Alden Bass
A palavra hindu originou-se, não como nome de uma religião, e sim como um indicador
geográfico. Hindu deriva-se da
palavra sânscrita para rio, sindhu, da
qual o rio Indo recebeu seu nome. Em algum momento no primeiro milênio a.C., os
persas, que eram então os vizinhos mais próximos do Sul da Ásia, pronunciaram
mal sindhu, e designaram a terra em
torno do rio Indo como hindu. Mais de
mil anos depois, em 712 a.D., os muçulmanos invadiram o Vale do Indo. Para se
distinguirem, eles chamaram todos os não-muçulmanos de hindus; o nome da terra
tornou-se, por tabela, o nome do povo e de sua religião (Schoeps, 1966, p.
148). Os cristãos, ao entrarem no Hindustão (como era então chamado), cometeram
o mesmo erro de reducionismo. Pela sua perspectiva, os indígenas eram todos
pagãos idólatras, por isso apelidaram os indianos de gentoo, uma sincronização depreciativa de “gentio” e “hindu”.
Assim, o nome hindu originalmente foi
dado por estrangeiros para denotar um território geográfico, mas através da
invasão de diversos outros grupos religiosos, passou a incluir todas as
religiões nativas do Sudeste Asiático.
Como demonstra a história do seu
nome, a unidade da religião indiana tem sido imposta por estrangeiros –
primeiro pelos muçulmanos, depois cristãos e, bem mais tarde, pelos
colonizadores britânicos que, através dos seus censos, involuntariamente materializaram
os povos do Sul da Ásia sob essa bandeira. Foi somente nos últimos dois séculos
que o povo indiano adotou o nome hindu como propriamente seu, ainda que dois
indianos raramente usem a palavra com o mesmo significado. Alguns estudiosos
sugerem que é mais apropriado falar de “hinduísmos” do que arriscar-se a pronunciar
um falso senso de unidade.
A gênese do Hinduísmo é praticamente
tão evasiva quanto sua definição contemporânea. Ao contrário do Islam, que
começou com Mohamed, ou do Judaísmo, que começou com Moisés, o Hinduísmo não
tem um fundador, nem algum tempo ou lugar tradicional de origem; ele “surge da
floresta” como um sistema religioso em constante desenvolvimento. Os estudiosos
discutem a fonte primária do que se tornaria a religião hindu, embora todos
concordem que diversas culturas tiveram alguma influência. Basham, Buitenen e
Doniger sugerem que o hinduísmo antigo evoluiu a partir de, pelo menos, três
antecedentes: “um elemento primitivo comum à maioria das tribos indo-européias;
um elemento mais recente tido em comum com os iranianos primitivos; e um
elemento adquirido no próprio subcontinente indiano” (Basham, et al., 1997). A
mais antiga destas influências são os símbolos e divindades nativos do Vale do
Indo, parte da antiga e obscura cultura drávida. Os arqueólogos datam esta
magnífica sociedade do terceiro milênio a.C., fazendo dela uma das mais antigas
civilizações conhecidas. Esta data antiga também situa a religião do Indo mais
de mil anos antes da redação do Antigo Testamento, no tempo da Era Patriarcal.
Se a datação dos arqueólogos estiver correta, a civilização do Indo foi
estabelecida logo após o incidente da Torre de Babel. Os sítios arqueológicos
ao longo do Indo têm revelado muitas imagens em terracota semelhantes a deuses
e deusas da literatura védica, alguns dos quais ainda são adorados. Embora
abundem as estatuetas religiosas, os templos estão inexplicavelmente ausentes
das cidades do Indo. Como a escrita do Vale do Indo ainda falta ser decifrada,
grande parte da cultura e religião drávida continua sendo um mistério.
Os cristãos devem se perguntar
como a religião hindu se encaixa com a narrativa bíblica. O Islam surgiu do
Judaísmo e Cristianismo, e o Budismo derivou-se do Hinduísmo; o Hinduísmo é a
única grande religião que não tem uma explicação adequada quanto à sua origem.
Não existe nenhum texto substancial antes de 1000 a.C., e os textos depois de
1000 não contêm narrativas. O mais antigo destes é o Rig Veda, que não é nada
além do que uma coleção de hinos de louvor aos deuses, ao invés do registro de
um povo, como na Bíblia. Ao contrário das culturas ocidentais, que tendem a ver
o tempo como uma progressão linear, as religiões orientais geralmente
consideram o tempo como cíclico. Em conseqüência, elas enfatizam o eterno sobre
o transitório e histórico. Os estudiosos só podem reconstituir a religião
indiana mais antiga através da arqueologia, indícios em textos mais recentes, e
extrapolando a partir de tradições existentes. Usando estes mesmos recursos, os
estudiosos cristãos podem reinterpretar os dados disponíveis a fim de que a
religião hindu se encaixe em um esquema bíblico de história mundial. A
reconstrução da história antiga de qualquer civilização é, contudo,
experimental, e todos os projetos como este são, na melhor das hipóteses,
especulações inteligentes.
Os crentes na Bíblia esperariam
que todas as civilizações pós-datassem o Dilúvio universal, que destruiu todos
os seres humanos, exceto a família de Noé (Gênesis 7). Os povos que surgiram a
partir dos filhos de Noé espalharam-se então pela Terra, embora a Bíblia se
silencie no que diz respeito a quando e como. Embora seja possível que fossem
estabelecidas algumas colônias, o texto indica que a maioria das pessoas
permaneceram juntas na terra de Sinar (Gênesis 11:2), onde começaram a
construção daquela fatídica torre. A arrogância dos descendentes de Noé
despertou a ira de Deus, que, após ter confundido suas línguas, “espalhou-os sobre
a face de toda a terra” (Gênesis 11:9). Josefo escreveu que “cada colônia tomou
posse da terra em que repousaram e para a qual Deus os levou; de modo que todo
o continente se encheu deles, tanto nas regiões interiores como marítimas” (Antiguidades, I.v.1). A partir deste
ponto, o Antigo Testamento registra a história dos filhos de Abraão; os eventos
no restante do mundo só podem ser conhecidos através da história secular.
Devemos tentar remontar a origem do Hinduísmo até uma crença original no
verdadeiro Deus – uma crença transmitida a partir dos descendentes de Noé. Em
uma passagem particularmente descritiva da religião indiana, Paulo argumenta
que os gentios antigos conheciam a Deus, mas não “retiveram o conhecimento de
Deus”, antes mudaram “a glória do Deus incorruptível em uma imagem fabricada
como o homem corruptível – aves e quadrúpedes, e répteis” (Romanos 1:28, 33).
Evidência da digressão histórica
do culto a Deus Jeová para o culto da natureza e dos deuses da natureza
encontra-se nos textos e mitos antigos do Sul da Ásia. A mais antiga literatura
hindu, o Rig Veda, fala muitas vezes
do “Criador”, do “Único”, um Grande Deus acima de todos os outros deuses. Ele é
chamado Varuna, e está muito próximo do deus zoroastriano Ahura Mazdā (“Senhor
Sábio”) e do deus grego Urano (Ourania).
Embora seja um insignificante deus do mar no panteão atual, Varuna era um deus
proeminente no sistema antigo, e tema de muitos hinos do Rig Veda. Zwemer escreve que Varuna é “o mais impressionante dos
deuses védicos. Ele é o deus do céu pré-histórico, cuja natureza e atributos
apontam para uma concepção monoteísta muito antiga” (1945, p. 86). Este deus é
um deus ético, capaz de grande fúria ou misericordioso perdão de pecados. Note esta
passagem dos Vedas:
Não quero, Rei Varuna,
Descer à casa de barro;
Sê gracioso, poderoso senhor, e
poupa.
Qualquer erro que nós, homens,
cometemos contra a raça
Dos celestiais, ó Varuna, qualquer
lei
Tua que aqui quebramos por
negligência,
Por tal
transgressão não nos castigue, ó deus (Rig Veda VII.lxxxix.1-3).
Varuna já está em declínio lá pelo
tempo em que os Vedas foram consignados à escrita; Indra, um deus guerreiro,
ganha proeminência no período védico tardio. Contudo, mesmo nesse período,
Varuna é qualitativamente distinto de Indra e de todos os outros deuses que o
seguem na literatura védica; ele é menos antropomórfico e mais majestoso (cf.
Zwemer, p. 88). Outras divindades hindus agem como seres humanos, do mesmo modo
que os deuses gregos; contudo, Varuna está acima disso. Parece que este deus
encarna muitas das qualidades de Jeová, ainda que diluídas e distantes em
muitas centenas de milhas e anos.
Os mitos do hinduísmo antigo
contêm, do mesmo modo, ecos do passado distante semelhantes a Gênesis. Existem
vários mitos da criação diferentes, embora não exclusivos, nos Vedas (e ainda
mais na literatura posterior), mas em um dos escritos mais antigos, Indra é o
criador de todos. “Quem firmou a terra agitada, quem fez descansar as montanhas
quando estavam inquietas, quem mediu a vasta atmosfera, quem fixou o céu, ele,
ó povo, é Indra” (Rig Veda, II.xii.2).
Esta versão da criação por um deus pessoal é mais parecida com o relato do
Antigo Testamento do que com as formulações hindus posteriores. Hammer observa:
“No antigo mito da criação, Indra era visto como o agente pessoal da criação,
tirando a existência a partir da não-existência. Na especulação mais recente, o
‘Único Deus’, descrito em termos pessoais, dá lugar ao ‘Único’ – a força
impessoal da criação” (1982, p. 175). Na medida em que o tempo passava e o
verdadeiro Deus era esquecido, os mitos da criação tornarav-se mais
fantásticos, envolvendo serpentes gigantes e deuses de quatro bocas nascendo de
flores de lótus (Basham, et al., 1997).
Além dos mitos da criação,
subsiste uma história na tradição épica (escrita entre 300 a.C. e 300 a.D.) de
um grande dilúvio. Ele foi tão grande que “houve água em toda a parte, e as
águas cobriram o céu e o firmamento também” (Mahabharata III.clxxxvi.). O herói da história é Manu, que é
análogo ao Noé da história hebraica. Certo dia, um peixe de aproximou de Manu e
pediu-lhe proteção em troca de uma bênção (a tradição posterior identifica o
peixe como o deus Vishnu). Manu ajudou o peixe, que lhe deu o seguinte aviso:
O tempo
para a purificação deste mundo é chegado. Por isso, explico agora o que é bom
para ti! As divisões móveis e imóveis da criação, aquelas que têm o poder de
locomoção, e aquelas que não têm, de todas estas a terrível condenação agora se aproxima. Tu construirás
uma forte e sólida arca e a proverá
de uma grande corda. Por ela deverás ascender, ó grande Muni, com os sete Rishis, e
levar contigo todas as sementes
diferentes que foram enumeradas pelos regenerados Brahmanas nos tempos
passados, e separadamente e cuidadosamente deverás preservá-las ali (Mahabharata, III.clxxxvi).
Somente Manu sobreviveu ao grande
dilúvio, e a partir dele o mundo foi repovoado. A relação entre a história
hindu e o relato de Gênesis é fortalecida por vínculos etimológicos entre o
nome “Noé” e “Manu” (Sage, 2004).
A evidência a partir das tradições
literárias mais antigas da Índia revela que o Hinduísmo é uma corrupção da
verdadeira religião. Embora, durante a maior parte da sua existência, o
Hinduísmo tenha sido uma religião extremamente pluralista – sendo influenciado
originalmente por diversas culturas, e mais tarde por religiões vizinhas
(Islam, Budismo e Cristianismo) – parece que se originou do monoteísmo. O
famoso sanscritista de Oxford, Max Müller, escreveu: “Existe um monoteísmo que
precede o politeísmo do Veda; e mesmo nas invocações dos inúmeros deuses, a memória
de um Deus, único e infinito, irrompe em meio à fraseologia idolátrica tal como
o céu azul que é ocultado por nuvens passageiras” (conforme citado em Zwemer,
p. 87).
Referências
Basham,
Arthur, J.A.B van Buitenen, and Wendy Doniger (1997), “Hinduism,” Encyclopaedia
Britannica, 20:519-558.
Hammer,
Raymond (1982), “Roots: The Development of Hindu Religion,” Eerdmans’
Handbook to the World’s Religions (Grand Rapids, MI: Eerdmans).
Sage,
Bengt (2004), “Noah and Human Etymology,” [On-line], URL:
http://www.icr.org/pubs/imp/imp-083.htm.
Schoeps,
Hans-Jachim (1966), The Religions of Mankind (Garden City, NY:
Doubleday).
Zwemer,
Samuel (1945), The Origin of Religion (New York: Loizeaux Brothers).
Copyright
© 2004 Apologetics Press, Inc.
Fonte:
Apologetics Press (http://www.apologeticspress.org)
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