terça-feira, 24 de julho de 2012

A Arqueologia e o Novo Testamento


Patrick Zuckeran

Existe um debate contínuo entre os estudiosos a respeito da exatidão histórica da Bíblia. Alguns acham que a Bíblia é uma obra fabulosa e deveria ser lida como uma obra de ficção literária. Outros acham que ela é uma obra histórica exata, divinamente inspirada por Deus. A arqueologia tem representado um papel importante na determinação da confiabilidade da Bíblia. Em um artigo anterior,* discutimos as confirmações arqueológicas do Antigo Testamento. Neste, examineremos as descobertas arqueológicas que têm confirmado a exatidão histórica do Novo Testamento. Existe grande quantidade de evidências fora da Bíblia que confirmam o relato a respeito de Jesus tal como consta nos Evangelhos.

É importante perceber, no entanto, que é irrealista esperar que a arqueologia apóie todos os eventos e lugares do Novo Testamento. Nossa perspectiva é procurar quais evidências existem e ver se correspondem ou não com o Novo Testamento.

Confirmação Histórica acerca de Jesus

A primeira evidência vem dos quatro Evangelhos que, por si mesmos, estão provados como sendo exatos.(1) Fora do texto bíblico, existem diversas testemunhas também. O historiador judeu Josefo (37 a 100 a.D.) registrou a história do povo judeu na Palestina de 70 a 100 a.D. Em sua obra Antiguidades, ele declara:

Ora, por esse tempo apareceu Jesus, um homem sábio, se é legítimo chamá-lo de um homem, pois ele foi autor de obras assombrosas, um mestre de homens que recebem a verdade com prazer. Ele atraía a si muitos judeus e muitos gentios. Ele era o Cristo e, quando Pilatos, por sugestão dos principais dentre nós, fê-lo condenar à cruz, aqueles que o amaram a princípio não o abandonaram. Pois ele apareceu vivo de novo ao terceiro dia, tal como os divinos profetas haviam predito, estas e dezenas de outras coisas maravilhosas a respeito dele; e a tribo dos cristãos, assim chamada por causa dele, ainda hoje não está extinta.(2)

Embora mencione Jesus de um modo sarcástico, Josefo confirma os fatos de que Jesus fez muitos milagres grandiosos, atraiu um séquito, foi crucificado, e foi proclamado vivo ao terceiro dia.

Plínio, o Jovem, governador da Bitínia, no noroeste da Turquia, dirigindo-se por carta ao Imperador Trajano em 112 a.D., escreve:

Eles tinham o hábito de se encontrar em certo dia fixo, antes da alvorada, quando cantavam um hino a Cristo como Deus, e se comprometiam por um juramento solene a não cometer nenhuma obra má, mas a abster-se de toda a fraude, roubo e adultério, nunca quebrar a sua palavra, ou negar uma responsabilidade quando chamados a honrá-la; além do que era seu costume se separarem, e então se reunirem novamente para participar de uma refeição, mas de qualidade ordinária e simplória.

Um dos mais importantes historiadores romanos foi Tácito. Em 115 a.D., ele registrou a perseguição de Nero aos cristãos, durante a qual escreveu o seguinte:

Cristo, de quem teve origem o nome, sofreu a pena máxima durante o reinado de Tibério, por mãos de um dos nossos procuradores, Pôncio Pilatos, e uma superstição extremamente perniciosa, assim reprimida no momento, irrompeu novamente não apenas na Judéia ... mas até mesmo em Roma.(3)

Existem mais de 39 fontes extra-bíblicas que atestam mais de cem fatos concernentes à vida e ensinamentos de Jesus.

Exatidão dos Evangelhos

A precisão dos Evangelhos tem sido apoiada pela arqueologia. Os nomes de muitas cidades israelitas, eventos e pessoas descritas neles agora têm sido identificados. Eis aqui alguns exemplos.

Os Evangelhos mencionam quatro cidades costeiras adjacentes e bem povoadas, ao longo do Mar da Galiléia: Cafarnaum, Betsaida, Corazim e Tiberíades. Jesus realizou muitos milagres nas primeiras três cidades. Apesar deste testemunho, tais cidades rejeitaram Jesus e por isso foram amaldiçoadas por Ele (Mateus 11:20-24; Lucas 10:12-16). Estas cidades eventualmente desapareceram da história, e sua localização ficou perdida durante séculos. O fim delas cumpre a condenação profética de Jesus.

Apenas recentemente a arqueologia recuperou suas possíveis localidades. Acredita-se que Tell Hum seja Cafarnaum (um “tell” é um morro ou terra elevada que se acumulou pela reconstrução repetida e a longo prazo do mesmo local. Assentos de civilizações podem ser encontrados em diferentes estratos). As localidades de Betsaida e Corazim ainda continuam não confirmadas, mas acredita-se que o presente sítio em um tell a 1,5 milhas ao norte do litoral galileu seja Betsaida, enquanto acredita-se que Tell Khirbet Kerezah, a 2,5 milhas a nordeste de Cafarnaum, seja Corazim.

Mateus 2 declara que Jesus nasceu durante o reinado de Herodes. Ao ouvir que um rei havia nascido, o assustado Herodes ordenou que todas as crianças abaixo dos dois anos fossem mortas. Sua matança dos inocentes é consistente com os fatos históricos que descrevem o seu caráter. Herodes era suspeitoso de qualquer um que pensasse que podia tomar seu trono. Sua lista de vítimas incluía uma de suas dez esposas – que era sua favorita – três dos seus filhos, um sumo sacerdote, um ex-rei, e dois dos seus cunhados. Assim, sua brutalidade retratada em Mateus é consistente com sua descrição na história antiga.

A exatidão de João também tem sido atestada por descobertas recentes. Em João 5:1-5, Jesus cura um homem junto ao Poço de Betesda. João descreve o poço como tendo cinco pórticos. Este lugar esteve por muito tempo em disputa, até recentemente. A mais de doze metros abaixo da terra, os arqueólogos descobriram um poço com cinco pórticos, e a descrição da área adjacente se encaixa com a descrição de João. Em 9:7, João menciona outro lugar há muito disputado, o Poço de Siloé. Contudo, este poço também foi descoberto em 1897, confirmando a exatidão de João.

Evidência em favor de Pôncio Pilatos, o governador que presidiu o julgamento de Jesus, foi descoberta em Cesaréia Marítima. Em 1961, um arqueólogo italiano chamado Antonio Frova escavou um fragmento de uma placa que fora usada como uma seção da escadaria que levava ao Teatro de Cesaréia. A inscrição, registrada em latim, continha a frase: “Pôncio Pilatos, Prefeito da Judéia, dedicou ao povo de Cesaréia um templo em honra a Tibério”. Este templo é dedicado ao Imperador Tibério, que reinou de 14 a 37 a.D. Isto se encaixa cronologicamente bem com o Novo Testamento, que registra que Pilatos governou como procurador de 26 a 36 a.D. Tácito, um historiador romano do primeiro século, também confirma a designação de Pilatos pelo Novo Testamento. Ele escreve: “Cristo, de quem teve origem o nome, sofreu a pena máxima durante o reinado de Tibério, por mãos de um dos nossos procuradores, Pôncio Pilatos ...”.

Confirmação concernente à Crucificação

Todos os quatro Evangelhos dão detalhes da crucificação de Cristo. Sua descrição exata desta prática romana tem sido confirmada pela arqueologia. Em 1968, foi escavado um cemitério na cidade de Jerusalém, contendo trinta e cinco corpos. Cada um dos homens havia sofrido uma morte brutal, que os historiadores acreditam ter sido resultado do seu envolvimento na revolta judaica contra Roma em 70 a.D.

A inscrição identificava certo indivíduo como Yohannan Ben Ha'galgol. Estudos sobre os ossos, realizados por osteologistas e médicos da Escola Médica de Hadassah, determinaram que o homem tinha vinte e oito anos, media 1,73 metros, e tinha alguns leves defeitos faciais devidos a uma fenda do palato.

O que intrigou os arqueólogos foram as evidências de que este homem havia sido crucificado de um modo semelhante à crucificação de Cristo. Um prego de sete polegadas havia sido cravado através de seus pés, que foram voltados para fora, de modo que o cravo pudesse ser martelado dentro tendão de Aquiles.

Os arqueólogos também descobriram que pregos haviam sido cravados através dos seus antebraços inferiores. Uma vítima de crucificação teria de levantar e abaixar seu corpo a fim de respirar. Para fazer isto, ela precisava se apoiar sobre seus pés cravados e erguer-se com seus braços. Os braços superiores de Yohannan estavam levemente desgastados, indicando este movimento.

João registra que, para apressar a morte de um prisioneiro, os executores quebravam as pernas da vítima, de modo que ela não pudesse se erguer forçando com seus pés (19:31-33). As pernas de Yohanan estavam esmagadas por um golpe que as quebrou abaixo do joelho. Os Rolos do Mar Morto dizem que tanto judeus como romanos repugnavam a crucificação devido à sua crueldade e humilhação. Os rolos também dizem que era um castigo reservado aos escravos e qualquer que desafiasse os poderes políticos de Roma. Isto explica por que Pilatos escolheu a crucificação como pena para Jesus.

Em relação à crucificação, em 1878 uma placa de pedra foi encontrada em Nazaré com um decreto do Imperador Cláudio, que reinou de 41 a 54 a.D. Ela dizia que as sepulturas não deviam ser incomodadas, nem os corpos removidos. O castigo em outros decretos é leve, mas este ameaça com a morte, e está perto do tempo da ressurreição. Isto provavelmente foi devido a Cláudio investigar os distúrbios de 49 a.D. Certamente ele havia ouvido falar da ressurreição e não queria nenhum incidente parecido. Este decreto provavelmente foi preparado em conexão com a pregação dos apóstolos acerca da ressurreição de Jesus, e o argumento judaico de que o corpo havia sido roubado.

O historiador Talos escreveu em 52 a.D. Embora não reste nenhum de seus textos, sua obra é citada na de Júlio Africano, Cronografia. Citando Talos sobre a crucificação de Cristo, Africano declara: “Em todo o mundo, acometeu uma escuridão mui terrível, e as rochas foram despedaçadas por um terremoto, e muitos lugares na Judéia e em outros distritos foram abalados”.(4) Talos chama esta escuridão, “como me parece sem razão, um eclipse do sol”.(5)

Todas as descobertas realizadas são consistentes com os detalhes no relato da crucificação apresentado pelos escritores dos Evangelhos. Estes fatos fornecem apoio indireto aos relatos bíblicos a respeito da crucificação de Jesus e de que o túmulo estava vazio.

Exatidão Histórica de Lucas

Há algum tempo, os estudiosos não viam os relatos históricos de Lucas em seu Evangelho e em Atos como exatos. Parecia não haver evidência para diversas cidades, pessoas e localidades que ele citava em suas obras. Contudo, os avanços arqueológicos têm revelado que Lucas foi um historiador muito acurado, e que os dois livros que ele escreveu continuam sendo documentos precisos de história.

Um dos maiores arqueólogos foi o falecido Sir William Ramsay. Ele estudou sob a famosa e liberal escola histórica alemã, na metade do século dezenove. Conhecida por sua erudição, esta escola ensinava que o Novo Testamento não era um documento histórico. Com esta premissa, Ramsay investigou as afirmações bíblicas na medida em que pesquisava ao longo da Ásia Menor. O que ele descobriu fez com que invertesse sua visão inicial. Ele escreve:

Eu comecei com uma mente desfavorável a [Atos], pois a ingenuidade e aparente perfeição da teoria de Tubingen de uma vez me havia completamente convencido. Não cabia então, no meu curso de vida, investigar o assunto detalhadamente; mas, mais recentemente, eu me via muitas vezes em contato com o Livro de Atos como uma autoridade para a topografia, antiguidades, e sociedade da Ásia Menor. Gradualmente, me ocorreu que, em vários detalhes, a narrativa demonstrava assombrosa veracidade.(6)

A precisão de Lucas é demonstrada pelo fato de que ele cita personagens históricos fundamentais na sequência de tempo correta, bem como títulos corretos para os oficiais do governo em vários lugares: em Tessalônica, politarcas; Éfeso, mordomos do templo; Chipre, procônsul; e Malta, o principal da ilha.

No anúncio de Lucas acerca do ministério público de Jesus (Lucas 3:1), ele menciona “Lisânias, tetrarca de Abilene”. Os estudiosos questionavam a credibilidade de Lucas, visto que o único Lisânias conhecido durante séculos foi um governador de Cálcis que governou de 40 a 36 a.C. Contudo, foi encontrada uma inscrição datando do tempo de Tibério – que governou de 14 a 37 a.D. – registrando a dedicação de um templo que cita Lisânias como “tetraca de Abilene”, próxima a Damasco. Isto se encaixa perfeitamente com o relato de Lucas.

Em Atos 18:12-17, Paulo foi trazido diante de Gálio, procônsul da Acaia. Uma vez mais, a arqueologia confirma este relato. Em Delfos, foi encontrada uma inscrição de uma carta do Imperador Cláudio. Nela, ele diz: “Lúcio Júnio Gálio, meu amigo, e procônsul da Acaia ...”.(7) Historiadores datam a inscrição de 52 a.D., o que corresponde ao tempo da estada do apóstolo ali, em 51.

Em Atos 19:22 e Romanos 16:23, Erasto, um cooperador de Paulo, é chamado de tesoureiro da cidade de Corinto. Arqueólogos escavando um teatro coríntio em 1928 descobriram uma inscrição. Ela diz: “Erasto, em troca do seu edilado, assentou o pavimento à sua própria custa”. O pavimento fora assentado em 50 a.D. A designação do tesoureiro descreve a obra de um edil coríntio.

Em Atos 28:7, Lucas dá a Públio, homem importante da ilha de Malta, o título de “principal da ilha”. Os estudiosos questionavam este estranho título e não o consideravam histórico. Inscrições foram recentemente descobertas na ilha que, de fato, dão a Públio o título de “principal”.

“Ao todo, Lucas cita trinta e duas regiões, cinquenta e quatro cidades, e nove ilhas, sem erro”.(8) A. N. Sherwin-White declara: “Para Atos, a confirmação de historicidade é esmagadora ... Qualquer tentativa de rejeitar sua historicidade básica agora deve parecer absurda. Os historiadores romanos por muito tempo tiveram isto por certo”.(9)

O Sudário de Turim

Os Evangelhos registram que, após a Sua crucificação, Jesus foi envolto em um longo tecido de linho e colocado no túmulo (Mateus 27:59). João registra que, quando Pedro investigou o túmulo vazio, encontrou o tecido fúnebre bem dobrado próximo onde Cristo havia jazido (20:6-7).

Uma mortalha de linho chamada Sudário de Turim, à mostra no Vaticano, tem sido declarada como sendo o tecido fúnebre. Tem 4,5 metros de comprimento e 1,1 de largura. Nele há uma imagem com pulsos e tornozelos perfurados que se acredita ser de Cristo.

A mortalha apareceu pela primeira vez em público algum tempo depois de 1357, em Lirey, França. Um cavaleiro chamado Geoffrey de Charny trouxera a mortalha para a França. Em 1453, a neta de de Charny deu a mortalha ao Duque da Savóia, que então, em 1578, trouxe-o a Turim, Itália. Em 1983, foi legado ao Vaticano.

Em 1898, Secondo Pia fotografou a mortalha e acreditou que a imagem fosse uma imagem negativa, como a de uma fotografia. Isto aumentou o mistério da mortalha, visto que a fotografia não havia sido inventada durante a época medieval. Em 1973, um grupo de especialistas confirmaram o fato de que nenhum pigmento de tinta fora encontrado, nem mesmo sob ampliação. Para muitos, isto era prova da autenticidade da mortalha.

O estudo mais extensivo foi realizado em 1977. Uma equipe internacional de cientistas suíços, americanos e italianos estudaram a mortalha durante cinco dias no Palácio Real de Savóia, em Turim. Eles usaram seis toneladas de equipamentos e 2,5 milhões de dólares para sua pesquisa. Foi um dos artefatos mais intensamente estudados de todos os tempos.
O estudo não pode determinar a autenticidade do tecido. Experimentos que se seguiram provaram que a imagem continha sangue, bem como aragonita, um carbonato de cálcio especial que está presente nos túmulos do primeiro século de Jerusalém. O criminologista suiço Max Frei encontrou quarenta e oito amostras de pólen, dos quais sete poderiam ter vindo de plantas da Palestina. A configuração do tecido era de sarja em ziguezague, um estilo que existia em tempos antigos.

Embora estas descobertas apoiassem a autenticidade da mortalha, outros achados testificaram em contrário. Em 1987, a mortalha foi submetida ao teste do carbono 14 a fim de se verificar sua data. Laboratórios em Oxford, Zurique e na Universidade do Arizona testaram o tecido. O resultado indicou para a mortalha uma data no século quatorze. Esta conclusão continua a ser desafiada, e testes futuros certamente virão. Outro problema é que moedas cunhadas por Pôncio Pilatos foram colocadas sobre os olhos da figura. Este não era um costume judaico, nem parece provável que José de Arimatéia ou Nicodemos teriam colocado sobre os olhos de Jesus uma moeda com a imagem do líder que o condenou.

Apesar de datar do século quatorze, os cientistas ainda são incapazes de explicar como a imagem negativa foi criada. A mortalha permanece um mistério, bem como uma lição para nós, como crentes, de que não deveríamos pôr nossa fé em artigos misteriosos.

Notas

1. Vede o artigo "A Autoridade da Bíblia" (sem previsão de tradução).
2. Josefo, Livro 18, Capítulo 3:3
3. Tacitus, Anais, 15.44
4. Júlio Africano, Cronografia, 18:1.
5. Ibid.
6. William Ramsay, St. Paul the Traveler and the Roman Citizen (Grand Rapids, MI: Baker Books, 1982), 8.
7. John McRay, Archaeology and the New Testament (Grand Rapids, MI.: Baker Books, 1991), 227.
8. Norman Geisler, Baker Encyclopedia of Apologetics (Grand Rapids, MI.: Baker Books, 1999), 47.
9. A. N. Sherwin-White, Roman Society and Roman Law in the New Testament (Oxford: Clarendon Press, 1963), 189.

© 2000 Probe Ministries.


Fonte: Probe Ministries (www.probe.org)
Tradução: Rodrigo Reis de Faria

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