Patrick Zuckeran
Existe um debate contínuo entre os
estudiosos a respeito da exatidão histórica da Bíblia. Alguns acham que a
Bíblia é uma obra fabulosa e deveria ser lida como uma obra de ficção
literária. Outros acham que ela é uma obra histórica exata, divinamente
inspirada por Deus. A arqueologia tem representado um papel importante na
determinação da confiabilidade da Bíblia. Em um artigo anterior,* discutimos as
confirmações arqueológicas do Antigo Testamento. Neste, examineremos as
descobertas arqueológicas que têm confirmado a exatidão histórica do Novo
Testamento. Existe grande quantidade de evidências fora da Bíblia que confirmam
o relato a respeito de Jesus tal como consta nos Evangelhos.
É importante perceber, no entanto,
que é irrealista esperar que a arqueologia apóie todos os eventos e lugares do
Novo Testamento. Nossa perspectiva é procurar quais evidências existem e ver se
correspondem ou não com o Novo Testamento.
Confirmação Histórica acerca de Jesus
A primeira evidência vem dos
quatro Evangelhos que, por si mesmos, estão provados como sendo exatos.(1) Fora
do texto bíblico, existem diversas testemunhas também. O historiador judeu
Josefo (37 a 100 a.D.) registrou a história do povo judeu na Palestina de 70 a
100 a.D. Em sua obra Antiguidades, ele
declara:
Ora, por
esse tempo apareceu Jesus, um homem sábio, se é legítimo chamá-lo de um homem,
pois ele foi autor de obras assombrosas, um mestre de homens que recebem a
verdade com prazer. Ele atraía a si muitos judeus e muitos gentios. Ele era o
Cristo e, quando Pilatos, por sugestão dos principais dentre nós, fê-lo
condenar à cruz, aqueles que o amaram a princípio não o abandonaram. Pois ele
apareceu vivo de novo ao terceiro dia, tal como os divinos profetas haviam
predito, estas e dezenas de outras coisas maravilhosas a respeito dele; e a
tribo dos cristãos, assim chamada por causa dele, ainda hoje não está
extinta.(2)
Embora mencione Jesus de um modo
sarcástico, Josefo confirma os fatos de que Jesus fez muitos milagres
grandiosos, atraiu um séquito, foi crucificado, e foi proclamado vivo ao
terceiro dia.
Plínio, o Jovem, governador da
Bitínia, no noroeste da Turquia, dirigindo-se por carta ao Imperador Trajano em
112 a.D., escreve:
Eles
tinham o hábito de se encontrar em certo dia fixo, antes da alvorada, quando
cantavam um hino a Cristo como Deus, e se comprometiam por um juramento solene
a não cometer nenhuma obra má, mas a abster-se de toda a fraude, roubo e
adultério, nunca quebrar a sua palavra, ou negar uma responsabilidade quando chamados
a honrá-la; além do que era seu costume se separarem, e então se reunirem
novamente para participar de uma refeição, mas de qualidade ordinária e
simplória.
Um dos mais importantes
historiadores romanos foi Tácito. Em 115 a.D., ele registrou a perseguição de
Nero aos cristãos, durante a qual escreveu o seguinte:
Cristo,
de quem teve origem o nome, sofreu a pena máxima durante o reinado de Tibério, por
mãos de um dos nossos procuradores, Pôncio Pilatos, e uma superstição extremamente
perniciosa, assim reprimida no momento, irrompeu novamente não apenas na Judéia
... mas até mesmo em Roma.(3)
Existem mais de 39 fontes
extra-bíblicas que atestam mais de cem fatos concernentes à vida e ensinamentos
de Jesus.
Exatidão dos Evangelhos
A precisão dos Evangelhos tem sido
apoiada pela arqueologia. Os nomes de muitas cidades israelitas, eventos e
pessoas descritas neles agora têm sido identificados. Eis aqui alguns exemplos.
Os Evangelhos mencionam quatro
cidades costeiras adjacentes e bem povoadas, ao longo do Mar da Galiléia:
Cafarnaum, Betsaida, Corazim e Tiberíades. Jesus realizou muitos milagres nas
primeiras três cidades. Apesar deste testemunho, tais cidades rejeitaram Jesus
e por isso foram amaldiçoadas por Ele (Mateus 11:20-24; Lucas 10:12-16). Estas
cidades eventualmente desapareceram da história, e sua localização ficou
perdida durante séculos. O fim delas cumpre a condenação profética de Jesus.
Apenas recentemente a arqueologia
recuperou suas possíveis localidades. Acredita-se que Tell Hum seja Cafarnaum
(um “tell” é um morro ou terra elevada que se acumulou pela reconstrução
repetida e a longo prazo do mesmo local. Assentos de civilizações podem ser
encontrados em diferentes estratos). As localidades de Betsaida e Corazim ainda
continuam não confirmadas, mas acredita-se que o presente sítio em um tell a
1,5 milhas ao norte do litoral galileu seja Betsaida, enquanto acredita-se que
Tell Khirbet Kerezah, a 2,5 milhas a nordeste de Cafarnaum, seja Corazim.
Mateus 2 declara que Jesus nasceu
durante o reinado de Herodes. Ao ouvir que um rei havia nascido, o assustado
Herodes ordenou que todas as crianças abaixo dos dois anos fossem mortas. Sua
matança dos inocentes é consistente com os fatos históricos que descrevem o seu
caráter. Herodes era suspeitoso de qualquer um que pensasse que podia tomar seu
trono. Sua lista de vítimas incluía uma de suas dez esposas – que era sua
favorita – três dos seus filhos, um sumo sacerdote, um ex-rei, e dois dos seus
cunhados. Assim, sua brutalidade retratada em Mateus é consistente com sua
descrição na história antiga.
A exatidão de João também tem sido
atestada por descobertas recentes. Em João 5:1-5, Jesus cura um homem junto ao
Poço de Betesda. João descreve o poço como tendo cinco pórticos. Este lugar
esteve por muito tempo em disputa, até recentemente. A mais de doze metros abaixo
da terra, os arqueólogos descobriram um poço com cinco pórticos, e a descrição
da área adjacente se encaixa com a descrição de João. Em 9:7, João menciona
outro lugar há muito disputado, o Poço de Siloé. Contudo, este poço também foi
descoberto em 1897, confirmando a exatidão de João.
Evidência em favor de Pôncio
Pilatos, o governador que presidiu o julgamento de Jesus, foi descoberta em
Cesaréia Marítima. Em 1961, um arqueólogo italiano chamado Antonio Frova
escavou um fragmento de uma placa que fora usada como uma seção da escadaria
que levava ao Teatro de Cesaréia. A inscrição, registrada em latim, continha a
frase: “Pôncio Pilatos, Prefeito da Judéia, dedicou ao povo de Cesaréia um
templo em honra a Tibério”. Este templo é dedicado ao Imperador Tibério, que
reinou de 14 a 37 a.D. Isto se encaixa cronologicamente bem com o Novo
Testamento, que registra que Pilatos governou como procurador de 26 a 36 a.D.
Tácito, um historiador romano do primeiro século, também confirma a designação de
Pilatos pelo Novo Testamento. Ele escreve: “Cristo, de quem teve origem o nome,
sofreu a pena máxima durante o reinado de Tibério, por mãos de um dos nossos
procuradores, Pôncio Pilatos ...”.
Confirmação concernente à Crucificação
Todos os quatro Evangelhos dão
detalhes da crucificação de Cristo. Sua descrição exata desta prática romana
tem sido confirmada pela arqueologia. Em 1968, foi escavado um cemitério na
cidade de Jerusalém, contendo trinta e cinco corpos. Cada um dos homens havia sofrido
uma morte brutal, que os historiadores acreditam ter sido resultado do seu
envolvimento na revolta judaica contra Roma em 70 a.D.
A inscrição identificava certo
indivíduo como Yohannan Ben Ha'galgol. Estudos sobre os ossos, realizados por
osteologistas e médicos da Escola Médica de Hadassah, determinaram que o homem
tinha vinte e oito anos, media 1,73 metros, e tinha alguns leves defeitos
faciais devidos a uma fenda do palato.
O que intrigou os arqueólogos
foram as evidências de que este homem havia sido crucificado de um modo
semelhante à crucificação de Cristo. Um prego de sete polegadas havia sido
cravado através de seus pés, que foram voltados para fora, de modo que o cravo
pudesse ser martelado dentro tendão de Aquiles.
Os arqueólogos também descobriram
que pregos haviam sido cravados através dos seus antebraços inferiores. Uma
vítima de crucificação teria de levantar e abaixar seu corpo a fim de respirar.
Para fazer isto, ela precisava se apoiar sobre seus pés cravados e erguer-se
com seus braços. Os braços superiores de Yohannan estavam levemente desgastados,
indicando este movimento.
João registra que, para apressar a
morte de um prisioneiro, os executores quebravam as pernas da vítima, de modo
que ela não pudesse se erguer forçando com seus pés (19:31-33). As pernas de
Yohanan estavam esmagadas por um golpe que as quebrou abaixo do joelho. Os
Rolos do Mar Morto dizem que tanto judeus como romanos repugnavam a
crucificação devido à sua crueldade e humilhação. Os rolos também dizem que era
um castigo reservado aos escravos e qualquer que desafiasse os poderes políticos
de Roma. Isto explica por que Pilatos escolheu a crucificação como pena para
Jesus.
Em relação à crucificação, em 1878
uma placa de pedra foi encontrada em Nazaré com um decreto do Imperador
Cláudio, que reinou de 41 a 54 a.D. Ela dizia que as sepulturas não deviam ser incomodadas,
nem os corpos removidos. O castigo em outros decretos é leve, mas este ameaça
com a morte, e está perto do tempo da ressurreição. Isto provavelmente foi
devido a Cláudio investigar os distúrbios de 49 a.D. Certamente ele havia
ouvido falar da ressurreição e não queria nenhum incidente parecido. Este
decreto provavelmente foi preparado em conexão com a pregação dos apóstolos
acerca da ressurreição de Jesus, e o argumento judaico de que o corpo havia
sido roubado.
O historiador Talos escreveu em 52
a.D. Embora não reste nenhum de seus textos, sua obra é citada na de Júlio
Africano, Cronografia. Citando Talos
sobre a crucificação de Cristo, Africano declara: “Em todo o mundo, acometeu
uma escuridão mui terrível, e as rochas foram despedaçadas por um terremoto, e
muitos lugares na Judéia e em outros distritos foram abalados”.(4) Talos chama
esta escuridão, “como me parece sem razão, um eclipse do sol”.(5)
Todas as descobertas realizadas
são consistentes com os detalhes no relato da crucificação apresentado pelos
escritores dos Evangelhos. Estes fatos fornecem apoio indireto aos relatos
bíblicos a respeito da crucificação de Jesus e de que o túmulo estava vazio.
Exatidão Histórica de Lucas
Há algum tempo, os estudiosos não
viam os relatos históricos de Lucas em seu Evangelho e em Atos como exatos.
Parecia não haver evidência para diversas cidades, pessoas e localidades que
ele citava em suas obras. Contudo, os avanços arqueológicos têm revelado que
Lucas foi um historiador muito acurado, e que os dois livros que ele escreveu
continuam sendo documentos precisos de história.
Um dos maiores arqueólogos foi o
falecido Sir William Ramsay. Ele estudou sob a famosa e liberal escola
histórica alemã, na metade do século dezenove. Conhecida por sua erudição, esta
escola ensinava que o Novo Testamento não era um documento histórico. Com esta
premissa, Ramsay investigou as afirmações bíblicas na medida em que pesquisava
ao longo da Ásia Menor. O que ele descobriu fez com que invertesse sua visão
inicial. Ele escreve:
Eu
comecei com uma mente desfavorável a [Atos], pois a ingenuidade e aparente
perfeição da teoria de Tubingen de uma vez me havia completamente convencido.
Não cabia então, no meu curso de vida, investigar o assunto detalhadamente;
mas, mais recentemente, eu me via muitas vezes em contato com o Livro de Atos
como uma autoridade para a topografia, antiguidades, e sociedade da Ásia Menor.
Gradualmente, me ocorreu que, em vários detalhes, a narrativa demonstrava assombrosa
veracidade.(6)
A precisão de Lucas é demonstrada
pelo fato de que ele cita personagens históricos fundamentais na sequência de
tempo correta, bem como títulos corretos para os oficiais do governo em vários
lugares: em Tessalônica, politarcas; Éfeso, mordomos do templo; Chipre,
procônsul; e Malta, o principal da ilha.
No anúncio de Lucas acerca do
ministério público de Jesus (Lucas 3:1), ele menciona “Lisânias, tetrarca de
Abilene”. Os estudiosos questionavam a credibilidade de Lucas, visto que o
único Lisânias conhecido durante séculos foi um governador de Cálcis que
governou de 40 a 36 a.C. Contudo, foi encontrada uma inscrição datando do tempo
de Tibério – que governou de 14 a 37 a.D. – registrando a dedicação de um
templo que cita Lisânias como “tetraca de Abilene”, próxima a Damasco. Isto se
encaixa perfeitamente com o relato de Lucas.
Em Atos 18:12-17, Paulo foi
trazido diante de Gálio, procônsul da Acaia. Uma vez mais, a arqueologia
confirma este relato. Em Delfos, foi encontrada uma inscrição de uma carta do
Imperador Cláudio. Nela, ele diz: “Lúcio Júnio Gálio, meu amigo, e procônsul da
Acaia ...”.(7) Historiadores datam a inscrição de 52 a.D., o que corresponde ao
tempo da estada do apóstolo ali, em 51.
Em Atos 19:22 e Romanos 16:23,
Erasto, um cooperador de Paulo, é chamado de tesoureiro da cidade de Corinto.
Arqueólogos escavando um teatro coríntio em 1928 descobriram uma inscrição. Ela
diz: “Erasto, em troca do seu edilado, assentou o pavimento à sua própria
custa”. O pavimento fora assentado em 50 a.D. A designação do tesoureiro
descreve a obra de um edil coríntio.
Em Atos 28:7, Lucas dá a Públio, homem
importante da ilha de Malta, o título de “principal da ilha”. Os estudiosos
questionavam este estranho título e não o consideravam histórico. Inscrições
foram recentemente descobertas na ilha que, de fato, dão a Públio o título de
“principal”.
“Ao todo, Lucas cita trinta e duas
regiões, cinquenta e quatro cidades, e nove ilhas, sem erro”.(8) A. N.
Sherwin-White declara: “Para Atos, a confirmação de historicidade é esmagadora
... Qualquer tentativa de rejeitar sua historicidade básica agora deve parecer
absurda. Os historiadores romanos por muito tempo tiveram isto por certo”.(9)
O Sudário de Turim
Os Evangelhos registram que, após
a Sua crucificação, Jesus foi envolto em um longo tecido de linho e colocado no
túmulo (Mateus 27:59). João registra que, quando Pedro investigou o túmulo
vazio, encontrou o tecido fúnebre bem dobrado próximo onde Cristo havia jazido
(20:6-7).
Uma mortalha de linho chamada
Sudário de Turim, à mostra no Vaticano, tem sido declarada como sendo o tecido
fúnebre. Tem 4,5 metros de comprimento e 1,1 de largura. Nele há uma imagem com
pulsos e tornozelos perfurados que se acredita ser de Cristo.
A mortalha apareceu pela primeira
vez em público algum tempo depois de 1357, em Lirey, França. Um cavaleiro
chamado Geoffrey de Charny trouxera a mortalha para a França. Em 1453, a neta
de de Charny deu a mortalha ao Duque da Savóia, que então, em 1578, trouxe-o a
Turim, Itália. Em 1983, foi legado ao Vaticano.
Em 1898, Secondo Pia fotografou a
mortalha e acreditou que a imagem fosse uma imagem negativa, como a de uma
fotografia. Isto aumentou o mistério da mortalha, visto que a fotografia não
havia sido inventada durante a época medieval. Em 1973, um grupo de
especialistas confirmaram o fato de que nenhum pigmento de tinta fora
encontrado, nem mesmo sob ampliação. Para muitos, isto era prova da autenticidade
da mortalha.
O estudo mais extensivo foi
realizado em 1977. Uma equipe internacional de cientistas suíços, americanos e
italianos estudaram a mortalha durante cinco dias no Palácio Real de Savóia, em
Turim. Eles usaram seis toneladas de equipamentos e 2,5 milhões de dólares para
sua pesquisa. Foi um dos artefatos mais intensamente estudados de todos os
tempos.
O estudo não pode determinar a
autenticidade do tecido. Experimentos que se seguiram provaram que a imagem
continha sangue, bem como aragonita, um carbonato de cálcio especial que está
presente nos túmulos do primeiro século de Jerusalém. O criminologista suiço
Max Frei encontrou quarenta e oito amostras de pólen, dos quais sete poderiam
ter vindo de plantas da Palestina. A configuração do tecido era de sarja em
ziguezague, um estilo que existia em tempos antigos.
Embora estas descobertas apoiassem
a autenticidade da mortalha, outros achados testificaram em contrário. Em 1987,
a mortalha foi submetida ao teste do carbono 14 a fim de se verificar sua data.
Laboratórios em Oxford, Zurique e na Universidade do Arizona testaram o tecido.
O resultado indicou para a mortalha uma data no século quatorze. Esta conclusão
continua a ser desafiada, e testes futuros certamente virão. Outro problema é que
moedas cunhadas por Pôncio Pilatos foram colocadas sobre os olhos da figura.
Este não era um costume judaico, nem parece provável que José de Arimatéia ou
Nicodemos teriam colocado sobre os olhos de Jesus uma moeda com a imagem do
líder que o condenou.
Apesar de datar do século
quatorze, os cientistas ainda são incapazes de explicar como a imagem negativa
foi criada. A mortalha permanece um mistério, bem como uma lição para nós, como
crentes, de que não deveríamos pôr nossa fé em artigos misteriosos.
Notas
6.
William Ramsay, St. Paul the Traveler and the Roman Citizen (Grand
Rapids, MI: Baker Books, 1982), 8.
9.
A. N. Sherwin-White, Roman Society and Roman Law in the New Testament (Oxford:
Clarendon Press, 1963), 189.
© 2000 Probe Ministries.
* Confira Arqueologia e o Antigo Testamento.
Tradução: Rodrigo Reis de Faria
menos o sudário por favor .
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