A teoria subjetiva pode nos ensinar sobre a natureza humana, mas não explica adequadamente a origem da religião, ou de onde vem esse desejo universal de conhecer e compreender a Deus. Dr. Winfried Corduan escreve: “Eu posso trazer em minha mente subconsciente uma representação abstrata de Deus, mas eu não posso nessa base concluir que não haja um ser objetivo, que exista independentemente, que seja Deus. Deus pode ter me criado com essa idéia para que eu possa me relacionar com Deus.”2 Todo efeito tem uma causa. Qual é a causa desse forte desejo de um relacionamento com Deus? Se somos o produto de um criador divino, isso explicaria esse impulso universal de toda a humanidade para conhecê-Lo, porque Ele colocou esse desejo em nós.

A Bíblia dá respostas às questões que a teoria subjetiva não pode responder. Gênesis 1 declara que somos criados à imagem de Deus. Portanto, fomos criados à imagem de Deus com a intenção de termos um relacionamento com Ele. Romanos 1:20 declara que todos os homens têm arraigado em seus corações um conhecimento de Deus. O capítulo 2 afirma que nossa consciência testifica que existe um legislador moral. O anelo por Deus é uma parte fundamental da natureza humana.

A Teoria Darwinista da Religião

A segunda teoria a respeito da origem da religião é a abordagem evolucionista. Esta é a opinião mais popular ensinada ou subentendida no estudo da religião. Os proponentes desta teoria acreditam, assim como na teoria subjetiva, que a religião se origina com o homem. A religião é o resultado de um processo evolucionário da cultura humana.

No período mais primitivo de uma cultura, a forma mais fundamental de religião começa com um sentimento inato de que existe uma força espiritual. Essa força é impessoal e permeia toda a criação. É chamada mana (derivada do nome dado pelos habitantes da Melanésia). O mana pode estar concentrado mais intensamente em algumas áreas e objetos do que em outros. Uma grandiosa árvore, ou uma rocha incomum, ou certo animal, podem conter uma concentração mais elevada de mana.

O objetivo é manipular essa força para que se possa alcançar um resultado desejado. Objetos como varinhas ou bonecas, chamados fetiches, podem conter a força e ser usados ou cultuados.

O próximo estágio é o animismo. Nesse estágio, a força é visualizada como espíritos pessoais. O animismo ensina que um espírito ou força espiritual encontra-se além de cada evento, e muitos objetos do mundo físico trazem algum significado espiritual.

Existem duas categorias de espíritos: espíritos da natureza e espíritos ancestrais. Os espíritos da natureza têm uma forma humana e habitam em objetos naturais como plantas, rochas ou lagos. Os espíritos ancestrais são os espíritos dos antepassados. Ambas as categorias de espíritos são limitadas em conhecimento, poder e presença. É necessário manter uma relação favorável com os espíritos, ou senão sofrer a sua ira.

O próximo estágio é o politeísmo. As culturas progridem da crença em espíritos finitos até o culto de deuses. A partir do politeísmo, uma cultura evolui para o henoteísmo, que é a crença em muitos deuses, mas o culto direcionado a apenas um único deles. O estágio final é o monoteísmo, o culto de um único Deus.

Existem vários problemas com essa teoria. O primeiro é que esses estágios de desenvolvimento nunca foram realmente observados. Não existe nenhum registro de uma cultura movendo-se na sequência do estágio do mana até o estágio monoteísta, tal como descrito no modelo evolucionista. Com o mana e o animismo, os proponentes evolucionistas esperavam que as culturas nesses estágios estivessem livres da noção de qualquer deus. Contudo, este não é o caso. As culturas animistas têm deuses, e a maioria possui uma crença em um ser supremo. Finalmente, há evidência que indica que as religiões na realidade desenvolvem na direção contrária do modelo evolucionista.

Por essas razões, as teorias subjetiva e evolucionista não dão uma explicação adequada para a origem da religião. Será que a história, ou mesmo a Bíblia nos dão uma resposta melhor?

O Monoteísmo Original

O terceiro modelo para a origem da religião é o monoteísmo original. Esta teoria ensina que a religião se origina em Deus revelando-Se ao homem. A primeira forma que a religião assume é o monoteísmo, e desvia-se a partir daí. Dr. Winfried Corduan identifica nove características da primeira forma de religião do homem:

  • Deus é um Deus pessoal.
  • Ele é referido em gramática e com qualidades masculinas.
  • Acredita-se que Deus vive no céu.
  • Ele tem grande conhecimento e poder.
  • Ele criou o mundo.
  • Deus é o autor dos padrões de bem e mal.
  • Os seres humanos são criaturas de Deus e devem viver de acordo com seus padrões.
  • Os seres humanos se alienaram de Deus desobedecendo aos seus padrões.
  • Finalmente, Deus preparou um modo de superar a alienação. Originalmente, envolvia o sacrifício de animais sobre um altar de pedra não lapidada.3
Estudos sobre as culturas do mundo têm revelado que cada uma apresenta um vestígio de crenças monoteístas que são descritas pelos nove qualificativos do Dr. Corduan. As culturas mais primitivas são as que dão maiores provas do monoteísmo original.

Os antropólogos Dr. Wilhelm Schmidt, autor do tratado de 4.000 páginas, The Origin and Growth of Religion, e, mais recentemente, Don Richardson, autor de Eternity in Their Hearts,* documentaram esse fato nas centenas de culturas que estudaram. Eles descobriram que a religião de algumas das culturas mais antigas era monoteísta e praticava pouco ou nenhuma forma de animismo ou magia. Em quase todas as culturas do mundo, a religião de uma cultura particular começou com o conceito de um Deus criador masculino que vive nos céus. Ele estabeleceu uma lei moral pela qual os homens entrariam em relacionamento com ele. Essa relação foi quebrada quando os homens tornaram-se desobedientes, e à medida que deteriorava, eles se distanciavam do criador e seu conhecimento sobre ele se desvanecia. À medida que a civilização avançava, eles começaram a cultuar outros deuses inferiores. Em sua busca para sobreviver num mundo cheio de forças espirituais, eles desejavam poder para manipular essas forças, e assim houve um aumento do uso da magia.

Esta teoria se encaixa muito bem com o que é revelado na Escritura. Gênesis ensina que Deus criou o homem e que o homem vivia de acordo com o seu conhecimento de Deus e de Suas leis. Contudo, a partir do primeiro ato de desobediência de Adão, a humanidade prosseguiu em sua senda pecaminosa para longe de Deus. Paulo resume essa teoria em Romanos 1. A teoria do monoteísmo original é a mais coerente com a Escritura e parece ter forte apoio histórico.

Exemplos de Monoteísmo Original

Eis alguns exemplos. A Encyclopedia of Religion and Ethics afirma que a cultura chinesa antes do Confucionismo, Budismo e Taoísmo, 2.600 anos antes de Cristo, cultuava Shang Ti. Eles compreendiam que Ele era o criador e legislador. Acreditavam que Ele nunca devia ser representado por um ídolo. Quando a Dinastia Zhou controlava a China, durante os anos de 1.066 a 770 a.C., o culto de Shang Ti foi substituído pelo culto do próprio céu, e eventualmente as outras três religiões proliferaram na China.

Em uma região ao norte de Calcutá, na Índia, vivia o povo Santal. Descobriu-se que eles cultuavam elementos da natureza. Contudo, antes que estas práticas se desenvolvessem, eles cultuavam Thakur Jiu, o Deus verdadeiro que criou todas as coisas. Embora soubessem que Thakur Jiu fosse o verdadeiro Deus, a tribo deixou de cultuá-Lo e começou a se envolver no espiritismo e no culto de deuses inferiores que governavam sobre algum aspecto da criação.

Na Etiópia, o povo Gedeo chega aos milhões e vive em diferentes tribos. Este povo sacrifica a espíritos maus por medo. Porém, por detrás dessa prática está uma crença mais antiga em Magano, o único e onipotente criador.

Os incas da América do Sul também possuíam essa mesma crença. Alfred Metraux, autor de History of the Incas, descobriu que os incas cultuavam originalmente Viracocha, o Senhor, o criador onipotente de todas as coisas. O culto de Inti, o deus sol, e de outros deuses, são apenas afastamentos recentes dessa crença monoteísta.

Estes exemplos seguem a descrição de Paulo em Romanos 1, onde ele afirma que os homens se afastaram do culto do criador para o culto da criação.

Monoteísmo Original e a Revolução Missionária

Se o monoteísmo original é verdadeiro, deveria causar impacto em nossa estratégia de missões.4 De fato, essa teoria tem causado um impacto tremendo sobre as estratégias evangelísticas em todo o mundo.

O livro de Don Richardson, Eternity in Their Hearts,* ilustra como essa teoria moldou o esforço missionário na China e na Coréia. Na China antiga, o Senhor dos Céus era referido como Shang Ti. Na Coréia, ele era referido como Hananim.

Através dos séculos, os chineses se afastaram do culto de Shang Ti e adotaram as crenças do Confucionismo, Taoísmo e Budismo, que ensinavam o culto dos ancestrais e de Buda. Contudo, mesmo após dois mil anos, os chineses ainda mencionavam o nome de Shang Ti.

Os primeiros missionários cristãos na China chegaram no século oitavo a.D. Nos anos que se seguiram, ao invés de se aproveitar do testemunho monoteista residual que já havia naquela terra, os missionários impuseram um nome completamente estranho ao Deus dos céus. Eles enfatizaram que o Deus da Bíblia era estranho e completamente distinto de qualquer Deus de que os chineses tivessem ouvido falar antes. Conforme escreve Don Richardson: “Aqueles que assumiram essa posição entenderam completamente errado a situação real.”5 Os missionários católico-romanos adotaram novos termos, como Tien Ju, (Mestre do Céu) ou Tien Laoye para Deus na língua chinesa.

Quando chegaram os missionários protestantes, estes debateram sobre se deveriam usar Shang Ti ou algum outro termo para o Todo-poderoso. Alguns defendiam que deveria haver um novo nome para algo novo. Aqueles que preferiram usar Shang Ti não tiraram vantagem do sentido pleno por detrás do termo. Em consequência, os missionários protestantes não causaram tão grande impacto sobre a China como fizeram na Coréia.

Em 1884, missionários protestantes entraram na Coréia. Depois de estudar a cultura, eles acreditaram que Hananim fosse o testemunho residual de Deus. Quando esses missionários começaram a pregar utilizando esse testemunho remanescente, sua mensagem foi recebida entusiasticamente. Ao invés de introduzir um Deus estranho do ocidente, eles estavam reapresentando aos nativos o Senhor de seus antepassados, o qual eles estavam interessados em conhecer. Os missionários católicos que estiveram na Coréia durante décadas ainda empregavam designações para Deus a partir de frases chinesas como Tien Ju. Em consequência, o povo coreano respondeu à mensagem dos missionários protestantes e o Cristianismo se espalhou por todo o país de forma explosiva.

Paulo escreve em Atos 14: “No passado, ele (Deus) deixou todas as nações seguirem seu próprio caminho. Contudo, não se deixou a si mesmo sem testemunho” (vv. 16-17). O fato de todas as culturas terem esse testemunho residual tem causado — e deveria continuar a causar — um impacto sobre o movimento missionário por todo o mundo.

Notas
  1. Ver Winfried Corduan, Neighboring Faiths, (Downers Grove, Ill.: InterVarsity Press, 1998), 22-23.
  2. Ibid., 24.
  3. Ibid., 33.
  4. Don Richardson, Eternity in Their Hearts (Ventura: Calif.: Regal Books, 1984), 33-71.
  5. Ibid., 67.
Bibliografia
1.          Anderson, Norman. The World's Religions. Grand Rapids, Mich.: Eerdmans Publishing, 1991.
2.          ________. Christianity and the World Religions. Downers Grove, Ill.: InterVarsity Press, 1984.
3.          Corduan, Winfried. A Tapestry of Faiths. Downers Grove, Ill.: InterVarsity Press, 2002.
4.          ________. Neighboring Faiths. Downers Grove, Ill.: InterVarsity Press, 1998.
5.          De Vries, Jan. Perspectives in the History of Religions. Los Angeles: University of California Press, 1967.
6.          Kitagawa, Joseph, ed. The History of Religions. New York: Macmillan Publishing, 1985.
7.          Morris, Brian. Anthropological Studies of Religion. London: Cambridge University Press, 1987.
8.          Noss, David & John Noss. Man's Religion, 7th Edition. New York: Macmillan Publishing, 1984.
9.          Parrinder, Geoffrey. World Religions. New York: Facts on File Publications, 1983.
10.     Richardson, Don. Eternity in Their Hearts. Ventura, CA.: Regal Books, 1984.
11.     Smart, Ninian. The Religious Experience of Mankind. New York: Charles Scribner's Sons, 1984.
12.     Schmidt, Wilhelm. The Origin and Growth of Religion: Facts and Theories. New York: Cooper Square Publishers, 1972.

* Traduzido em português com o título O Fator Melquisedeque (Editora Vida).

Fonte: Probe Ministries (http://www.probe.org)
Tradução: Rodrigo Reis de Faria

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