sábado, 27 de janeiro de 2018

Usos da História da Igreja



Philip Schaff

A história da igreja é a mais extensa e, incluindo a história sagrada do Antigo e do Novo Testamento, o ramo mais importante da teologia. É a espinha dorsal da teologia ou aquilo em que ela se apóia, e o depósito do qual deriva suas provisões. É o melhor comentário sobre o próprio Cristianismo, sob todos os seus aspectos e em todas as suas relações. A plenitude da correnteza é a glória da fonte da qual ela flui.


A história da igreja tem, em primeiro lugar, um interesse geral para toda mente culta, na medida em que mostra o desenvolvimento moral e religioso de nossa raça e a execução gradual do plano divino da redenção.


Ela tem valor especial para o teólogo e o ministro do evangelho, como a chave para a presente condição da Cristandade e o guia para um trabalho bem sucedido em sua causa. O presente é fruto do passado e germe do futuro. Nenhuma obra pode permanecer, a menos que se desenvolva a partir das necessidades reais do tempo lance raízes firmes no solo da história. Ninguém que pisoteie os direitos de uma geração passada pode reivindicar a consideração de sua posteridade. A história da igreja não é uma mera loja de curiosidades. Seus fatos não são ossos secos, mas personificam realidades vivas, os princípios gerais e as leis para nossa própria orientação e ação. Quem estuda a história da igreja estuda o próprio Cristianismo em todas as suas fases, e a natureza humana sob a influência do Cristianismo tal como é agora e será até o fim dos tempos.


Finalmente, a história da igreja tem valor prático para todo cristão, como um depósito de alertas e encorajamento, de consolação e conselhos. É a filosofia dos fatos, o Cristianismo em exemplos vivos. Se a história em geral é, como a descreve Cícero, “testis temporum, lux veritatis, et magistra vitae”, ou como a chama Diodoro, “serva da providência, sacerdotisa da verdade e mãe da sabedoria”, a história do reino do céu é tudo isto no mais alto grau. Depois das Escrituras Sagradas, que são elas mesmas uma história e depósito da revelação divina, não há prova mais forte da presença contínua de Cristo com o seu povo, justificativa mais completa do Cristianismo, fonte mais rica de sabedoria e experiência espiritual, incentivo mais profundo à virtude e piedade, do que a história do reino de Cristo. Cada geração tem uma mensagem da parte de Deus para o homem, que é da maior importância que o homem entenda.

A Epístola aos Hebreus descreve, em incitante eloqüência, a nuvem de testemunhas da antiga dispensação para encorajamento dos cristãos. Por que a nuvem maior de apóstolos, evangelistas, mártires, confessores, pais, reformadores e santos de cada geração e língua, desde a vinda de Cristo, não deveria ser apresentada com o mesmo propósito? Eles foram os heróis da fé e do amor cristão, as cartas vivas de Cristo, o sal da terra, os benfeitores e a glória de nossa raça; e é impossível estudar corretamente os seus pensamentos e feitos, suas vidas e mortes, sem ser enlevado, edificado, confortado e encorajado a seguir seu santo exemplo, para que finalmente nós, pela graça de Deus, sejamos recebidos na sua comunhão, para passarmos com eles uma bendita eternidade no louvor e contentamento do mesmo Deus e Salvador.


Fonte: History of the Christian Church (www.ccel.org)
Tradução: Rodrigo Reis de Faria

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