terça-feira, 31 de julho de 2012

Moisés e a Arte da Escrita


Eric Lyons, M.Min.


Algum tempo atrás, uma jovem senhora de uma universidade local visitou nosso escritório da Apologetics Press e pediu para falar com alguém a respeito de uma “nova teoria” que ela havia aprendido em sua aula de literatura para novatos. Pela primeira vez em sua vida, ela ficara sabendo que Moisés poderia não ter sido o autor dos primeiros cinco livros do Antigo Testamento. Supostamente, Jesus, Esdras, Paulo e outros estavam errados ao atribuir estes livros a Moisés (cf. Marcos 12:26; Esdras 6:18; 2 Coríntios 3:15). Esta impressionável novata estava começando a achar que o que havia aprendido a respeito da autoria mosaica do Pentateuco em suas aulas de escola dominical e no colégio cristão de que ela havia participado durante quase toda a sua vida estava errado.

A idéia de que Moisés não escreveu o Pentateuco – uma teoria conhecida como Hipótese Documentária – na verdade foi lançada no rosto dos cristãos por mais de dois séculos. E, no entanto, surpreendentemente, uma das primeiras suposições sobre as quais esta teoria se apóia foi refutada há muito tempo. Desde o período inicial do desenvolvimento da Hipótese Documentária, assumiu-se que Moisés vivera em uma época anterior ao conhecimento da escrita. Um dos “pais fundadores” da Hipótese Documentária, Julius Wellhausen, estava convencido de que “o Israel antigo certamente não estava sem bases dadas por Deus para ordenar a vida humana; somente elas não estavam fixadas na escrita” (1885, p. 393, ênfase acrescentada). Apenas alguns anos depois, Hermann Schultz declarou: “Do caráter lendário dos narradores pré-mosaicos, o tempo dos quais eles tratam é prova suficiente. Foi um tempo anterior a todo o conhecimento da escrita” (1898, pp. 25-26, ênfase acrescentada). Estas suposições sem sombra de dúvida causaram um impacto sobre a crença destes homens na (e na promoção da) teoria de que Moisés não poderia ter escrito os primeiros cinco livros do Antigo Testamento.

Um problema fundamental com a Hipótese Documentária é que agora sabemos que Moisés não viveu “antes de todo o conhecimento da escrita”. Na realidade, ele viveu muito tempo depois que a arte da escrita já era conhecida. Uma verdadeira pletora de descobertas arqueológicas tem comprovado que uma das primeiras suposições da teoria de Wellhausen está errada.

  • Em 1949, C. F. A. Schaeffer “encontrou uma tabuinha em Ras Shamra contendo as trinta letras do alfabeto ugarítico na sua devida ordem. Foi descoberto que a seqüência do alfabeto ugarítico era a mesma do hebraico moderno, revelando que o alfabeto hebraico remonta ao menos 3.500 anos” (Jackson, 1982, p. 32, ênfase acrescentada).
  • Em 1933, J. L. Starkey, que havia estudado sob a orientação do famoso arqueólogo W. M. F. Petrie, escavou a cidade de Laquis, que havia figurado proeminentemente na conquista de Canaã por Josué (Josué 10). Entre outras coisas, ele desenterrou um jarro d’água de cerâmica “inscrito com uma dedicatória em onze letras arcaicas, a mais antiga inscrição ‘hebraica’ conhecida” (Wiseman, 1974, p. 705). De acordo com Charles Pfeiffer, “A escrita antiga, ou paleo-hebraica, é a forma de escrita semelhante àquela usada pelos fenícios. Uma inscrição real do Rei Shaphatball de Gebal (Biblos) neste alfabeto data de aproximadamente 1.600 a.C.” (1966, p. 33).
  • Em 1901-1902, o Código de Hamurábi foi encontrado no antigo sítio de Susã (onde agora é o Irã) por uma expedição arqueológica francesa sob a direção de Jacques de Morgan. Estava escrito em um pedaço de diorito negro com aproximadamente dois metros e vinte de altura, e continha 282 seções. Em seu livro, Archaeology and Bible History, Joseph Free e Howard Vos declararam:
O Código de Hamurábi foi escrito vários séculos antes do tempo de Moisés (c. 1500-1400 a.C.) ... Este código, do período de 2000 a 1700 a.C., contém leis avançadas semelhantes àquelas na lei mosaica ... Em vista desta evidência arqueológica, a crítica destrutiva não pode mais insistir que as leis de Moisés sejam avançadas demais para o seu tempo (1992, pp. 103, 55, ênfase acrescentada).

O código de Hamurábi estabeleceu fora de qualquer dúvida que a escrita era conhecida centenas de anos antes de Moisés.

Já em 1938, o respeitado arqueólogo William F. Albright, discutindo os vários sistemas de escrita que existiam no Oriente Médio durante os tempos pré-mosaicos, escreveu:

Nesta conexão, pode-se dizer que a escrita era bem conhecida na Palestina e na Síria durante toda a Era Patriarcal (Bronze Médio, 2100 a 1500 a.C.). Sabe-se que não menos de cinco inscrições estavam em uso: (1) os hieróglifos egípcios, usados para nomes pessoais e de lugares pelos cananeus; (2) o cuneiforme acadiano; (3) o silabário hierogliforme da Fenícia; (4) o alfabeto linear do Sinai; e (5) o alfabeto cuneiforme de Ugarit, que foi descoberto em 1929 (1938, p. 186).

Inúmeras descobertas arqueológicas dos últimos 100 anos têm comprovado de uma vez por todas que a arte da escrita não apenas era conhecida durante o tempo de Moisés, mas também muito tempo antes de Moisés entrar em cena. Embora os céticos, teólogos liberais e professores universitários continuem a perpetuar a Hipótese Documentária, eles devem ser informados (ou relembrados) do fato de que uma das suposições fundamentais sobre as quais a teoria se apóia já foi despedaçada pela evidência arqueológica.

Referências

Albright, W.F. (1938), “Archaeology Confronts Biblical Criticism,” The American Scholar, 7:186, April.
Free, Joseph P. and Howard F. Vos (1992), Archaeology and Bible History (Grand Rapids, MI: Zondervan).
Jackson, Wayne (1982), Biblical Studies in the Light of Archaeology (Montgomery, AL: Apologetics Press).
Pfeiffer, Charles F. (1966), The Biblical World (Grand Rapids, MI: Baker).
Sayce, A.H. (1904), Monument Facts and Higher Critical Fancies (London: The Religious Tract Society).
Schultz, Hermann (1898), Old Testament Theology (Edinburgh: T&T Clark), translated from the fourth edition by H. A. Patterson.
Wellhausen, Julius (1885), Prolegomena to the History of Israel (Edinburgh: Adam and Charles Black), translated by Black and Menzies.
Wiseman, D.J. (1974), The New Bible Dictionary, ed. J.D. Douglas (Grand Rapids, MI: Eerdmans).


Copyright © 2010 Apologetics Press, Inc. All rights reserved.

Fonte: Apologetics Press (www.apologeticspress.org)
Tradução: Rodrigo Reis de Faria

domingo, 29 de julho de 2012

Paulo e as Religiões de Mistério


Don Closson


Introdução

Uma crítica comum ao Cristianismo, presente nos campi das faculdades hoje, é de que suas idéias ou ensinamentos centrais eram dependentes da filosofia e das idéias religiosas gregas. Não é raro para um estudante ouvir de um professor que o Cristianismo não é nada mais do que uma estranha combinação do culto hebraico de Jeová, de conceitos adotados das religiões gregas de mistério populares na época, e de uma pitada de idéias do pensamento filosófico grego. Esta crítica ao Cristianismo tradicional não é nova. Na verdade, seu apogeu esteve no final de 1800 até 1940 e coincide com o que agora é chamado de movimento da História das Religiões. Este grupo de teólogos e historiadores acusava Paulo de agregar idéias gregas à sua formação hebraica e, no processo, criar uma nova religião: uma religião que nem Jesus nem Seus primeiros discípulos reconheceriam.

A origem do Cristianismo foi dependente das idéias religiosas e filosóficas gregas existentes? Essa questão depende de como alguém está usando a palavra “depender”. O filósofo Ron Nash argumenta que a dependência pode ser fraca ou forte, e que a diferença é vital. Uma dependência forte significaria que a idéia a respeito de Jesus morrendo e ressuscitando como deus-salvador nunca teria ocorrido aos primeiros crentes se primeiro não tivessem conhecimento delas no pensamento pagão. Isto seria admitir que Paulo e outros cristãos novos passaram a crer que Cristo era um Deus-homem ressuscitado que fez um sacrifício expiatório pelos pecados do mundo por causa de idéias pagãs. Provar uma dependência forte do Cristianismo sobre o pensamento grego seria muito prejudicial para aqueles que mantêm uma visão superior da Escritura.

Uma dependência fraca implica em que os seguidores de Jesus usaram terminologia religiosa comum da época a fim de serem entendidos pela cultura grega e hebraica que os rodeava. Isto não apresenta nenhum problema para uma visão superior da Escritura. Como diz Nash, “... a mera presença de paralelos no pensamento e na linguagem não prova qualquer dependência no sentido forte”.(1) Nash e outros argumentam que só se pode demonstrar ter existido uma dependência fraca entre o pensamento religioso grego e o Evangelho de Cristo.

Neste artigo consideraremos argumentos contra as alegações de dependência forte feitos pelo movimento da História das Religiões e pelos críticos modernos. Especificamente, compararemos a teologia do apóstolo Paulo com idéias presentes nas religiões gregas de mistério populares durante o período da igreja primitiva.

Embora essas idéias raramente apareçam nas discussões do dia-a-dia, cristãos que entram no mundo acadêmico dos nossos campi universitários se beneficiariam do tempo empregado na compreensão deste assunto. Nas mãos de um professor hostil ao Cristianismo, verdades parciais e semelhanças exageradas entre o Cristianismo e as religiões de mistério podem esmagar um jovem incauto. Estar ciente acerca desses argumentos contra o pensamento cristão nos prepara para darmos uma resposta a todo aquele que questionar a esperança que temos em Cristo.

Argumentos contra o Ponto-de-vista de uma Dependência Forte sobre as Religiões de Mistério

Anteriormente notamos que o movimento da História das Religiões alegava que o pensamento cristão tivera uma dependência forte e direta das religiões de mistério. Embora alguns estudiosos concordassem com esta visão, muitos não concordavam. Um bom exemplo é o famoso historiador alemão Adolf von Harnack, que escreveu:

Devemos rejeitar a mitologia comparativa que encontra conexão causal entre cada coisa e tudo o mais ... Por tais métodos pode-se tornar Cristo em um deus sol num piscar de olhos, ou inventar as lendas relacionadas ao nascimento de qualquer deus concebível, ou pegar todos os tipos de pombas mitológicas para que façam companhia à pomba batismal ... a varinha da ‘religião comparada’ triunfantemente elimina todas as características espontâneas em qualquer religião.(2)

Quais eram as características básicas das religiões de mistério? O ciclo anual da vegetação geralmente estava no centro desses cultos. Profundo significado era dado aos conceitos de crescimento, morte, corrupção e renascimento. O culto de Elêusis e sua divindade central, Deméter, divindade do solo e da agricultura, é um exemplo. As religiões de mistério também tinham cerimônias secretas e ritos de iniciação que separavam seus membros do mundo exterior. Toda religião de mistério alegava compartilhar conhecimento secreto acerca da divindade. Este conhecimento seria comunicado em cerimônias clandestinas muitas vezes ligadas a um rito iniciático. O foco deste conhecimento não estava em um conjunto de verdades reveladas a serem compartilhadas com o mundo, mas em conhecimento superior secreto a ser guardado dentro do círculo de crentes.

No centro de cada religião estava um mito em que a divindade voltava à vida após a morte, ou então triunfava sobre os seus inimigos. Como explica certo estudioso, o mito “apelava primariamente para as emoções e visava a produzir efeitos místicos e psíquicos pelos quais o neófito poderia experimentar a exaltação de uma nova vida”.(3) Por outro lado, os mistérios não diziam respeito tanto à doutrina ou crença correta, e sim ao estado emocional dos seguidores. O objetivo dos crentes era uma experiência mística que os levasse a crer que haviam alcançado a união com o seu deus.

Os diversos movimentos religiosos presentes em todo o Império Romano não estavam unidos em doutrina ou prática, e mudaram dramaticamente ao longo do tempo. Qualquer impacto que possam ter tido sobre o Cristianismo deve ser avaliado pelo espaço de tempo em que as religiões se enfrentaram. Ao comparar os sistemas religiosos, o filósofo Ronald Nash alerta que é aconselhável ter cuidado para não usar uma linguagem descuidada. Ele diz: “Frequentemente encontramos estudiosos que primeiro usam terminologia cristã para descrever crenças e práticas pagãs e então se maravilham com os paralelos impressionantes que pensam ter encontrado”.(4)

E se alguém lhe dissesse que a raiz da teologia neotestamentária de Paulo estava nas obscuras religiões gregas de mistério, em lugar de sua educação judaica e seu encontro com Jesus Cristo? Isto é exatamente o que o movimento da História das Religiões argumentava no final do século 19. Muitos estudiosos ainda ensinam que a descrição de Paulo sobre Jesus morrendo e ressuscitando como salvador nunca teria ocorrido sem a presença das religiões de mistério. A seguir, continuaremos a considerar os argumentos contra o que poderia ser chamada de “visão da dependência forte”.

Fraquezas na Visão da Dependência Forte

O primeiro argumento contra esta visão é a falácia lógica da falsa causa. Esta falácia ocorre quando alguém argumenta que, só porque duas coisas existem lado a lado, uma deve ser a causa da outra. Como escreveu certo teólogo, a escola da História das Religiões tinha a tendência de “converter paralelos em influências e influências em fontes”.(5) Conexão causal é bem mais difícil de provar do que proximidade. O mero fato de que outras religiões possam ter tido um deus que morreu e então voltou à vida de alguma forma não significa que esta fosse a fonte das idéias cristãs, ainda que se possa demonstrar que os apóstolos conheciam este outro conjunto de crenças.

Alguns estudiosos, hostis ao Cristianismo, tendem a exagerar, ou inventar, similaridades entre o Cristianismo e as religiões de mistério. O estudioso britânico Edwyn Bevan escreve:

É claro que se alguém escreve uma representação imaginária dos mistérios órficos ... completando as grandes lacunas no quadro deixado pelos nossos dados acerca da Eucaristia cristã, ele produz algo muito impressionante. Sobre este plano, você primeiro veste os elementos cristãos, e em seguida hesita em encontrá-los ali.(6)

Um exemplo poderia ser a prática do taurobolium no culto de Cibele ou da Grande Mãe. Alguns alegam que este rito de iniciação, no qual o sangue de um touro sacrificado é derramado sobre um neófito, é a fonte do batismo no Cristianismo. Argumentos têm sido feitos de que a linguagem “sangue do cordeiro” (Apocalipse 7:14), e “sangue de Jesus” (1 Pedro 1:2) foi tomada da linguagem do taurobolium e do criobolium, no qual um cordeiro era morto. Na verdade, pode-se formar um argumento melhor, de que o culto tomou a sua linguagem da tradição cristã.

O culto de Cibele só usou o taurobolium no segundo século a.D.; a melhor evidência disponível para datar a prática situa a sua origem por volta de cem anos após Paulo ter escrito suas epístolas.(7) O estudioso alemão Gunter Wagner assinala que não havia nenhuma noção de morte e ressurreição na prática do culto.

Após notar a mudança no significado que o taurobolium sofreu ao longo do tempo, o estudioso Robert Duthoy escreve:

É óbvio que esta alteração no taurobolium deveu-se ao Cristianismo, quando consideramos que, por volta de 300 a.D., este havia se tornado o grande competidor das religiões pagãs, e era conhecido de todos.(8)

Mais Fraquezas na Visão da Dependência Forte

Um argumento simples mas poderoso contra a probabilidade de que Paulo tivesse se voltado para o pensamento pagão em busca de sua teologia era a sua educação estritamente judaica. Em Filipenses 3:5, Paulo se orgulhou de ser um hebreu de hebreus. Ele havia estudado sob Gamaliel, o mestre mais celebrado do mais ortodoxo dos partidos judaicos, os fariseus. E, em Colossenses, ele adverte contra o mesmo sincretismo de que está sendo acusado de propor. De acordo com Bruce Metzger:

(Com) respeito ao próprio Paulo, os estudiosos estão uma vez mais reconhecendo que o conjunto da mente do Apóstolo predominante era rabinicamente orientado, e que a sua recém-fundada fé cristã correu nos moldes anteriormente formados aos pés de Gamaliel.(9)

Não encontramos acusações no Novo Testamento acerca de Paulo incorporando pensamento pagão em sua teologia, nem ele se defende contra tais alegações.

A própria natureza dos cultos de mistério, com o panteão conflitante de divindades e seres míticos, torna altamente improvável que o monoteísmo estrito e o corpo de doutrinas encontrado no Novo Testamento seja a sua fonte. Embora as religiões de mistério se movessem no sentido de promover um deus solar acima de todos os outros, esta mudança aconteceu após 100 a.D., tarde demais para impactar a teologia do Novo Testamento.

Deveria também ser notado que o Cristianismo primitivo era uma religião exclusivista, enquanto os cultos de mistério, não. Alguém poderia ser iniciado no culto de Ísis ou Mitra sem abandonar suas crenças anteriores. Contudo, para ser batizado na igreja alguém teria de renunciar a todos os outros deuses e salvadores. Este era um novo desenvolvimento no mundo antigo. Machen escreve: “Em meio ao sincretismo prevalecente do mundo greco-romano, a religião de Paulo, assim como a religião de Israel, permanece absolutamente sozinha”.(10)

A religião de Paulo estava fundamentada em eventos reais. As religiões de mistério, não. Elas se baseavam em dramas escritos para prender os corações e paixões dos homens. O estudioso reformado Herman Ridderbos escreve:

Ao passo que Paulo fala da morte e ressurreição de Cristo e a coloca no meio da história, como um evento que aconteceu diante de muitas testemunhas ... os mitos dos cultos, em contraste, não podem ser datados; eles aparecem em todos os tipos de variações, e não fornecem nenhuma concepção clara. Em suma, eles revelam a eterna imprecisão característica dos verdadeiros mitos. Assim os mitos dos cultos ... não são nada além de representações de eventos anuais da natureza, nos quais não se deve encontrar nada da voluntariedade moral, significado substitutivo redentivo, que para Paulo é o conteúdo da morte e ressurreição de Cristo.(11)

A seguir concluiremos com argumentos adicionais contra o uso de Paulo das religiões de mistério.

Conclusão

O escritor muçulmano Yousouf Saleem Chishti escreve que as doutrinas da divindade de Cristo e da expiação são ensinos pagãos que vêm do apóstolo Paulo, não do Próprio Cristo.(12) Ele declara que “a doutrina cristã da expiação foi grandemente colorida pela influência das religiões de mistério, especialmente o Mitraísmo, que tinha o seu próprio filho de Deus e virgem Mãe, e a crucificação e ressurreição pela expiação dos pecados da humanidade, e finalmente sua ascensão ao sétimo céu”.(13) Estas doutrinas foram algo que Paulo compôs ou emprestou? O que Jesus ensinou com respeito à expiação?

Primeiro, tanto Jesus como Paulo ensinaram que o Cristianismo era o cumprimento do Judaísmo. Em Mateus 5:17, Jesus disse que Ele veio cumprir a lei e o ensino dos Profetas, não aboli-los. Em Colossenses (2:16-17), Paulo escreve que os códigos religiosos do Antigo Testamento eram meramente um prenúncio das coisas que viriam, e que a nova realidade se encontra em Cristo. Tanto Cristo como Paulo ensinaram a necessidade da expiação com sangue pelo pecado. Jesus declarou que: “Porque mesmo o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir, e dar a Sua vida em resgate por muitos” (Marcos 10:45). Na Última Ceia Ele acrescentou: “Este é o meu sangue do concerto, que é derramado por muitos pelo perdão dos pecados” (Mateus 26:28). Paulo afirmou os ensinos de Cristo quando escreveu: “Nele nós temos a redenção pelo seu sangue, o perdão dos pecados, conforme as riquezas da graça de Deus” (Efésios 1:7). Vinculando a doutrina com o Antigo Testamento, Paulo escreveu: “Cristo, nosso cordeiro pascoal, foi sacrificado” (1 Coríntios 5:7).

As idéias de que Jesus era o Filho de Deus, nascido de uma virgem, morrendo na cruz, e sendo ressuscitado, dificilmente são idéias exclusivas de Paulo. Elas se encontram nos primeiros escritos cristãos e são defendidas consistentemente para onde a fé tenha se difundido. Os paralelos entre o Cristianismo e o Mitraísmo alegados por Chishti são difíceis de avaliar ou confirmar. Ele não nos dá referências como evidência em favor das similaridades.(4) Outros estudiosos que têm considerado o problema descobrem que a maioria das similaridades desaparecem sob uma inspeção cuidadosa. Onde elas ocorrem, pode-se argumentar que o Mitraísmo tomou idéias do Cristianismo, ao invés do contrário. Bruce Metzger escreve: “Não se deve assumir acriticamente que os mistérios sempre influenciaram o Cristianismo, pois não apenas é possível, mas provável que, em certos casos, a influência se moveu na direção oposta”.(15)

Aqueles que acham o Cristianismo difícil de aceitar têm apresentado muitas razões para isto. A alegação de que as doutrinas do Cristianismo tiveram forte dependência das religiões de mistério permanece em solo instável e deve ser totalmente investigada antes que alguém rejeite as boas novas dos escritores do Novo Testamento.

Notas

  1. Ronald Nash, The Gospel And The Greeks, (Probe Books: Dallas, TX, 1992), 18.
  2. Ibid, 118.
  3. Ibid, 124.
  4. Ibid, 126.
  5. Ibid, 193.
  6. Ibid.
  7. Ibid, 154.
  8. Ibid, 155.
  9. Ibid, 196.
  10. Ibid, 197.
  11. Ibid. 198.
  12. Normal Geisler, Baker Encyclopedia of Christian Apologetics, (Baker Books, 1999), 490.
  13. Ibid.
  14. Ibid. 492.
  15. Nash, 198.


©2003 Probe Ministries.

Fonte: Probe Ministries (http://www.probe.org)
Tradução: Rodrigo Reis de Faria

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Lendas do Dilúvio


Eric Lyons, M.Min. e Kyle Butt, M.A.


Antropólogos que estudam lendas e contos populares de diferentes culturas e localidades geográficas têm relatado consistentemente um grupo particular de lendas que é comum a praticamente todas as civilizações. Lendas têm surgido em centenas de culturas por todo o mundo, que falam de uma imensa e catastrófica inundação que destruiu a maioria dos homens, e a que sobreviveram apenas alguns indivíduos e animais. Embora a maioria dos historiadores que têm estudado este assunto considerem que tais lendas cheguem a 200, de acordo com o geólogo evolucionista Robert Schoch, “Noé é apenas uma história em uma coleção espalhada pelo mundo inteiro, de ao menos 500 mitos do dilúvio, que são os mais difundidos de todos os mitos antigos e que, portanto, podem ser considerados entre os mais antigos” (2003, p. 249, ênfase acrescentada). Schoch prossegue observando:

Narrativas acerca de uma massiva inundação são encontradas em todo o mundo ... histórias de um grande dilúvio são encontradas em cada continente habitado e entre grupos culturais e linguísticos muitíssimo diferentes (pp. 103, 249).

Há mais de um século, o famoso geólogo canadense, Sir William Dawson, escreveu a respeito de como o registro do Dilúvio

está preservado em alguns dos documentos históricos mais antigos de diversas raças humanas, e é indiretamente corroborado por todo o teor da história primitiva da maioria das raças civilizadas (1895, pp. 4ss.).

Lendas têm sido informadas desde nações tais como a China, Babilônia, México, Egito, Sudão, Síria, Pérsia, Índia, Noruega, Gales, Iralanda, Indonésia, Romênia, etc. – compondo uma lista que poderia prosseguir por muitas páginas (vede Perloff, 1999, p. 167). Embora o vasto número de tais lendas seja surpreendente, a semelhança entre grande parte do seu conteúdo é igualmente impressionante. James Perloff observa:

Em 95 por cento das mais de duzentas lendas do dilúvio, a inundação foi de alcance mundial; em 88 por cento, determinada família foi favorecida; em 70 por cento, a sobrevivência foi por meio de uma embarcação; em 67 por cento, animais também foram salvos; em 66 por cento, o dilúvio foi devido à impiedade do homem; em 66 por cento, os sobreviventes haviam sido avisados antecipadamente; em 57 por cento, eles acabavam sobre uma montanha; em 35 por cento, aves eram enviadas para fora da embarcação; e, em 9 por cento, exatamente oito pessoas foram poupadas (p. 168).

Lendas Indígenas Americanas

Os astecas contam a respeito de uma inundação global em uma história com paralelos surpreendentes com o dilúvio bíblico. “Apenas duas pessoas, o herói Coxcox e sua esposa, sobreviveram à inundação, boiando em uma embarcação que veio a pousar sobre uma montanha” (Schoch, p. 103). Então, logo após o dilúvio, gigantes construíram uma grande pirâmide em um esforço de alcançar as nuvens. Conta-se que tal ambição enfureceu os deuses, os quais espalharam os gigantes com fogo mandado dos céus (cf. Gênesis 11:1-9).

Na antiga região a que agora nos referimos como México, uma tribo de índios, conhecida como toltecas, contavam a respeito de uma grande inundação. Em sua lenda, um dilúvio destruiu o “primeiro mundo”, 1.716 anos após ter sido criado. Apenas algumas pessoas escaparam deste dilúvio de alcance mundial, e isso em um “toptlipetlocali” (palavra que significa “caixa fechada”). Depois que estas poucas pessoas saíram da caixa fechada, elas vagaram pela Terra, e encontraram um lugar onde construíram um “zacuali” (torre alta), no caso de outro dilúvio vir sobre a Terra. Lá pelo tempo do “zacuali”, as línguas dos toltecas foram confundidas, e eles se separaram para diferentes partes da Terra.

Outra tribo antiga do México contava a história de um homem chamado Tezpi, que escapou do dilúvio em uma embarcação que estava cheia de animais. Semelhante a Noé, que enviou para fora um corvo (uma ave carniceira) que nunca voltou, e uma pomba que voltou com uma folha de oliveira, “Tezpi soltou um abutre, que ficou afastado, devorando cadáveres. Então ele deixou ir um beija-flor, e este voltou para ele trazendo um ramo” (Schoch, p. 104).

Mitologia Grega Antiga

De acordo com a lenda grega do dilúvio, os homens tornaram-se muito perversos. Zeus, o líder dos muitos deuses na mitologia grega, queria destruir os homens por meio de um dilúvio, e então levantar um outro grupo. Porém, antes que ele pudesse fazer isto, um homem por nome Deucalião, e sua esposa Pirra, foram avisados acerca do iminente desastre. Este afortunado casal foi colocado em uma grande caixa de madeira por um dos imortais, chamado Prometeu. Durante nove dias e noites, as águas do dilúvio cobriram quase toda a Terra. Restaram apenas os picos de algumas montanhas. A caixa de madeira veio a pousar sobre o pico do Monte Parnaso. Mais tarde, após deixar a caixa de madeira, Deucalião sacrificou a Zeus.

Lendas Asiáticas e Chinesas

Na região da China, existem muitas lendas a respeito de uma grande inundação. Uma delas vem de um grupo de pessoas conhecido como Nosu. De acordo com a sua lenda, Deus enviou um mensageiro pessoal à Terra para avisar três filhos de que um dilúvio se aproximava. Apenas o mais novo, Dum, deu atenção ao mensageiro. Ele construiu um barco de madeira para se preparar para o iminente dilúvio. Quando as águas chegaram, Dum entrou no seu barco, e foi salvo. Depois que as águas começaram a recuar, o barco pousou nas montanhas do Tibete, onde Dum teve três filhos que repovoaram a Terra. É interessante que até os caracteres chineses para “barco” possivelmente revelam a  história de Noé e das outras sete pessoas na arca. Os três elementos usados para simbolizar um barco são:


O povo Iban de Sarawak contam a respeito de um herói chamado Trow, que flutuou em uma arca com a sua esposa e inúmeros animais domésticos (Schoch, p. 252). Nativos da Índia contam uma história sobre um homem chamado Manu que construiu uma arca após ser avisado acerca de um dilúvio. Mais tarde, as águas retrocederam, e ele aportou em uma montanha (Schoch, p. 250).

Mitologia Babilônica Antiga

Provavelmente o relato do dilúvio mais famoso (além do registro bíblico do Dilúvio de Noé) vem do antigo império babilônico. O Épico de Gilgamesh, escrito em doze tabuinhas de barro que datam do século sétimo a.C., contam a respeito de um herói chamado Gilgamesh. Em sua busca pela vida eterna, Gilgamesh encontrou Utnapishtim, alguém que havia recebido vida eterna porque salvara um carregamento de animais e seres humanos durante um grande dilúvio. Na décima primeira tabuinha deste épico, é registrado um relato do dilúvio que se compara ao relato de Gênesis em muitas áreas. De acordo com a história, os deuses instruíram Utnapishtim a construir uma embarcação porque se aproximava uma terrível inundação. Utnapishtim contruiu a embarcação, cobriu-a com piche, e pôs animais de todas as espécies nela, bem como certas provisões. Depois que Utnapishtim entrou na embarcação com sua família, choveu durante seis dias e noites. Quando o dilúvio terminou, a embarcação pousou sobre o Monte Niser. Após sete dias, Utnapishtim soltou uma pomba para ver se as águas haviam retrocedido. A pomba voltou, então ele mandou uma andorinha, que também voltou. Finalmente, ele soltou um corvo – que nunca voltou. Utnapishtim e sua família finalmente saíram da embarcação e sacrificaram aos seus deuses (vede Roth, 1988, pp. 303-304).

Qual é a importância das diversas lendas do dilúvio? A resposta parece óbvia: (a) temos cabalmente mais de 200 lendas do dilúvio que contam a respeito de uma grande inundação (e provavelmente mais de 500 – Schoch, p. 249); (b) muitas das lendas vêm de diferentes épocas e civilizações que não poderiam ter copiado nenhuma das lendas semelhantes; (c) as lendas foram registradas muito tempo antes que qualquer missionário chegasse para relacioná-las com a narrativa de Noé em Gênesis; e (d) quase todas as civilizações têm algum tipo de lenda do dilúvio. A conclusão a ser deduzida a partir de tais fatos é que, no passado distante, houve uma inundação colossal que afetou para sempre a história de todas as civilizações.

Aqueles que viveram logo após o Dilúvio não tinham o livro de Gênesis para ler para seus descendentes (Gênesis só foi escrito várias centenas de anos depois do Dilúvio). O relato do Dilúvio foi transmitido de uma geração para a outra. Muitos pais e avós contavam aos seus filhos e netos a respeito da arca imensa, os animais magníficos, e o Dilúvio devastador, muito tempo antes que o relato de Gênesis viesse a existir. Ao longo dos anos, os detalhes da história foram alterados, mas muitos dos detalhes reais permaneceram os mesmos. Alfred Rehwinkel escreve:

Tradições semelhantes a este registro são encontradas entre quase todas as nações e tribos da raça humana. E é assim que alguém esperaria ser. Se aquela terrível catastrofe de alcance mundial, conforme descrita na Bíblia, realmente aconteceu, a existência das tradições do Dilúvio entre os povos primitivos e amplamente separados é apenas o que se deve esperar. É apenas natural que a memória de tal evento fosse recitada aos ouvidos dos filhos dos sobreviventes muitas vezes, e possivelmente constituíssem a base de algumas observâncias religiosas (1951, pp. 127-128).

Harold W. Clark, em seu livro Fossils, Flood and Fire, comenta:

Preservada nos mitos e lendas de quase todos os povos sobre a face do globo está a memória da grande catástrofe. Embora mitos não possam ter qualquer valor científico, eles são significativos em indicar o fato de que foi deixada uma impressão nas mentes das raças humanas que não pode ser apagada (1968, p. 45).

Depois que os “floreamentos” são removidos do núcleo de verdade nas diversas histórias, há uma harmonia quase completa entre praticamente todos os relatos do dilúvio: (a) uma destruição da raça humana e de todos os outros seres vivos ocorreu por meio da água; (b) uma arca, ou embarcação, foi providenciada como meio de escape para alguns; e (c) uma semente humana foi providenciada para perpetuar a espécie. Como Furman Kearley certa vez observou: “Estas tradições concordam em muitíssimos pontos vitais para não terem se originado do mesmo evento factual” (1979, p. 11). No volume três da sua coleção The Native Races of the Pacific Slope – Mythology, H. H. Bancroft escreve: “Nunca houve um mito sem um significado ... não há uma destas histórias, não importa quão boba ou absurda, que não estivesse fundada em fato” (1883).

Entre os célebres eruditos dos tempos idos que estudaram estes assuntos em detalhes, estão homens como James G. Frazer (Folklore in the Old Testament) e William Wundt (Elements of Folk Psychology). Wundt, que fez o máximo para encontrar algum tipo de argumento razoável em favor de origens independentes para as várias sagas do dilúvio (e que não tinha grande amor pela evidência bíblica), foi obrigado a admitir:

Da combinação de todos estes elementos em um todo (a destruição da terra pela água, o resgate de um único homem e da semente dos animais por meio de uma embarcação, etc.), porém, podemos dizer sem hesitação que isto não poderia ter surgido duas vezes independentemente (1916, p. 392, comentário entre parênteses no original).

Ou, como Dawson concluiu há mais de um século:

Sabemos agora que o Dilúvio de Noé não é mero mito ou fantasia do homem primitivo, ou apenas uma doutrina das Escrituras hebraicas ... Nenhum evento histórico, antigo ou moderno, pode ser mais firmemente estabelecido como fato do que este (1895, pp. 4ss.).

Referências

Bancroft, H.H. (1883), Works: The Native Races of the Pacific Slope—Mythology (San Francisco, CA: A.L. Bancroft).
Clark, Harold W. (1968), Fossils, Flood and Fire (Escondido, CA: Outdoor Pictures).
Dawson, John William (1895), The Historical Deluge in Relation to Scientific Discovery (Chicago, IL: Revell).
Kearley, F. Furman (1979), “The Significance of the Genesis Flood,” Sound Doctrine, March/April.
Perloff, James (1999), Tornado in a Junkyard: The Relentless Myth of Darwinism (Arlington, MA: Refuge Books).
Rehwinkel, Alfred M. (1951), The Flood (St. Louis, MO: Concordia).
Roth, Ariel (1988), Origins: Linking Science and Scripture (Hagerstown, MD: Review and Herald Publishing).
Schoch, Robert M. (2003), Voyages of the Pyramid Builders (New York: Jeremy P. Parcher/Putnam).
Wundt, William (1916), Elements of Folk Psychology, trans. Edward L. Schaub (New York: Macmillan).

Copyright © 2003 Apologetics Press

Fonte: Apologetics Press (www.apologeticspress.org)
Tradução: Rodrigo Reis de Faria

terça-feira, 24 de julho de 2012

A Arqueologia e o Novo Testamento


Patrick Zuckeran

Existe um debate contínuo entre os estudiosos a respeito da exatidão histórica da Bíblia. Alguns acham que a Bíblia é uma obra fabulosa e deveria ser lida como uma obra de ficção literária. Outros acham que ela é uma obra histórica exata, divinamente inspirada por Deus. A arqueologia tem representado um papel importante na determinação da confiabilidade da Bíblia. Em um artigo anterior,* discutimos as confirmações arqueológicas do Antigo Testamento. Neste, examineremos as descobertas arqueológicas que têm confirmado a exatidão histórica do Novo Testamento. Existe grande quantidade de evidências fora da Bíblia que confirmam o relato a respeito de Jesus tal como consta nos Evangelhos.

É importante perceber, no entanto, que é irrealista esperar que a arqueologia apóie todos os eventos e lugares do Novo Testamento. Nossa perspectiva é procurar quais evidências existem e ver se correspondem ou não com o Novo Testamento.

Confirmação Histórica acerca de Jesus

A primeira evidência vem dos quatro Evangelhos que, por si mesmos, estão provados como sendo exatos.(1) Fora do texto bíblico, existem diversas testemunhas também. O historiador judeu Josefo (37 a 100 a.D.) registrou a história do povo judeu na Palestina de 70 a 100 a.D. Em sua obra Antiguidades, ele declara:

Ora, por esse tempo apareceu Jesus, um homem sábio, se é legítimo chamá-lo de um homem, pois ele foi autor de obras assombrosas, um mestre de homens que recebem a verdade com prazer. Ele atraía a si muitos judeus e muitos gentios. Ele era o Cristo e, quando Pilatos, por sugestão dos principais dentre nós, fê-lo condenar à cruz, aqueles que o amaram a princípio não o abandonaram. Pois ele apareceu vivo de novo ao terceiro dia, tal como os divinos profetas haviam predito, estas e dezenas de outras coisas maravilhosas a respeito dele; e a tribo dos cristãos, assim chamada por causa dele, ainda hoje não está extinta.(2)

Embora mencione Jesus de um modo sarcástico, Josefo confirma os fatos de que Jesus fez muitos milagres grandiosos, atraiu um séquito, foi crucificado, e foi proclamado vivo ao terceiro dia.

Plínio, o Jovem, governador da Bitínia, no noroeste da Turquia, dirigindo-se por carta ao Imperador Trajano em 112 a.D., escreve:

Eles tinham o hábito de se encontrar em certo dia fixo, antes da alvorada, quando cantavam um hino a Cristo como Deus, e se comprometiam por um juramento solene a não cometer nenhuma obra má, mas a abster-se de toda a fraude, roubo e adultério, nunca quebrar a sua palavra, ou negar uma responsabilidade quando chamados a honrá-la; além do que era seu costume se separarem, e então se reunirem novamente para participar de uma refeição, mas de qualidade ordinária e simplória.

Um dos mais importantes historiadores romanos foi Tácito. Em 115 a.D., ele registrou a perseguição de Nero aos cristãos, durante a qual escreveu o seguinte:

Cristo, de quem teve origem o nome, sofreu a pena máxima durante o reinado de Tibério, por mãos de um dos nossos procuradores, Pôncio Pilatos, e uma superstição extremamente perniciosa, assim reprimida no momento, irrompeu novamente não apenas na Judéia ... mas até mesmo em Roma.(3)

Existem mais de 39 fontes extra-bíblicas que atestam mais de cem fatos concernentes à vida e ensinamentos de Jesus.

Exatidão dos Evangelhos

A precisão dos Evangelhos tem sido apoiada pela arqueologia. Os nomes de muitas cidades israelitas, eventos e pessoas descritas neles agora têm sido identificados. Eis aqui alguns exemplos.

Os Evangelhos mencionam quatro cidades costeiras adjacentes e bem povoadas, ao longo do Mar da Galiléia: Cafarnaum, Betsaida, Corazim e Tiberíades. Jesus realizou muitos milagres nas primeiras três cidades. Apesar deste testemunho, tais cidades rejeitaram Jesus e por isso foram amaldiçoadas por Ele (Mateus 11:20-24; Lucas 10:12-16). Estas cidades eventualmente desapareceram da história, e sua localização ficou perdida durante séculos. O fim delas cumpre a condenação profética de Jesus.

Apenas recentemente a arqueologia recuperou suas possíveis localidades. Acredita-se que Tell Hum seja Cafarnaum (um “tell” é um morro ou terra elevada que se acumulou pela reconstrução repetida e a longo prazo do mesmo local. Assentos de civilizações podem ser encontrados em diferentes estratos). As localidades de Betsaida e Corazim ainda continuam não confirmadas, mas acredita-se que o presente sítio em um tell a 1,5 milhas ao norte do litoral galileu seja Betsaida, enquanto acredita-se que Tell Khirbet Kerezah, a 2,5 milhas a nordeste de Cafarnaum, seja Corazim.

Mateus 2 declara que Jesus nasceu durante o reinado de Herodes. Ao ouvir que um rei havia nascido, o assustado Herodes ordenou que todas as crianças abaixo dos dois anos fossem mortas. Sua matança dos inocentes é consistente com os fatos históricos que descrevem o seu caráter. Herodes era suspeitoso de qualquer um que pensasse que podia tomar seu trono. Sua lista de vítimas incluía uma de suas dez esposas – que era sua favorita – três dos seus filhos, um sumo sacerdote, um ex-rei, e dois dos seus cunhados. Assim, sua brutalidade retratada em Mateus é consistente com sua descrição na história antiga.

A exatidão de João também tem sido atestada por descobertas recentes. Em João 5:1-5, Jesus cura um homem junto ao Poço de Betesda. João descreve o poço como tendo cinco pórticos. Este lugar esteve por muito tempo em disputa, até recentemente. A mais de doze metros abaixo da terra, os arqueólogos descobriram um poço com cinco pórticos, e a descrição da área adjacente se encaixa com a descrição de João. Em 9:7, João menciona outro lugar há muito disputado, o Poço de Siloé. Contudo, este poço também foi descoberto em 1897, confirmando a exatidão de João.

Evidência em favor de Pôncio Pilatos, o governador que presidiu o julgamento de Jesus, foi descoberta em Cesaréia Marítima. Em 1961, um arqueólogo italiano chamado Antonio Frova escavou um fragmento de uma placa que fora usada como uma seção da escadaria que levava ao Teatro de Cesaréia. A inscrição, registrada em latim, continha a frase: “Pôncio Pilatos, Prefeito da Judéia, dedicou ao povo de Cesaréia um templo em honra a Tibério”. Este templo é dedicado ao Imperador Tibério, que reinou de 14 a 37 a.D. Isto se encaixa cronologicamente bem com o Novo Testamento, que registra que Pilatos governou como procurador de 26 a 36 a.D. Tácito, um historiador romano do primeiro século, também confirma a designação de Pilatos pelo Novo Testamento. Ele escreve: “Cristo, de quem teve origem o nome, sofreu a pena máxima durante o reinado de Tibério, por mãos de um dos nossos procuradores, Pôncio Pilatos ...”.

Confirmação concernente à Crucificação

Todos os quatro Evangelhos dão detalhes da crucificação de Cristo. Sua descrição exata desta prática romana tem sido confirmada pela arqueologia. Em 1968, foi escavado um cemitério na cidade de Jerusalém, contendo trinta e cinco corpos. Cada um dos homens havia sofrido uma morte brutal, que os historiadores acreditam ter sido resultado do seu envolvimento na revolta judaica contra Roma em 70 a.D.

A inscrição identificava certo indivíduo como Yohannan Ben Ha'galgol. Estudos sobre os ossos, realizados por osteologistas e médicos da Escola Médica de Hadassah, determinaram que o homem tinha vinte e oito anos, media 1,73 metros, e tinha alguns leves defeitos faciais devidos a uma fenda do palato.

O que intrigou os arqueólogos foram as evidências de que este homem havia sido crucificado de um modo semelhante à crucificação de Cristo. Um prego de sete polegadas havia sido cravado através de seus pés, que foram voltados para fora, de modo que o cravo pudesse ser martelado dentro tendão de Aquiles.

Os arqueólogos também descobriram que pregos haviam sido cravados através dos seus antebraços inferiores. Uma vítima de crucificação teria de levantar e abaixar seu corpo a fim de respirar. Para fazer isto, ela precisava se apoiar sobre seus pés cravados e erguer-se com seus braços. Os braços superiores de Yohannan estavam levemente desgastados, indicando este movimento.

João registra que, para apressar a morte de um prisioneiro, os executores quebravam as pernas da vítima, de modo que ela não pudesse se erguer forçando com seus pés (19:31-33). As pernas de Yohanan estavam esmagadas por um golpe que as quebrou abaixo do joelho. Os Rolos do Mar Morto dizem que tanto judeus como romanos repugnavam a crucificação devido à sua crueldade e humilhação. Os rolos também dizem que era um castigo reservado aos escravos e qualquer que desafiasse os poderes políticos de Roma. Isto explica por que Pilatos escolheu a crucificação como pena para Jesus.

Em relação à crucificação, em 1878 uma placa de pedra foi encontrada em Nazaré com um decreto do Imperador Cláudio, que reinou de 41 a 54 a.D. Ela dizia que as sepulturas não deviam ser incomodadas, nem os corpos removidos. O castigo em outros decretos é leve, mas este ameaça com a morte, e está perto do tempo da ressurreição. Isto provavelmente foi devido a Cláudio investigar os distúrbios de 49 a.D. Certamente ele havia ouvido falar da ressurreição e não queria nenhum incidente parecido. Este decreto provavelmente foi preparado em conexão com a pregação dos apóstolos acerca da ressurreição de Jesus, e o argumento judaico de que o corpo havia sido roubado.

O historiador Talos escreveu em 52 a.D. Embora não reste nenhum de seus textos, sua obra é citada na de Júlio Africano, Cronografia. Citando Talos sobre a crucificação de Cristo, Africano declara: “Em todo o mundo, acometeu uma escuridão mui terrível, e as rochas foram despedaçadas por um terremoto, e muitos lugares na Judéia e em outros distritos foram abalados”.(4) Talos chama esta escuridão, “como me parece sem razão, um eclipse do sol”.(5)

Todas as descobertas realizadas são consistentes com os detalhes no relato da crucificação apresentado pelos escritores dos Evangelhos. Estes fatos fornecem apoio indireto aos relatos bíblicos a respeito da crucificação de Jesus e de que o túmulo estava vazio.

Exatidão Histórica de Lucas

Há algum tempo, os estudiosos não viam os relatos históricos de Lucas em seu Evangelho e em Atos como exatos. Parecia não haver evidência para diversas cidades, pessoas e localidades que ele citava em suas obras. Contudo, os avanços arqueológicos têm revelado que Lucas foi um historiador muito acurado, e que os dois livros que ele escreveu continuam sendo documentos precisos de história.

Um dos maiores arqueólogos foi o falecido Sir William Ramsay. Ele estudou sob a famosa e liberal escola histórica alemã, na metade do século dezenove. Conhecida por sua erudição, esta escola ensinava que o Novo Testamento não era um documento histórico. Com esta premissa, Ramsay investigou as afirmações bíblicas na medida em que pesquisava ao longo da Ásia Menor. O que ele descobriu fez com que invertesse sua visão inicial. Ele escreve:

Eu comecei com uma mente desfavorável a [Atos], pois a ingenuidade e aparente perfeição da teoria de Tubingen de uma vez me havia completamente convencido. Não cabia então, no meu curso de vida, investigar o assunto detalhadamente; mas, mais recentemente, eu me via muitas vezes em contato com o Livro de Atos como uma autoridade para a topografia, antiguidades, e sociedade da Ásia Menor. Gradualmente, me ocorreu que, em vários detalhes, a narrativa demonstrava assombrosa veracidade.(6)

A precisão de Lucas é demonstrada pelo fato de que ele cita personagens históricos fundamentais na sequência de tempo correta, bem como títulos corretos para os oficiais do governo em vários lugares: em Tessalônica, politarcas; Éfeso, mordomos do templo; Chipre, procônsul; e Malta, o principal da ilha.

No anúncio de Lucas acerca do ministério público de Jesus (Lucas 3:1), ele menciona “Lisânias, tetrarca de Abilene”. Os estudiosos questionavam a credibilidade de Lucas, visto que o único Lisânias conhecido durante séculos foi um governador de Cálcis que governou de 40 a 36 a.C. Contudo, foi encontrada uma inscrição datando do tempo de Tibério – que governou de 14 a 37 a.D. – registrando a dedicação de um templo que cita Lisânias como “tetraca de Abilene”, próxima a Damasco. Isto se encaixa perfeitamente com o relato de Lucas.

Em Atos 18:12-17, Paulo foi trazido diante de Gálio, procônsul da Acaia. Uma vez mais, a arqueologia confirma este relato. Em Delfos, foi encontrada uma inscrição de uma carta do Imperador Cláudio. Nela, ele diz: “Lúcio Júnio Gálio, meu amigo, e procônsul da Acaia ...”.(7) Historiadores datam a inscrição de 52 a.D., o que corresponde ao tempo da estada do apóstolo ali, em 51.

Em Atos 19:22 e Romanos 16:23, Erasto, um cooperador de Paulo, é chamado de tesoureiro da cidade de Corinto. Arqueólogos escavando um teatro coríntio em 1928 descobriram uma inscrição. Ela diz: “Erasto, em troca do seu edilado, assentou o pavimento à sua própria custa”. O pavimento fora assentado em 50 a.D. A designação do tesoureiro descreve a obra de um edil coríntio.

Em Atos 28:7, Lucas dá a Públio, homem importante da ilha de Malta, o título de “principal da ilha”. Os estudiosos questionavam este estranho título e não o consideravam histórico. Inscrições foram recentemente descobertas na ilha que, de fato, dão a Públio o título de “principal”.

“Ao todo, Lucas cita trinta e duas regiões, cinquenta e quatro cidades, e nove ilhas, sem erro”.(8) A. N. Sherwin-White declara: “Para Atos, a confirmação de historicidade é esmagadora ... Qualquer tentativa de rejeitar sua historicidade básica agora deve parecer absurda. Os historiadores romanos por muito tempo tiveram isto por certo”.(9)

O Sudário de Turim

Os Evangelhos registram que, após a Sua crucificação, Jesus foi envolto em um longo tecido de linho e colocado no túmulo (Mateus 27:59). João registra que, quando Pedro investigou o túmulo vazio, encontrou o tecido fúnebre bem dobrado próximo onde Cristo havia jazido (20:6-7).

Uma mortalha de linho chamada Sudário de Turim, à mostra no Vaticano, tem sido declarada como sendo o tecido fúnebre. Tem 4,5 metros de comprimento e 1,1 de largura. Nele há uma imagem com pulsos e tornozelos perfurados que se acredita ser de Cristo.

A mortalha apareceu pela primeira vez em público algum tempo depois de 1357, em Lirey, França. Um cavaleiro chamado Geoffrey de Charny trouxera a mortalha para a França. Em 1453, a neta de de Charny deu a mortalha ao Duque da Savóia, que então, em 1578, trouxe-o a Turim, Itália. Em 1983, foi legado ao Vaticano.

Em 1898, Secondo Pia fotografou a mortalha e acreditou que a imagem fosse uma imagem negativa, como a de uma fotografia. Isto aumentou o mistério da mortalha, visto que a fotografia não havia sido inventada durante a época medieval. Em 1973, um grupo de especialistas confirmaram o fato de que nenhum pigmento de tinta fora encontrado, nem mesmo sob ampliação. Para muitos, isto era prova da autenticidade da mortalha.

O estudo mais extensivo foi realizado em 1977. Uma equipe internacional de cientistas suíços, americanos e italianos estudaram a mortalha durante cinco dias no Palácio Real de Savóia, em Turim. Eles usaram seis toneladas de equipamentos e 2,5 milhões de dólares para sua pesquisa. Foi um dos artefatos mais intensamente estudados de todos os tempos.
O estudo não pode determinar a autenticidade do tecido. Experimentos que se seguiram provaram que a imagem continha sangue, bem como aragonita, um carbonato de cálcio especial que está presente nos túmulos do primeiro século de Jerusalém. O criminologista suiço Max Frei encontrou quarenta e oito amostras de pólen, dos quais sete poderiam ter vindo de plantas da Palestina. A configuração do tecido era de sarja em ziguezague, um estilo que existia em tempos antigos.

Embora estas descobertas apoiassem a autenticidade da mortalha, outros achados testificaram em contrário. Em 1987, a mortalha foi submetida ao teste do carbono 14 a fim de se verificar sua data. Laboratórios em Oxford, Zurique e na Universidade do Arizona testaram o tecido. O resultado indicou para a mortalha uma data no século quatorze. Esta conclusão continua a ser desafiada, e testes futuros certamente virão. Outro problema é que moedas cunhadas por Pôncio Pilatos foram colocadas sobre os olhos da figura. Este não era um costume judaico, nem parece provável que José de Arimatéia ou Nicodemos teriam colocado sobre os olhos de Jesus uma moeda com a imagem do líder que o condenou.

Apesar de datar do século quatorze, os cientistas ainda são incapazes de explicar como a imagem negativa foi criada. A mortalha permanece um mistério, bem como uma lição para nós, como crentes, de que não deveríamos pôr nossa fé em artigos misteriosos.

Notas

1. Vede o artigo "A Autoridade da Bíblia" (sem previsão de tradução).
2. Josefo, Livro 18, Capítulo 3:3
3. Tacitus, Anais, 15.44
4. Júlio Africano, Cronografia, 18:1.
5. Ibid.
6. William Ramsay, St. Paul the Traveler and the Roman Citizen (Grand Rapids, MI: Baker Books, 1982), 8.
7. John McRay, Archaeology and the New Testament (Grand Rapids, MI.: Baker Books, 1991), 227.
8. Norman Geisler, Baker Encyclopedia of Apologetics (Grand Rapids, MI.: Baker Books, 1999), 47.
9. A. N. Sherwin-White, Roman Society and Roman Law in the New Testament (Oxford: Clarendon Press, 1963), 189.

© 2000 Probe Ministries.


Fonte: Probe Ministries (www.probe.org)
Tradução: Rodrigo Reis de Faria