Pat Zuckeran
Qual é
a origem da religião? Por que todas as culturas do mundo adoram um ser
divino? Os antropólogos e historiadores têm estudado essa questão e,
atualmente, existem três teorias principais: a teoria subjetiva, a teoria
evolucionista e a teoria do monoteísmo original.
A
teoria subjetiva ensina que a religião se origina com o homem. Os seres humanos
têm uma necessidade psicológica de um ser transcendente que dê sentido e
esperança à sua existência neste universo vasto e impessoal. Os aderentes desta
opinião acreditam que essa composição religiosa existe sob a nossa consciência.
As culturas têm várias concepções da realidade de acordo com sua própria
experiência, mas a consciência e o desejo pela religião é um fenômeno
universal. Assim, eles concluem que essa disposição está em nosso subconsciente. Em
outras palavras, nossas crenças sobre um ser transcendental não são o resultado
de realidades externas ou interações com esse ser. Antes, essas crenças derivam
da nossa psiquê.
Esses
sentimentos são expressos em termos mais concretos através de símbolos e
atitudes, e não através de um conjunto de sistemas de crenças definidos. À
medida que uma cultura progride, esses símbolos e atitudes se desenvolvem num
conjunto de crenças e práticas.
Houve
vários proponentes importantes na promoção desta teoria. Friedrich
Schleiermacher acreditava que a religião começou com um sentimento de
dependência. Isto levou à necessidade de um objeto do qual depender, o que
resultou na idéia de Deus. Ludwig Feuerbach ensinava que o conceito de Deus é
na realidade a imagem de uma pessoa idealizada. Sigmund Freud acreditava que
Deus derivou da necessidade humana básica de uma imagem paterna. A figura do
pai idealizado torna-se nossa imagem de Deus.1
A
teoria subjetiva pode nos ensinar sobre a natureza humana, mas não explica
adequadamente a origem da religião, ou de onde vem esse desejo universal de
conhecer e compreender a Deus. Dr. Winfried Corduan escreve: “Eu posso trazer em
minha mente subconsciente uma representação abstrata de Deus, mas eu não posso
nessa base concluir que não haja um ser objetivo, que exista independentemente,
que seja Deus. Deus pode ter me criado com essa idéia para que eu possa me
relacionar com Deus.”2 Todo efeito tem uma causa. Qual é a causa
desse forte desejo de um relacionamento com Deus? Se somos o produto de um
criador divino, isso explicaria esse impulso universal de toda a humanidade
para conhecê-Lo, porque Ele colocou esse desejo em nós.
A
Bíblia dá respostas às questões que a teoria subjetiva não pode responder.
Gênesis 1 declara que somos criados à imagem de Deus. Portanto, fomos criados à
imagem de Deus com a intenção de termos um relacionamento com Ele. Romanos 1:20
declara que todos os homens têm arraigado em seus corações um conhecimento de
Deus. O capítulo 2 afirma que nossa consciência testifica que existe um
legislador moral. O anelo por Deus é uma parte fundamental da natureza humana.
A Teoria Darwinista da
Religião
A
segunda teoria a respeito da origem da religião é a abordagem evolucionista.
Esta é a opinião mais popular ensinada ou subentendida no estudo da religião.
Os proponentes desta teoria acreditam, assim como na teoria subjetiva, que a
religião se origina com o homem. A religião é o resultado de um processo
evolucionário da cultura humana.
No
período mais primitivo de uma cultura, a forma mais fundamental de religião
começa com um sentimento inato de que existe uma força espiritual. Essa força é
impessoal e permeia toda a criação. É chamada mana (derivada do nome dado pelos habitantes da Melanésia). O mana
pode estar concentrado mais intensamente em algumas áreas e objetos do que em
outros. Uma grandiosa árvore, ou uma rocha incomum, ou certo animal, podem
conter uma concentração mais elevada de mana.
O
objetivo é manipular essa força para que se possa alcançar um resultado
desejado. Objetos como varinhas ou bonecas, chamados fetiches, podem conter a força e ser usados ou cultuados.
O
próximo estágio é o animismo. Nesse estágio, a força é visualizada como
espíritos pessoais. O animismo ensina que um espírito ou força espiritual
encontra-se além de cada evento, e muitos objetos do mundo físico trazem algum
significado espiritual.
Existem
duas categorias de espíritos: espíritos da natureza e espíritos ancestrais.
Os espíritos da natureza têm uma forma humana e habitam em objetos naturais como
plantas, rochas ou lagos. Os espíritos ancestrais são os espíritos dos
antepassados. Ambas as categorias de espíritos são limitadas em conhecimento, poder
e presença. É necessário manter uma relação favorável com os espíritos, ou senão sofrer a sua ira.
O
próximo estágio é o politeísmo. As culturas progridem da crença em espíritos
finitos até o culto de deuses. A partir do politeísmo, uma cultura evolui para
o henoteísmo, que é a crença em muitos deuses, mas o culto direcionado a apenas
um único deles. O estágio final é o monoteísmo, o culto de um único Deus.
Existem
vários problemas com essa teoria. O primeiro é que esses estágios de
desenvolvimento nunca foram realmente observados. Não existe nenhum registro de
uma cultura movendo-se na sequência do estágio do mana até o estágio monoteísta, tal como descrito no modelo
evolucionista. Com o mana e o
animismo, os proponentes evolucionistas esperavam que as culturas nesses estágios
estivessem livres da noção de qualquer deus. Contudo, este não é o caso. As
culturas animistas têm deuses, e a maioria possui uma crença em um ser supremo.
Finalmente, há evidência que indica que as religiões na realidade
desenvolvem na direção contrária do modelo evolucionista.
Por
essas razões, as teorias subjetiva e evolucionista não dão uma explicação
adequada para a origem da religião. Será que a história, ou mesmo a Bíblia nos
dão uma resposta melhor?
O Monoteísmo Original
O
terceiro modelo para a origem da religião é o monoteísmo original. Esta teoria
ensina que a religião se origina em Deus revelando-Se ao homem. A primeira
forma que a religião assume é o monoteísmo, e desvia-se a partir daí. Dr.
Winfried Corduan identifica nove características da primeira forma de religião
do homem:
- Deus é um Deus
pessoal.
- Ele é referido em
gramática e com qualidades masculinas.
- Acredita-se que
Deus vive no céu.
- Ele tem grande
conhecimento e poder.
- Ele criou o mundo.
- Deus é o autor dos
padrões de bem e mal.
- Os seres humanos
são criaturas de Deus e devem viver de acordo com seus padrões.
- Os seres humanos se
alienaram de Deus desobedecendo aos seus padrões.
- Finalmente, Deus
preparou um modo de superar a alienação. Originalmente, envolvia o
sacrifício de animais sobre um altar de pedra não lapidada.3
Estudos
sobre as culturas do mundo têm revelado que cada uma apresenta um vestígio de
crenças monoteístas que são descritas pelos nove qualificativos do Dr. Corduan.
As culturas mais primitivas são as que dão maiores provas do monoteísmo
original.
Os
antropólogos Dr. Wilhelm Schmidt, autor do tratado de 4.000 páginas, The Origin and Growth of Religion, e,
mais recentemente, Don Richardson, autor de Eternity
in Their Hearts,* documentaram esse fato nas centenas de culturas que
estudaram. Eles descobriram que a religião de algumas das culturas mais antigas
era monoteísta e praticava pouco ou nenhuma forma de animismo ou magia. Em
quase todas as culturas do mundo, a religião de uma cultura particular
começou com o conceito de um Deus criador masculino que vive nos céus. Ele
estabeleceu uma lei moral pela qual os homens entrariam em relacionamento com ele.
Essa relação foi quebrada quando os homens tornaram-se desobedientes, e à
medida que deteriorava, eles se distanciavam do criador e seu conhecimento
sobre ele se desvanecia. À medida que a civilização avançava, eles começaram a
cultuar outros deuses inferiores. Em sua busca para sobreviver num mundo cheio
de forças espirituais, eles desejavam poder para manipular essas forças, e
assim houve um aumento do uso da magia.
Esta
teoria se encaixa muito bem com o que é revelado na Escritura. Gênesis ensina
que Deus criou o homem e que o homem vivia de acordo com o seu conhecimento de
Deus e de Suas leis. Contudo, a partir do primeiro ato de desobediência de
Adão, a humanidade prosseguiu em sua senda pecaminosa para longe de Deus. Paulo
resume essa teoria em Romanos 1. A teoria do monoteísmo original é a mais
coerente com a Escritura e parece ter forte apoio histórico.
Exemplos de Monoteísmo
Original
Eis
alguns exemplos. A Encyclopedia of
Religion and Ethics afirma que a cultura chinesa antes do Confucionismo,
Budismo e Taoísmo, 2.600 anos antes de Cristo, cultuava Shang Ti. Eles
compreendiam que Ele era o criador e legislador. Acreditavam que Ele nunca
devia ser representado por um ídolo. Quando a Dinastia Zhou controlava a China,
durante os anos de 1.066 a 770 a.C., o culto de Shang Ti foi substituído pelo
culto do próprio céu, e eventualmente as outras três religiões proliferaram na
China.
Em uma
região ao norte de Calcutá, na Índia, vivia o povo Santal. Descobriu-se que eles
cultuavam elementos da natureza. Contudo, antes que estas práticas se
desenvolvessem, eles cultuavam Thakur Jiu, o Deus verdadeiro que criou todas as coisas.
Embora soubessem que Thakur Jiu fosse o verdadeiro Deus, a tribo deixou de
cultuá-Lo e começou a se envolver no espiritismo e no culto de deuses inferiores que
governavam sobre algum aspecto da criação.
Na
Etiópia, o povo Gedeo chega aos milhões e vive em diferentes tribos. Este povo
sacrifica a espíritos maus por medo. Porém, por detrás dessa prática está uma
crença mais antiga em Magano, o único e onipotente criador.
Os
incas da América do Sul também possuíam essa mesma crença. Alfred Metraux, autor de History of the Incas, descobriu que os
incas cultuavam originalmente Viracocha, o Senhor, o criador onipotente de
todas as coisas. O culto de Inti, o deus sol, e de outros deuses, são apenas
afastamentos recentes dessa crença monoteísta.
Estes
exemplos seguem a descrição de Paulo em Romanos 1, onde ele afirma que os
homens se afastaram do culto do criador para o culto da criação.
Monoteísmo Original e a
Revolução Missionária
Se o
monoteísmo original é verdadeiro, deveria causar impacto em nossa estratégia de
missões.4 De fato, essa teoria tem causado um impacto tremendo sobre
as estratégias evangelísticas em todo o mundo.
O livro
de Don Richardson, Eternity in Their Hearts,* ilustra como essa teoria moldou o esforço missionário na China e na Coréia.
Na China antiga, o Senhor dos Céus era referido como Shang Ti. Na Coréia, ele
era referido como Hananim.
Através
dos séculos, os chineses se afastaram do culto de Shang Ti e adotaram as
crenças do Confucionismo, Taoísmo e Budismo, que ensinavam o culto dos
ancestrais e de Buda. Contudo, mesmo após dois mil anos, os chineses ainda
mencionavam o nome de Shang Ti.
Os
primeiros missionários cristãos na China chegaram no século oitavo a.D. Nos
anos que se seguiram, ao invés de se aproveitar do testemunho monoteista residual
que já havia naquela terra, os missionários impuseram um nome completamente estranho
ao Deus dos céus. Eles enfatizaram que o Deus da Bíblia era estranho e
completamente distinto de qualquer Deus de que os chineses tivessem ouvido
falar antes. Conforme escreve Don Richardson: “Aqueles que assumiram essa
posição entenderam completamente errado a situação real.”5 Os
missionários católico-romanos adotaram novos termos, como Tien Ju, (Mestre do
Céu) ou Tien Laoye para Deus na língua chinesa.
Quando
chegaram os missionários protestantes, estes debateram sobre se deveriam usar
Shang Ti ou algum outro termo para o Todo-poderoso. Alguns defendiam que
deveria haver um novo nome para algo novo. Aqueles que preferiram usar Shang Ti
não tiraram vantagem do sentido pleno por detrás do termo. Em consequência,
os missionários protestantes não causaram tão grande impacto sobre a China como
fizeram na Coréia.
Em
1884, missionários protestantes entraram na Coréia. Depois de estudar a
cultura, eles acreditaram que Hananim fosse o testemunho residual de Deus. Quando
esses missionários começaram a pregar utilizando esse testemunho remanescente,
sua mensagem foi recebida entusiasticamente. Ao invés de introduzir um Deus
estranho do ocidente, eles estavam reapresentando aos nativos o Senhor de seus
antepassados, o qual eles estavam interessados em conhecer. Os missionários
católicos que estiveram na Coréia durante décadas ainda empregavam designações
para Deus a partir de frases chinesas como Tien Ju. Em consequência, o povo
coreano respondeu à mensagem dos missionários protestantes e o Cristianismo se
espalhou por todo o país de forma explosiva.
Paulo
escreve em Atos 14: “No passado, ele (Deus) deixou todas as nações seguirem seu
próprio caminho. Contudo, não se deixou a si mesmo sem testemunho” (vv. 16-17).
O fato de todas as culturas terem esse testemunho residual tem causado — e
deveria continuar a causar — um impacto sobre o movimento missionário por todo
o mundo.
Notas
- Ver Winfried Corduan, Neighboring Faiths, (Downers Grove, Ill.: InterVarsity Press,
1998), 22-23.
- Ibid., 24.
- Ibid., 33.
- Don Richardson, Eternity in Their Hearts
(Ventura: Calif.: Regal Books, 1984), 33-71.
- Ibid., 67.
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Rapids, Mich.: Eerdmans Publishing, 1991.
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World Religions. Downers Grove, Ill.: InterVarsity Press, 1984.
3.
Corduan, Winfried. A Tapestry of Faiths. Downers
Grove, Ill.: InterVarsity Press, 2002.
4.
________. Neighboring Faiths. Downers
Grove, Ill.: InterVarsity Press, 1998.
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12.
Schmidt, Wilhelm. The Origin and Growth of
Religion: Facts and Theories. New York: Cooper Square Publishers, 1972.
Tradução:
Rodrigo Reis de Faria
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