Garry K. Brantley, M.A., M.Div.
“Toda a escritura é dada por
inspiração de Deus...” (2 Timóteo 3:16). Que afirmação! Este verso reivindica
que a Bíblia é o único produto literário de origem divina, não o resultado de
mero talento humano. Como tal, ela serviria justamente como o padrão último de
autoridade moral e religiosa da humanidade. Mas, será verdadeira esta
reivindicação? Através dos anos, estudiosos conservadores têm ordenado
evidências em apoio à reivindicação da Bíblia à inspiração, enquanto teólogos
liberais têm procurado desacreditar sua autoridade divina declarada. O debate
continua.
Descobertas arqueológicas têm
representado um papel importante nesta controvérsia contínua. Alguns estudiosos
sentem que as descobertas de antigos textos literários pagãos fornecem munição
efetiva para com ela atacar a reivindicação bíblica à inspiração. Por quê? Os
filólogos têm identificado formas lingüísticas e literárias comuns a textos
bíblicos e extra-bíblicos, o que sugere para alguns que a religião israelita –
ao invés de ser produto de orientação divina – foi adaptada a partir das
religiões pagãs vizinhas. Em particular, os textos escavados em Ras Shamra, que
datam do século quinze a.C., estão no coração desta contenda.
As Tabuinhas de Ras Shamra
Ras Shamra é o nome moderno da
antiga cidade de Ugarit. Antes de 1928, os arqueólogos não sabiam a localização
exata desta cidade. Na primavera daquele ano, um camponês sírio estava arando
um campo exatamente ao oriente de Ras Shamra. Seu arado acidentalmente colidiu
com uma rocha, que revelou ser uma pedra tumular. A presença deste cemitério
antigo sugeriu aos arqueólogos que havia uma cidade nas proximidades,
provavelmente oculta no tell (morro). Investigações adicionais revelaram que
esta suposição era verdadeira.
Claude F. A. Schaeffer do Museu de
Estrasburgo, e seu sócio George Chenet, começaram a escavação sistemática de
Ras Shamra, sob os auspícios do governo francês. Em maio de 1929, sua equipe
escavou as primeiras tabuinhas de barro contendo escrita cuneiforme (em formato
de cunha) desconhecida. Schaeffer, que não era um lingüista, confiou os textos
a Charles Virolleaud, um especialista nas línguas antigas daquela região.
Virolleaud imediatamente reconheceu a importância desses textos. O cuneiforme
destas tabuinhas recém-descobertas era diferente de qualquer um que ele havia
visto antes. Textos cuneiformes existentes antes desta descoberta continham
várias centenas de símbolos diferentes. As tabuinhas de Ugarit, porém,
continham menos de 30 caracteres distintos, o que sugeriu a Virolleaud que as
tabuinhas exibiam uma espécie de alfabeto cuneiforme.
Virolleaud fez pouco progresso na
decifração do texto nas primeiras semanas. Contudo, como um préstimo aos
estudiosos, ele publicou os textos, fornecendo tanto fotografias como cópias
das inscrições que seus colegas examinaram. Hans Bauer, professor de línguas
orientais na universidade alemã de Halle e especialista na área de
criptoanálise (decifração de códigos), conseguiu atribuir valores fonéticos a
aproximadamente oitenta por cento dos sinais apenas em cinco dias. Outros
estudiosos refinaram sua obra, e, a partir do verão de 1930, as tabuinhas de
Ras Shamra recuperadas pela equipe de Shaeffer puderam ser traduzidas e lidas
(para uma discussão acerca dos achados arqueológicos encontrados em Ras Shamra,
vede Craigie, 1983; Jackson, n.d.; Kapelrud, 1962; Pfeiffer, 1975).
Estudos Hebraico-Ugaríticos
Os arquivos de Ugarit revelaram
literalmente milhares de tabuinhas contendo várias línguas e tipos diferentes
de literatura. Os textos que prenderam a atenção dos estudiosos, porém, foram
aqueles que continham o cuneiforme alfabético. Os lingüistas chamam a língua
desta escrita de ugarítico, de acordo com a cidade antiga em que era usada. O
ugarítico é uma língua semítica do noroeste, linguisticamente bastante próxima
do hebraico bíblico. Esses textos ugaríticos têm causado uma influência
profunda nos estudos religiosos. Sua importância surge, não apenas pelas
relações lingüísticas, mas também pelas formas literárias comuns tanto ao
ugarítico como ao hebraico bíblico.
Os estudiosos quase que
imediatamente começaram a enfatizar essas semelhanças. Em 1934, apenas quatro
anos depois que Virolleaud publicou os textos, J. W. Jack cautelosamente
realçou os paralelos entre os textos ugaríticos e a Bíblia hebraica. Outros
estudiosos seguiram o exemplo. Tal análise literária comparativa eventualmente
deu origem a uma nova disciplina: estudos hebraico-ugaríticos. Esta disciplina
tem causado tanto efeitos positivos como negativos nos estudos bíblicos.
Efeitos Positivos
Do lado positivo, os textos
ugaríticos têm iluminado nosso entendimento acerca de palavras obscuras, e de
práticas religiosas pagãs que aparecem na Bíblia hebraica. Por exemplo, esses
textos têm auxiliado nosso entendimento acerca do termo “pastor” aplicado a
Amós (Amós 1:1). A palavra hebraica comum para pastor é ro’eh. Contudo, a palavra que descreve a ocupação de Amós é noqed, que aparece apenas em outra
passagem da Bíblia hebraica (2 Reis 3:4; vede Harris, 1980, 1:1410). Nos textos
ugaríticos, a palavra cognata nqd aparece
aproximadamente dez vezes, e designa um vendedor de ovelhas, ao invés de um
simples pastor. Portanto, pode ser que a ocupação de Amós o levasse aos
mercados do norte de Israel (para vender lã e carne de carneiro), onde se
envolveu no seu ministério profético (Craigie, 1983, 9[5]:73). Tais critérios lingüísticos
ajudam a responder à questão: por que Amós, do reino do sul de Judá, estava
particularmente familiarizado com as injustiças sociais de Israel (cf. Amós
2:7; 4:1; 8:5).
Além disso, as tabuinhas de Ras
Shamra aumentaram o nosso conhecimento acerca do baalismo, frequentemente
mencionado na Bíblia. Esses textos mitológicos associam Baal à chuva,
tempestade e fertilidade, e proclamam-no como “[o deus] Haddu, senhor da nuvem
tempestuosa” (Cross, 1973, p. 147; vede Kapelrud, 1962, 4:729; Pritchard, 1958,
1:92-118). Através da chuva, Baal supostamente fornecia solo fértil que
produzia colheitas das quais tanto os homens como os animais dependiam. Assim,
os adoradores de Baal procuravam manter sua supremacia para que suas colheitas
que sustentavam a vida pudessem continuar. Tais critérios sobre o baalismo
fornecidos por textos ugaríticos iluminam diversas narrativas bíblicas,
particularmente o debate de Elias com os profetas de Baal no Monte Carmelo (1
Reis 18; vede Long, 1990). Ali, Yahweh (isto é, Jeová) – não Baal – provou ser
o controlador da chuva e da tempestade (na forma do relâmpago que “caiu como
fogo”). Esses critérios ugaríticos sobre o baalismo aumentam a nossa
compreensão acerca daquele histórico debate.
Efeitos Negativos
Juntamente com essas valiosas
contribuições ugaríticas aos estudos bíblicos, surgiram alguns resultados
negativos. Particularmente, estudiosos liberais deram indevida importância às
semelhanças lingüísticas e literárias entre os textos míticos ugaríticos e
certas porções da Bíblia hebraica. Isto levou alguns estudiosos a objetarem que
“... em estudos comparativos da mitologia ugarítica e da literatura veterotestamentária
em geral, demasiada ênfase tem sido dada à semelhança ou ao ‘fato’ da
similaridade na forma ...” (Tsumura, 1988, 40:27). Tal ênfase excessiva impeliu
alguns estudiosos a concluírem que a religião israelita fosse uma mera
“javeização” das religiões pagãs (ou seja, atribuindo a Jeová o que as
religiões pagãs atribuíam aos seus deuses). Esses estudiosos argumentam que a
prova dessa adaptação aparece na Bíblia hebraica, particularmente em certas
seções poéticas (cf. Cross, 1973, 1992; Malamat, 1988).
Salmo 29, um exemplo clássico
Um texto bíblico particular – o
salmo 29 – tem sido submetido a extensas análises comparativas
hebraico-ugaríticas. Desde 1935, H. L. Ginsberg postulava um fundo cananita ou
fenício para este salmo (Malamat, 1988, 100[sup]:156). O consenso acadêmico
atual é de que o culto a Baal, tal como retratado nos textos ugaríticos, serviu
como pano de fundo para o salmo 29 (Craigie, 1983, 9[5]:73). Por exemplo, o
falecido Mitchell Dahood, que usou extensamente o ugarítico em seu comentário
clássico de três volumes sobre os Salmos, argumentava que o “reconhecimento [de
Ginsberg] de que este salmo é uma adaptação
javista de um hino cananita mais antigo ao deus da tempestade Baal ...” foi
“... corroborado pela subseqüente descoberta das tabuinhas em Ras Shamra e pelo
progresso na interpretação destes textos” (1966, 1:175, ênfase acrescentada).
Mais recentemente, A. Malamat, juntamente com a Universidade Hebraica de
Jerusalém, concluiu que este salmo “... é derivado de tradições que se reportam
até antes da Era do Bronze Tardia de Ugarit, a tempos da antiga Babilônia, ou
mesmo dos amoritas ...” (1988, 100[sup]:160). Ademais, Frank Moore Cross
sugeriu que o salmo 29 era um “hino a Baal ligeiramente revisado ...” e que é
representante de textos bíblicos nos quais sobrevive “pura mitologia” (1992,
8[5]:19).
Semelhanças
Os estudiosos baseiam tais
conclusões a respeito do pano de fundo do salmo 29 em semelhanças entre o mesmo
e textos míticos ugaríticos (e outros). Os arqueólogos têm escavado vários
fragmentos de tabuinhas contendo textos mitológicos poéticos nos quais Baal e
Anate (a deusa da guerra) representam os papéis principais. Em determinada
seção, o lirista pagão mencionava que o material para a construção do palácio
de Baal vinha do “... Líbano e de suas árvores, De Sirion seus cedros
preciosos” (Pritchard, 1958, 1:104). Em outra seção, Baal aparece como o
deus-tempestade, mandando raios com trovões (isto é, “sua voz sagrada”) à
Terra, que fazem seus “inimigos tremerem”. Este texto enfatiza o poder da voz
de Baal, que “convulsiona a terra” e faz as “montanhas tremerem” (Pritchard,
1958, 1:106).
Linguagem semelhante aparece no
salmo 29. Este salmo, assim como o hino a Baal, menciona os cedros do Líbano e
Sirion (v. 6). Além disso, o salmista enfatizou a voz de Jeová, que causava um
efeito semelhante na Terra ao que se atribuía a Baal (vv. 3-5, 7-9). O salmo 29
declara que a voz de Jeová “quebra os cedros” (v. 5), “faz tremer o deserto”
(v. 8), e “desnuda as florestas” (v. 9).
Considerações Úteis
Obviamente, existem algumas
semelhanças entre o salmo 29 e o hino a Baal. Mas, será que tais semelhanças
implicam em dependência literária e religiosa de Israel sobre as religiões
pagãs contemporâneas? As seguintes considerações poderiam ser úteis ao tratar
desta questão. Elas sugerem princípios que também se aplicarão a outros textos
bíblicos nos quais existem semelhanças com mitos pagãos.
Semelhança, não Dependência
Primeiro, o fato de que existam
algumas semelhanças entre a Bíblia hebraica e alguns mitos pagãos não implica
nem em dependência da primeira sobre os últimos, nem sentido sinônimo. John
Wheeler observa corretamente:
O perigo
básico ao comparar a Bíblia hebraica ... com textos religiosos de outras
culturas está em que a Bíblia usa linguagem semelhante para descrever coisas diferentes. A Bíblia tem o direito de ser interpretada pelo seu
próprio contexto, assim como qualquer outra obra literária ... Quando alguém
examina o salmo 29 cuidadosamente, à luz do restante da Escritura, os erros
sutis que surgem pelo uso de uma estrutura extra-bíblica para interpretar a
Bíblia podem ser percebidos (1992, 5[1]:28, ênfase acrescentada).
É uma exegese imprópria forçar
crenças pagãs para o texto bíblico simplesmente devido a semelhanças lingüísticas.
Ademais, como Leupold precisamente conclui: “Ninguém precisa ficar alarmado com
tais descobertas se tivermos em mente que dois tipos ligeiramente distintos de
língua cananita (ou hebraica) estão envolvidos. A menor de todas é a
dependência da produção hebraica em tal caso estabelecido” (1959, p. 17). A
Bíblia tem o direito de definir suas próprias palavras e conceitos; mitos
pagãos não são o fator determinante da interpretação bíblica.
Nem Um Só Paralelo
Segundo, os paralelos traçados
entre textos bíblicos e ugaríticos abrangem uma ampla variedade de formas
literárias. Nem um só texto ugarítico
é totalmente paralelo ao salmo 29. Alguns estudiosos deixam a impressão de que
um poema a Baal existente é exatamente paralelo ao salmo 29, com exceção de que
os nomes de Baal e Jeová são trocados. Por exemplo, Theodor Gaster argumentou
que este salmo era inicialmente cananita, mas o salmista o modificou substituindo o nome de Baal pelo nome
pessoal do Deus de Israel (1946-1947, 37:55-65).
Contudo, o salmo 29 não pode ser
localizado em nenhum texto ugarítico particular. Semelhanças de linguagem,
vocabulário e formas literárias existem entre a literatura hebraica e ugarítica
em geral. Mas, a idéia de que o salmo
29 é uma javeização de um hino a Baal surge de uma comparação de textos de
culturas diferentes, cada qual com sua própria variação sobre o mesmo tema
pagão (vede Wheeler, 1992, 5[1]:28). Com efeito, o falecido ugaritólogo P. C.
Craigie observou que “... virtualmente todos os estudos comparativos
hebraico-ugaríticos envolvem a comparação de diferentes formas literárias” (conforme citado em Tsumura, 1988,
40:25, ênfase no original). Assim, sugerir que o salmo 29 (ou qualquer outro
texto bíblico) é uma adaptação de um mito pagão não possui nenhuma base
evidencial.
Meio Cultural Comum
Terceiro, deveríamos contar com alguma semelhança de
linguagem e estilo literário entre textos bíblicos e extra-bíblicos devido ao
meio cultural comum (vede Redford, 1987, 13[3]:27). De fato, se a linguagem e o
estilo bíblico fossem totalmente diferentes
da literatura de seus contemporâneos seculares, a autenticidade da Bíblia
seria suspeita. Ademais, figuras e estilo literário familiares facilitariam às
nações gentias a compreensão da verdade. Em consonância com esta observação,
Alexander Heidel argumentou que “uma vez que o Antigo Testamento também era
planejado para o mundo gentio, é natural que os autores bíblicos se valessem de
figuras de linguagem e imaginário com os quais os vizinhos de Israel também
estivessem familiarizados, ou que fossem ao menos facilmente compreensíveis a
eles” (1951, p. 138).
Além disso, a existência dessas
semelhanças demonstra eloquentemente a integridade da Bíblia. Nesta linha de
pensamento, John Wheeler observou que tais semelhanças “... fornecem uma das principais evidências de
que a maior parte dos salmos não foram escritos após o exílio babilônico. Sua
linguagem se encaixa com a que era usada pelos vizinhos de Israel no mesmo
período de tempo em que a nossa Bíblia hebraica afirma que os salmos foram
escritos” (1992, 5[1]:28, ênfase no original). Assim, ao invés de militar
contra a credibilidade da Bíblia, essas semelhanças apóia a sua integridade.
Possibilidade Polêmica
Finalmente, podemos explicar
algumas dessas semelhanças como polêmicas inspiradas contra as crenças pagãs.
Em outras palavras, ao invés de adaptar mitos pagãos ao gosto do preconceito
religioso de Israel, os escritores inspirados conscientemente rejeitaram as idéias pagãs, e defenderam a causa de
Jeová (vede Frymer-Kensky, 1978, 4[4]:37). A evidência escriturística indica
que os israelitas estavam familiarizados com as religiões pagãs. Por exemplo, o
Pentateuco contém proibições de práticas idolátricas específicas como
sacrifícios humanos (Deuteronômio 12:31), e cozinhar um filhote no leite de sua
própria mãe (Êxodo 23:19; 34:26; Deuteronômio 14:21; vede Ackerman, 1993). De
fato, textos ugaríticos mencionam que o rito de cozinhar um filhote no leite de
sua própria mãe era um meio aceitável de se aproximar de um deus (Archer, 1974,
p. 179). A menção de tais ritos religiosos específicos indica a familiaridade
dos israelitas com as práticas pagãs, das quais deveriam se abster.
Contudo, quase que de imediato à
ocupação de Canaã, os israelitas ficaram apaixonados por Baal, e o adoraram
(vede Juízes 3:7). Tal apostasia ocorreu repetidamente na história de Israel.
Amós, por exemplo, lembrou Israel de sua longa história de flertes com as
divindades pagãs, o que os levou ao seu cativeiro estrangeiro (5:25-27). Com a
perene propensão de Israel a abandonar Jeová, esperaríamos encontrar polêmicas
contra essas falsas divindades na literatura religiosa de Israel. Uma dessas
declarações polêmicas dirigidas contra os falsos deuses aparece no salmo 96:5,
“Porque todos os deuses dos povos são ídolos (’elilim); mas Jeová fez os céus”. A palavra hebraica ’elilim (ídolos) descreve o que é inútil
e deficiente – em contradição com o poder criativo de Jeová, o verdadeiro Deus
(vede Harris, 1980, 1:95). Ademais, a supremacia de Jeová demonstrada sobre
Baal no Monte Carmelo é um exemplo vívido de tal polêmica na literatura sagrada
de Israel (1 Reis 17-18). Assim, o salmista inspirado pode ter moldado o salmo
29 como uma polêmica contra o baalismo. Isto, porém, não implica em que o
salmista javeizou um hino de Baal. Ele simplesmente poderia estar reagindo a
conceitos geralmente conhecidos associados
a essa divindade pagã.
Conclusão
Não precisamos negar que existam
algumas semelhanças entre a literatura hebraica e a pagã. Mas essas semelhanças
não implicam que textos míticos pagãos influenciaram diretamente os escritos bíblicos. A qualidade literária da poesia
pagã argumenta contra tal dependência. Para ilustrar, os estudiosos
identificaram ao menos uma modificação pagã de um salmo hebraico (uma adaptação
egípcia do salmo 20, datando de c. 125 a.C.), cuja qualidade literária era bem inferior ao original. Este documento
egípcio (escrito em papiro) foi descoberto algum tempo antes da virada do
século. Os filólogos egípcios logo identificaram a escrita como demótica – um
tipo cursivo de escrita hieroglífica que esteve entrou em uso por volta de 650
a.C. Durante anos, porém, seu conteúdo permaneceu um enigma para os
especialistas.
Progresso na decifração do texto
aconteceu em 1940, quando o professor Raymond Bowman e o egiptólogo George R.
Hughes descobriram que, embora o texto estivesse redigido em escrita demótica,
a língua real era o aramaico. O documento egípcio contém palavras judaicas como
YHWH (ou seja, Jeová) e ’adonay, mas também menciona um grupo de
deuses pagãos (p.e., Horus, Sahar, Mar e Baal). Essas características, e sua
familiaridade de língua e composição com o salmo 20, indicam que foi adaptado a
partir do salmo hebraico. O texto, porém, está cheio de erros de tal natureza
que indicam que o escriba não entendia o que transcreveu (vede Shanks, 1985).
Tal não é a característica da poesia bíblica. Sua qualidade literária, de
acordo com alguns estudiosos, é bem superior à de cepa pagã (vede Wheeler,
1992). Esta certamente seria uma indicação de sua originalidade.
Além disso, juntamente com a sua
distinta qualidade literária, os conceitos espirituais e éticos da Bíblia não
são igualados pela literatura sagrada pagã. Por exemplo, os deuses dos mitos
pagãos são culpados de comportamento degenerado de todos os tipos; o verdadeiro
Deus é infinito em pureza. Os praticantes das religiões pagãs constantemente
trabalhavam para apaziguar seus deuses irados; os adoradores de Jeová, Que era
pronto para perdoar, recebiam bênçãos imerecidas das Suas mãos graciosas (Salmo
32:1-5). Assim, as semelhanças entre a literatura bíblica e a pagã são
eclipsadas pelas enormes diferenças. Na
verdade, não há melhor indicação da inspiração da Bíblia do que colocá-la lado
a lado com as suas contrapartes pagãs. Tais análises literárias comparativas
animam a nossa convicção de que “toda a escritura é dada por inspiração de
Deus...” (2 Timóteo 3:16).
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Copyright
© 1993, Apologetics Press, Inc.
Fonte:
Apologetics Press (www.apologeticspress.org)
Tradução: Rodrigo Reis de Faria
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