terça-feira, 14 de maio de 2013

Ressurreição: Fato ou Ficção?


Patrick Zuckeran

Introdução

O evento mais importante da história é a ressurreição de Jesus Cristo. É a evidência mais forte de que Jesus é o Filho de Deus. Este evento dá a homens e mulheres a esperança certa de vida eterna – uma esperança que não apenas nos dá alegria quando olhamos para o futuro, mas também nos fornece poderosas razões para vivermos hoje.

Ao longo dos séculos, porém, têm surgido estudiosos que tentam negar o relato da ressurreição. Nossas escolas estão cheias de livros de história que oferecem explicações alternativas para a ressurreição ou, em alguns casos, nem sequer mencionam este evento singular.

Neste ensaio, vamos fazer uma análise das evidências em favor da ressurreição e verificar se este evento é fato histórico ou ficção. Mas, primeiro, devemos estabelecer o fato de que Jesus Cristo foi um personagem histórico, e não uma lenda. Existem vários documentos históricos extremamente fiéis que testificam a respeito de Jesus. Primeiro, consideremos os próprios quatro Evangelhos. Os autores Mateus, Marcos, Lucas e João registraram fatos muito específicos dos eventos em torno da vida de Jesus, e a arqueologia tem confirmado a fidelidade do Novo Testamento. Centenas de fatos, como nomes de oficiais, localidades geográficas, moedas da época e datas de eventos, têm sido confirmadas. Sir William Ramsay, um dos maiores geógrafos do século 19, tornou-se firmemente convencido da fidelidade do Novo Testamento em conseqüência das evidências esmagadoras que descobriu durante suas pesquisas. Por esta causa, ele inverteu completamente o seu antagonismo contra o Cristianismo.

A evidência textual mostra decisivamente que os Evangelhos foram escritos e circularam durante o tempo de vida daqueles que testemunharam os eventos. Como há tantos nomes e lugares específicos mencionados, as testemunhas oculares poderiam ter facilmente desacreditado os escritos. O Novo Testamento nunca teria sobrevivido se os fatos tivessem sido inxatos. Estes fatos indicam que os Evangelhos são historicamente confiáveis e demonstram que Jesus é um personagem histórico. Para maiores informações sobre a fidelidade da Bíblia, confira o ensaio intitulado Authority of the Bible.*

Outro documento que apóia a historicidade de Jesus é a obra de Josefo, um historiador judeu potencialmente hostil. Ele registrou as Antiguidades – uma história dos judeus para os romanos – durante o tempo da vida de Jesus. Ele escreveu: “Ora, por esse tempo surgiu Jesus, um homem sábio – se é que podemos chamá-lo de homem”.(1) Josefo continua relatando outros detalhes específicos sobre a vida e morte de Jesus, os quais correspondem com o Novo Testamento. Historiadores romanos como Suetônio, Tácito e Plínio o Jovem também se referem a Jesus como um indivíduo historicamente real.

Os céticos geralmente desafiam os cristãos a provarem cientificamente a ressurreição. Devemos entender que o método científico baseia-se na demonstração de que algo é um fato por meio de observações repetidas do objeto ou evento. Portanto, o método é limitado a eventos que podem ser repetidos, e a objetos que podem ser observados. Eventos históricos não podem ser repetidos. Por exemplo, podemos observar repetidamente a criação do nosso sistema solar? A resposta óbvia é não, mas isto não significa que a criação do sistema solar não tenha acontecido.

Ao provar um evento histórico como a ressurreição, devemos considerar a evidência histórica. Até agora em nossa discussão, demonstramos que a crença no Jesus histórico do Novo Testamento certamente é razoável, e que o método científico não pode ser aplicado para provar um evento histórico. No restante deste ensaio, examinaremos os fatos históricos concernentes à ressurreição e veremos o que as evidências revelam.

Examinando as Evidências

Três fatos devem ser considerados quando investigamos a ressurreição: o túmulo vazio, a transformação dos apóstolos e a pregação da ressurreição originando-se em Jerusalém.

Examinemos primeiramente o caso do túmulo vazio. Jesus era um personagem bem conhecido em Israel. Seu lugar de sepultamento era conhecido por muitas pessoas. De fato, Mateus registra o local exato do túmulo de Jesus. Ele declara: “E José [de Arimatéia], tomando o corpo, envolveu-o num fino e limpo lençol, e o pôs no seu sepulcro novo” (Mateus 27:59-60). Marcos afirma que José era “um membro proeminente do Conselho” (Marcos 15:43).

Teria sido destrutivo para os escritores inventar um homem de tamanha proeminência, citá-lo especificamente, e designar o local do túmulo, visto que as testemunhas oculares teriam facilmente desacreditado as afirmações falaciosas dos autores.

Fontes judaicas e romanas testificam de um túmulo vazio. Mateus 28:12-13 declara especificamente que os principais dos sacerdotes inventaram a história de que os discípulos roubaram o corpo. Não haveria necessidade desta invenção se o túmulo não estivesse vazio. Os opositores da ressurreição devem explicar isto. Se o túmulo não estivesse vazio, a pregação dos apóstolos não teria durado um dia. Todas o que as autoridades precisariam fazer para por um fim ao Cristianismo seria mostrar o corpo de Jesus.

Juntamente com o túmulo vazio há o fato de que o corpo de Jesus nunca foi encontrado. Nem um registro histórico do primeiro ou segundo século foi escrito atacando a factualidade do túmulo vazio ou afirmando a descoberta do corpo. Tom Anderson, ex-presidente da Associação de Advogados da Califórnia, declara:

Assumamos que os relatos escritos das Suas aparições a centenas de pessoas sejam falsos. Quero propor uma questão. Com evento tão bem publicado, você não acha que seria razoável que um historiador, uma testemunha ocular, um antagonista, registrasse, para o tempo futuro, que ele havia visto o corpo de Cristo? ... O silêncio da história é gritante quando se trata do testemunho contra a ressurreição.(2)

Em segundo lugar, temos as vidas transformadas dos apóstolos. Está registrado nos Evangelhos que, enquanto Jesus estava sendo julgado, os apóstolos O abandonaram por medo. Contudo, 10 dos 11 apóstolos morreram como mártires, crendo que Cristo ressuscitou dos mortos. O que explica a sua transformação em homens dispostos a morrer pela sua mensagem? Deve ser um evento muito convincente para conseguir explicar isto.

Em terceiro lugar, os apóstolos começaram a pregar a ressurreição em Jerusalém. Isto é significativo, uma vez que esta é a mesma cidade em que Jesus foi crucificado. Esta era a cidade mais hostil em que pregar. Além disso, toda a evidência estava ali para que todos investigassem. Lendas lançam raízes em terras estrangeiras, ou séculos após o evento. Desacreditar tais lendas é difícil, uma vez que os fatos são difíceis de confirmar. Contudo, neste caso, a pregação ocorre na cidade do evento, imediatamente após o seu ocorrido. Cada fato possível poderia ter sido completamente investigado.

Qualquer um que estude a ressurreição deve explicar de algum modo estes três fatos.

Cinco Explicações Comuns

Ao longo do tempo, cinco explicações têm sido usadas para argumentar contra a ressurreição. Examinaremos estas explicações para verificar se são válidas.

A Teoria do Túmulo Errado

Os proponentes deste primeiro argumento declaram que, de acordo com os relatos do Evangelho, as mulheres visitaram o sepulcro de manhã cedo, enquanto ainda estava escuro. Devido à sua condição emocional e à escuridão, elas visitaram o túmulo errado. Arrebatadas de emoção por ver que estava vazio, elas se precipitaram em dizer aos discípulos que Jesus havia ressuscitado. Os discípulos, por sua vez, correram para Jerusalém para proclamar a ressurreição.

Existem vários erros graves nesta explicação. Primeiro, é extremamente duvidoso que os apóstolos não tivessem corrigido o erro das mulheres. O Evangelho de João fornece um relato detalhado sobre eles fazendo exatamente isto. Segundo, o local do túmulo era conhecido não apenas pelos seguidores de Cristo, mas também pelos seus opositores. Os Evangelhos deixam claro que o corpo foi sepultado no túmulo de José de Arimatéia, um membro do conselho judaico. Se o corpo ainda estivesse no túmulo enquanto os apóstolos começaram a pregar, as autoridades simplesmente teriam de ir ao túmulo certo, mostrar o corpo, e fazê-lo marchar pelas ruas. Isto teria acabado com a fé cristã de uma vez por todas. Lembre-se de que a pregação da ressurreição começou em Jerusalém, a quinze minutos de distância do lugar da crucificação e do túmulo. Estes fatores tornam esta teoria extremamente fraca.

A Teoria da Alucinação

Esta segunda teoria sustenta que a ressurreição de Cristo aconteceu apenas nas mentes dos discípulos. Dr. William McNeil articula esta posição em seu livro, A World History. Ele escreve:

As autoridades romanas em Jerusalém prenderam e crucificaram Jesus. ... Mas, logo em seguida, os desalentados apóstolos se reuniram em um cenáculo e subitamente sentiram novamente a presença reconfortante de seu mestre. Isto pareceu ser evidência absolutamente convincente de que a morte de Jesus sobre a cruz não havia sido o fim, mas o começo. ... Os apóstolos se emocionaram de excitação e tentaram explicar a todos que dessem ouvidos tudo o que havia acontecido.(3)

Esta posição é irreal por diversos motivos. Para que alucinações deste tipo aconteçam, os psiquiatras concordam que diversas condições devem existir. Contudo, esta situação não era conducente a alucinações. Aqui vão diversos motivos. Alucinações geralmente ocorrem com pessoas que são imaginativas e de natureza nervosa. Contudo, as aparições de Jesus ocorreram a uma variedade de pessoas. Alucinações são subjetivas e individuais. Duas pessoas não têm a mesma experiência. Neste caso, mais de quinhentas pessoas (1 Coríntios 15) têm o mesmo relato. Alucinações ocorrem apenas em momentos e lugares particulares e estão associadas aos eventos. As aparições da ressurreição ocorrem em muitos ambientes diferentes, e em ocasiões diferentes. Finalmente, alucinações desta natureza ocorrem àqueles que querem intensamente crer. Contudo, vários deles, tais como Tomé e Tiago, o meio-irmão de Jesus, eram hostis às novas da ressurreição.

Se alguém continua argumentando em favor desta posição, mesmo assim deverá explicar o túmulo vazio. Se os apóstolos apenas imaginassem a ressurreição em sua pregação, tudo o que as autoridades precisariam fazer era mostrar o corpo, e isto teria acabado com o sonho dos apóstolos. Estes fatos tornam estas duas teorias extremamente improváveis.

A Teoria do Desmaio

Uma terceira teoria esposa que Jesus nunca morreu na cruz, mas apenas desmaiou e foi equivocamente considerado morto. Depois de três dias Ele reviveu, saiu do túmulo, e apareceu aos Seus discípulos, os quais acreditaram que Ele havia ressuscitado dos mortos. Esta teoria foi desenvolvida no começo do século dezenove, mas hoje tem sido completamente abandonada por diversos motivos.

Primeiro, é uma impossibilidade física que Jesus pudesse ter sobrevivido às torturas da crucificação. Segundo, os soldados que crucificaram Jesus eram especialistas em executar esse tipo de pena de morte. Além disso, eles tomaram diversas precauções para assegurar que Ele estivesse realmente morto. Eles enfiaram uma lança em Seu lado. Quando sangue e água saem separadamente, isto indica que as células do sangue começaram a se separar do plasma – o que acontece apenas quando o sangue pára de circular. Ao decidir quebrar as pernas dos criminosos (a fim de apressar o processo de morte), eles examinaram cuidadosamente o corpo de Jesus e descobriram que Ele já estava morto.

Após ser descido da cruz, Jesus foi coberto com mais de trinta quilos de especiarias e embalsamado. É irracional crer que, após três dias, sem comida nem bebida, Jesus revivesse. Ainda mais difícil de acreditar é que Jesus pudesse mover uma pedra de duas toneladas, subjugar os guardas, e depois andar várias milhas até Emaús. Ainda que Jesus tivesse feito isto, Sua aparição aos discípulos como meio morto e em desesperada necessidade de atenção médica não os teria incitado a adorarem-nO como Deus.

No século 19, David F. Strauss, um opositor do Cristianismo, pôs fim a qualquer esperança nesta teoria. Embora não cresse na ressurreição, ele concluiu que esta era uma teoria muito estranha. Ele disse:

É impossível que um ser que havia escapado meio morto do sepulcro, arrastando-se fraco e doente, precisando de tratamento médico, necessitando de curativos, de recuperação e descanso, e que, finalmente, ainda se submetesse aos seus sofrimentos, pudesse ter dado aos discípulos a impressão de que era um Vencedor sobre a morte e a sepultura, o Príncipe da vida – uma impressão que estaria na base de seu futuro ministério.(4)

A Teoria do Corpo Roubado

Este quarto argumento mantém que autoridades judaicas e romanas roubaram o corpo ou o moveram para salvaguardá-lo. É inconcebível pensar nisto como uma possibilidade. Se eles tivessem o corpo, por que precisariam acusar os discípulos de roubá-lo? (Mateus 28:11-15). Em Atos 4, as autoridades judaicas ficaram enfurecidas e fizeram tudo o que podiam para impedir a difusão do Cristianismo. Por que os discípulos enganariam o seu próprio povo para que acreditassem em um falso Messias, quando sabiam que este engano significaria as mortes de centenas de seus amigos crentes? Se realmente soubessem onde estava o corpo, eles poderiam tê-lo exposto, e acabado com a fé que lhes causava tantos problemas e embaraços. Durante toda a pregação dos apóstolos, as autoridades nunca tentaram refutar a ressurreição mostrando um corpo. Esta teoria tem pouco mérito.

A Teoria de que os Soldados Adormeceram

Até agora temos estudado as evidências da ressurreição. Examinamos quatro teorias usadas na tentativa de invalidar este milagre. A análise cuidadosa revelou que as teorias foram inadequadas para refutar a ressurreição. A quinta e mais popular teoria existe desde o dia da ressurreição e ainda é crida por muitos opositores do Cristianismo. Mateus 28:12-13 articula esta posição.

E, congregados os príncipes dos sacerdotes com os anciãos, e tomando conselho entre si, deram muito dinheiro aos soldados, dizendo: “Dizei: Vieram de noite os seus discípulos e, dormindo nós, o furtaram.

Muitos têm se questionado por que Mateus registra isso e, em seguida, não o refuta. Talvez seja porque esta explicação fosse tão absurda que ele não visse a necessidade de fazê-lo.
Esta explicação continua sendo uma impossibilidade por diversos motivos. Primeiro, se os soldados estavam dormindo, como sabiam que foram os discípulos que roubaram o corpo? Segundo, parece fisicamente impossível que os discípulos passassem pelos soldados e em seguida movessem uma pedra de duas toneladas em completo silêncio. Certamente, os guardas teriam ouvido alguma coisa.

Terceiro, o túmulo estava protegido por um selo romano. Qualquer que movesse a pedra romperia o selo – um crime punido com a morte. O desânimo e a covardia dos discípulos tornam difícil de acreditar que eles repentinamente se fizessem corajosos a ponto de enfrentar um destacamento de soldados, roubar o corpo, e em seguida mentir sobre a ressurreição, quando, no fim das contas, enfrentariam uma vida de sofrimento e morte pela sua mensagem inventada.

Quarto, os guardas romanos não dormiriam, tendo um dever tão importante. Havia penalidades por se fazer isto. Os discípulos precisariam tê-los subjugado - uma cena bastante improvável.

Finalmente, no Evangelho de João as roupas mortuárias foram encontradas “estavam no chão, e o lenço, que tinha estado sobre a cabeça de Jesus. O lenço não estava com os lençóis, mas enrolado num lugar à parte” (20:6, 7). Não havia tempo suficiente para os discípulos passarem pelos guardas, rolarem a pedra, desenfaixarem o corpo, enfaixarem-no em suas faixas, e dobrarem ordenadamente o lenço à parte dos lençóis de linho. Em um roubo, os homens teriam arremessado as vestes em desordem e fugido com medo de serem presos.

Conclusão: Implicações Monumentais

Estas cinco teorias explicam inadequadamente o túmulo vazio, a transformação dos apóstolos e o nascimento do Cristianismo na cidade da crucificação. A conclusão que devemos considerar seriamente é de que Jesus ressuscitou da sepultura. As implicações disto são monumentais.

Primeiro, se Jesus ressuscitou dos mortos, então o que Ele disse sobre Si mesmo é verdade. Ele afirmou: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá” (João 11:25). Ele também disse: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim” (João 14:6). A vida eterna é encontrada somente por meio de Jesus Cristo. Qualquer crença religiosa que contradiga isto deve ser falsa. Todos os líderes religiosos foram enterrados em um sepulcro. Seus túmulos tornaram-se lugares de adoração. O local do túmulo de Jesus é desconhecido, porque está vazio  seu corpo não está lá. Não havia necessidade de transformar em santuário um túmulo vazio.

Segundo, Paulo escreve em 1 Coríntios 15:54, “a morte foi tragada na vitória”. A morte física não é o fim  a vida eterna com o nosso Senhor aguarda a todos os que nEle confiam, porque Jesus venceu a morte.

Referências

1. Josephus, Antiquities xviii. 33. (Early second Century).
2. Josh McDowell, The Resurrection Factor (San Bernadino, Calif.: Here's Life Publishers, 1981), p. 66.
3. William McNeil, A World History (New York: Oxford University Press, 1979), p. 163.
4. David Strauss, The Life of Jesus for the People , vol. 1, 2nd edition (London: Williams and Norgate, 1879), p. 412.

Para Leituras Adicionais

Craig, William Lane. Apologetics: An Introduction. Chicago: Moody Press, 1984.
Geisler, Norman. When Skeptics Ask. Wheaton, Ill.: Victor Press, 1989.
Greenleaf, Simon. The Testimony of the Evangelists; The Gospels Examined by the Rules of Evidence. Grand Rapids: Kregal Publications, 1995.
Little, Paul. Know Why You Believe. Downers Grove, Ill.: InterVarsity Press, 1988.
McDowell, Josh. Evidence That Demands a Verdict. San Bernadino, Calif.: Here's Life Publishers, 1979.
The Resurrection Factor. San Bernardino, Calif.: Here's Life Publishers, 1981.
McNeill, William. A World History, Third Edition. New York: Oxford University Press, 1979.
Montgomery, John, ed. Evidence for Faith. Dallas: Probe Books, 1991.
Morison, Frank. Who Moved the Stone? Grand Rapids: Zondervan Publishing, 1958.
Strauss, David. The Life of Jesus for the People. Volume 1, Second Edition. London: Williams and Norgate, 1879.

©1997 Probe Ministries.

* Sem tradução.

Fonte: Probe Ministries (www.probe.org)
Tradução: Rodrigo Reis de Faria

quinta-feira, 9 de maio de 2013

A Confiabilidade Histórica dos Evangelhos

Patrick Zuckeran


Diferenças entre os Quatro Evangelhos


Os céticos criticam os Evangelhos – os quatro primeiros livros do Novo Testamento – como se fossem mais de natureza lendária do que histórica. Eles apontam supostas contradições entre Mateus, Marcos, Lucas e João. Argumentam também que os Evangelhos foram escritos séculos depois do tempo de vida das testemunhas oculares. A data tardia dos escritos permitiu que lendas e exageros proliferassem - dizem eles.

Os Evangelhos são históricos ou míticos?

O primeiro desafio a ser tratado é como explicar as diferenças entre os quatro Evangelhos. Cada um deles é diferente em natureza, conteúdo e nos fatos que incluem ou excluem. A razão das variações é que cada autor escreveu para uma audiência diferente, e a partir de sua própria e exclusiva perspectiva. Mateus escreveu para uma audiência judaica, a fim de provar-lhes que Jesus é realmente o seu Messias. É por isso que Mateus inclui muitos dos ensinos de Cristo e faz várias referências a profecias do Antigo Testamento. Marcos escreveu para uma audiência grega, ou gentia, a fim de provar que Jesus é o Filho de Deus. Por esta razão, ele faz o seu argumento enfocando os eventos da vida de Cristo. Seu evangelho move-se rapidamente de um evento para o outro, demonstrando o senhorio de Cristo sobre toda a criação. Lucas escreveu a fim de fornecer um relato histórico acurado da vida de Jesus. João escreveu após refletir por muitos anos em seu encontro com Cristo. Com esse entendimento, próximo do fim de sua vida, João se assentou e escreveu o mais teológico de todos os evangelhos.

Deveríamos esperar algumas diferenças entre quatro relatos independentes. Se fossem idênticos, suspeitaríamos da colaboração dos escritores entre si. Em razão de suas diferenças, os quatro Evangelhos na verdade nos dão uma representação mais completa e rica de Jesus.

Vou lhe dar um exemplo. Imagine que quatro pessoas escrevessem uma biografia sobre a sua vida: seu filho, seu pai, um colega de trabalho e um bom amigo. Cada um enfocaria aspectos diferentes da sua vida e escreveria de uma perspectiva exclusiva. Um escreveria sobre você como pai, o outro como um filho crescendo, o outro como um profissional, e o outro como um companheiro. Cada um poderia incluir diferentes histórias ou ver o mesmo evento de um ângulo diferente, mas suas diferenças não significam que eles estejam errados. Quando colocássemos os quatro relatos juntos, teríamos um quadro mais rico de sua vida e caráter. É isso que acontece nos Evangelhos.

Portanto, reconhecemos que as diferenças não significam necessariamente erros. Os céticos têm feito alegações de erros por séculos, contudo a vasta maioria das acusações já foi respondida. O estudioso do Novo Testamento, Dr. Craig Blomberg, escreve: “A despeito de dois séculos de investida cética, é justo dizer que todas as supostas inconsistências entre os Evangelhos têm recebido, no mínimo, soluções plausíveis”.(1) Outro estudioso, Murray Haris, enfatiza: “Mesmo nesse caso, a presença de discrepâncias em detalhes circunstanciais não é prova de que o fato central não seja histórico”.(2) Os quatro Evangelhos nos dão um relato complementar, não contraditório.

A Data dos Escritos do Novo Testamento: Evidência Interna


Os críticos afirmam que os Evangelhos foram escritos séculos depois do tempo de vida das testemunhas oculares. Isto permitiria que mitos sobre a vida de Jesus proliferassem. Será que os Evangelhos foram escritos por testemunhas oculares – tal como afirmam – ou foram escritos séculos depois? Os fatos históricos parecem constituir um forte argumento em favor de uma data no primeiro século.

O ministério de Jesus foi de 27 a 30 a.D. O famoso estudioso do Novo Testamento, F. F. Bruce, fornece forte evidência de que o Novo Testamento foi concluído por volta de 100 a.D.(3) A maioria dos escritos do Novo Testamento foram completados de vinte a quarenta anos antes disso. Os Evangelhos são tradicionalmente datados da seguinte maneira: acredita-se que Marcos foi o primeiro evangelho escrito, por volta de 60 a.D. Mateus e Lucas vêm em seguida, e foram escritos entre 60 e 70 a.D.; João é o último evangelho, escrito entre 90 e 100 a.D.

A evidência interna apoia estas datas antigas por diversos motivos. Os primeiros três Evangelhos profetizaram a queda do Templo de Jerusalém, que aconteceu em 70 a.D. Contudo, o cumprimento não é mencionado. É estranho que estes três Evangelhos predigam este evento fundamental, mas não o registrem acontecendo. Por que não mencionam um marco profético tão importante? A explicação mais plausível é que isto ainda não havia acontecido no tempo em que Mateus, Marcos e Lucas foram escritos.

No livro de Atos, o Templo representa um papel central na nação de Israel. Lucas escreve como se o Templo fosse parte importante da vida judaica. Ele também termina Atos com uma nota estranha: Paulo vivendo sob prisão domiciliar. É estranho que Lucas não registre a morte de seus dois personagens principais – Pedro e Paulo. A razão mais plausível para isto é que Lucas terminou de escrever Atos antes do martírio de Pedro e de Paulo, em 64 a.D. Um ponto importante a destacar é que o Evangelho de Lucas precede Atos, apoiando ainda mais a datação tradicional de 60 a.D. Além disso, a maioria dos estudiosos concorda que Marcos precede Lucas – tornando o Evangelho de Marcos ainda mais antigo.

Finalmente, a maioria dos estudiosos do Novo Testamento acredita que as epístolas de Paulo foram escritas de 48 a 60 a.D. O perfil da vida de Jesus dado por Paulo se encaixa com o dos Evangelhos. 1 Coríntios é um dos livros menos disputados com respeito a sua datação e autoria paulina. No capítulo 15, Paulo resume o evangelho e reforça a premissa de que este é o mesmo evangelho pregado pelos apóstolos. Ainda mais convincente é que Paulo cita o Evangelho de Lucas em 1 Timóteo 5:18 – mostrando-nos que o Evangelho de Lucas estava realmente completo durante o tempo de vida de Paulo. Isto moveria o tempo da conclusão do Evangelho de Lucas para junto de Marcos e Mateus.

A evidência interna apresenta um forte argumento em favor da datação antiga dos Evangelhos.

A Data dos Evangelhos: Evidência Externa


Será que os Evangelhos foram escritos por testemunhas oculares dos eventos, ou só foram registrados séculos depois? Assim como a evidência interna, a evidência externa também apoia uma data no primeiro século.

Felizmente, os estudiosos do Novo Testamento possuem uma enorme quantidade de manuscritos antigos como evidência. A evidência documentária em favor do Novo Testamento ultrapassa em muito qualquer outra obra de seu tempo. Temos mais de 5.000 manuscritos, e muitos são datados de poucos anos após a vida de seus autores.

Eis aqui alguns documentos fundamentais. Um manuscrito importante é o Papiro Chester Beatty. Contém a maior parte dos escritos do Novo Testamento, e data de aproximadamente 250 a.D.

O Papiro Bodmer contém a maior parte de João, e data de 200 a.D. O Papiro Rylands é outro que foi encontrado no Egito, e que contém um fragmento de João, datando de 130 a.D. A partir deste fragmento, podemos concluir que João foi completado bem antes de 130 a.D. porque, não apenas o evangelho teve de ser escrito, mas teve de ser copiado manualmente e fazer o seu caminho da Grécia até o Egito. Como a vasta maioria dos estudiosos concorda que João é o último evangelho escrito, podemos afirmar a sua data no século primeiro, juntamente com os outros três, com maior segurança.

Uma evidência final provém dos Rolos do Mar Morto (Caverna 7). Jose Callahan descobriu um fragmento do Evangelho de Marcos e datou-o como tendo sido escrito em 50 a.D. Ele também descobriu fragmentos de Atos e outras epístolas, datando-os como tendo sido escritos pouco depois de 50 a.D.(4)

Outra linha de evidência são os escritos dos pais da igreja. Clemente de Roma enviou uma carta à igreja de Corinto em 95 a.D., na qual citou os Evangelhos e outras porções do Novo Testamento. Inácio, bispo de Antioquia, escreveu uma carta antes de seu martírio em Roma, em 115 a.D., citando todos os Evangelhos e outras epístolas do Novo Testamento. Policarpo escreveu aos filipenses em 120 a.D. e citou os Evangelhos e epístolas do Novo Testamento. Justino Mártir (150 a.D.) cita João 3. Os pais da igreja do começo do segundo século estavam familiarizados com os escritos dos apóstolos e citavam-nos como Escritura inspirada.

A datação antiga é importante por dois motivos. Quanto mais próximo um registro histórico está da data do evento, é mais provável que o registro seja exato. A datação antiga permite que testemunhas oculares ainda estivessem vivas quando os Evangelhos estavam circulando, podendo atestar a sua exatidão. Os apóstolos geralmente apelam para o testemunho da multidão hostil, apontando também para o conhecimento que tinha dos fatos (Atos 2:22, 26:26). Além disso, o tempo é breve demais para que lendas se desenvolvam. Os historiadores estão de acordo que leva aproximadamente duas gerações, ou oitenta anos, para que relatos lendários se estabeleçam.

A partir da evidência, podemos concluir que os Evangelhos foram realmente escritos pelos autores a que são atribuídos.

Quão Confiável era a Tradição Oral?


Há pouco defendi a datação antiga dos Evangelhos. Apesar desta datação antiga, existe um lapso de tempo de vários anos entre a ascensão de Jesus e o registro dos Evangelhos. Existe um período durante o qual os relatos do evangelho foram confiados à memória pelos discípulos, e transmitidos oralmente. A questão que devemos fazer é: A tradição oral foi memorizada e transmitida fielmente? Os céticos afirmam que a memória e a tradição oral não podem preservar fielmente os relatos de pessoa para pessoa por muitos anos.

A evidência mostra que em culturas orais, onde a memória tem sido treinada durante gerações, a memória oral pode preservar fielmente e transmitir muita informação. Deuteronômio 6:4-9 revela-nos o quanto a instrução e a memória oral do ensino divino eram enfatizados na cultura judaica. É um fato bem conhecido que os rabinos possuíam o Antigo Testamento e grande parte da lei oral confiados à memória. Os judeus colocavam um alto valor na memorização de qualquer registro que refletisse a Escritura inspirada e a sabedoria de Deus. Estudei sob um professor grego que possuía os evangelhos memorizados palavra por palavra. Em uma cultura onde isto fosse praticado, as habilidades de memorização seriam bem mais avançadas em comparação com a nossa hoje. O estudioso do Novo Testamento, Darrell Bock, declara que a cultura judaica era “uma cultura de memória”.(5)

Rainer Reisner apresenta seis razões principais pelas quais a tradição oral preservou fielmente os ensinos de Jesus.(6) Primeiro, Jesus usou a prática dos profetas do Antigo Testamento de proclamar a palavra de Deus, a qual exigia preservação exata do ensino inspirado. Segundo, as apresentações de Jesus como Messias reforçariam entre os Seus seguidores a necessidade de preservar Suas palavras fielmente. Terceiro, noventa por cento dos ensinamentos e ditos de Jesus usam métodos mnemônicos semelhantes aos que são usados na poesia hebraica. Quarto, Jesus treinou Seus discípulos para que ensinassem Suas lições mesmo enquanto Ele estava na terra. Quinto, os meninos judeus eram educados até os doze anos, por isso os discípulos provavelmente sabiam ler e escrever. Finalmente, assim como os mestres judeus e gregos reuniam discípulos, Jesus reuniu e treinou os Seus para que prosseguissem após a Sua morte.

Quando se estudam os ensinos de Jesus, percebe-se que Seus ensinos e ilustrações são fáceis de memorizar. Pessoas no mundo inteiro reconhecem de imediato a história do Bom Samaritano, do Filho Pródigo, e a Oração do Senhor.

Sabemos também que a igreja preservou os ensinamentos de Cristo na forma de hinos que eram do mesmo modo fáceis de memorizar. O resumo do evangelho por Paulo em 1 Coríntios 15 é um bom exemplo disto.

Assim, podemos ter confiança de que a tradição oral preservou fielmente os ensinos e os eventos da vida de Jesus até que fossem registrados poucos anos depois.

A Transmissão do Texto dos Evangelhos


Quando falo com muçulmanos ou mórmons, geralmente chegamos a um ponto da discussão em que fica claro que a Bíblia contradiz sua posição. Então a afirmação deles, assim como a de muitos céticos, é de que a Bíblia não foi transmitida fielmente, e que foi corrompida pela igreja. Com respeito aos Evangelhos, será que temos uma cópia exata dos textos originais, ou será que foram corrompidos?

Anteriormente, mostramos que os Evangelhos foram escritos no primeiro século, dentro do tempo de vida das testemunhas oculares. Estas testemunhas, tanto amigáveis como hostis, escrutinaram os relatos em busca de uma exatidão.

Portanto, os escritos originais eram exatos. Contudo, não temos os manuscritos originais. O que temos são cópias de cópias de cópias. Será que estas são exatas, ou será que foram adulteradas? Conforme visto antes, temos 5.000 manuscritos gregos do Novo Testamento. Quando incluímos as citações dos pais da igreja, manuscritos de outras traduções antigas, como a Vulgata Latina, o texto etíope, e outros, o total chega a mais de 24.000 textos antigos. Com tantos textos antigos, alterações significativas deveriam ser fáceis de localizar. Porém, aqueles que acusam o Novo Testamento de ser corrompido não produziram tal evidência. Isto é significativo, porque deveria ser fácil com tantos manuscritos disponíveis. A verdade é que o grande número de manuscritos confirma a preservação e transmissão fiel dos escritos do Novo Testamento.

Embora possamos ter confiança em uma cópia exata, temos sim discrepâncias textuais. Existem algumas passagens com leituras variantes de que não temos certeza. Contudo, as diferenças são menores e não afetam nenhuma doutrina teológica importante. A maior parte tem a ver com a estrutura de sentenças, vocabulário e gramática. Estas coisas de modo algum afetam alguma doutrina importante.

Aqui vai um exemplo. Em nossas bíblias, Marcos 16:9-20 é debatido quanto a se fazia parte dos escritos originais. Embora pessoalmente eu não creia que esta passagem fizesse parte do texto original, sua inclusão não afeta qualquer ensino importante do Cristianismo. Ele declara que Cristo ressuscitou, apareceu aos discípulos, e os comissionou a pregar o evangelho. Isto é ensinado em outra parte.*

As outras discrepâncias são de natureza semelhante. Os estudiosos do grego concordam que temos uma cópia muito fiel do original. Westcott e Hort declaram que temos uma cópia 98,33% fiel ao original.(7) A. T. Robertson deu uma cifra de 99% de fidelidade ao original.(8) Como o historiador Sir Fredric Kenyon nos assegura, “... a última base para qualquer dúvida de que as Escrituras chegaram até nós substancialmente tal como foram escritas agora estão removidas. Tanto a autenticidade como a integridade geral dos livros do Novo Testamento podem ser consideradas como finalmente estabelecidas”.(9)

Milagres Desacreditam os Evangelhos?


Os céticos questionam a exatidão dos Evangelhos em razão dos milagres. Contudo, esta é uma questão de cosmovisões. Aqueles que mantêm uma cosmovisão naturalista não acreditam que exista um criador onipotente. Tudo o que existe é energia e matéria. Logo, milagres são impossíveis. Assim, a conclusão deles é de que os relatos de milagres nos Evangelhos são exageros ou mitos.

Aqueles que mantêm uma cosmovisão teísta podem aceitar os milagres à luz da nossa compreensão a respeito de Deus e de Cristo. Deus pode intervir no tempo e no espaço e alterar as regularidades da natureza ainda mais que os humanos finitos podem em escala muito menor. Se Jesus é o Filho de Deus, podemos esperar que Ele realize milagres para confirmar Suas reivindicações de que é divino. Mas não é nas cosmovisões que isto acaba. Precisamos também dar uma boa olhada nos fatos históricos.

Conforme visto anteriormente, os Evangelhos foram escritos por testemunhas oculares dos eventos da vida de Cristo. A datação antiga indica que as testemunhas estavam vivas quando os Evangelhos estavam circulando, e poderiam atestar sua exatidão. Os apóstolos geralmente apelavam para o testemunho da multidão hostil, apontando também o conhecimento que tinha dos fatos (Atos 2:22, Atos 26:26). Portanto, se houvesse algum exagero, ou se fosse contada alguma história sobre Cristo que não fosse verdadeira, as testemunhas oculares poderiam ter facilmente desacreditado os relatos dos apóstolos. Lembre-se de que eles começaram pregando em Israel, nas mesmas cidades e durante o tempo de vida das testemunhas. Os judeus eram cuidadosos em registrar relatos históricos exatos. Muitos inimigos da igreja primitiva estavam procurando meios de desacreditar o ensino dos apóstolos. Se o que os apóstolos diziam não fosse verdade, os inimigos teriam reclamado e os Evangelhos não teriam alcançado tanta credibilidade.

Existem também fontes não-cristãs que atestam os milagres de Cristo. Josefo escreve: “Ora, surgiu por esse tempo Jesus, um homem sábio - se é lícito chamá-lo de homem, pois ele foi autor de obras maravilhosas, um mestre dos homens que recebem a verdade com prazer. Ele atraiu a si muitos judeus e muitos gentios”. O Talmude judaico, escrito no século quinto a.D., atribuiu os milagres de Jesus a feitiçaria. Os opositores do Evangelho não negam que Ele fez milagres; apenas apresentam explicações alternativas para eles.

Finalmente, o poder de Cristo sobre a criação é sumamente revelado na ressurreição. A ressurreição é um dos eventos mais bem atestados na história. Para um estudo completo, leia o artigo Resurrection: Fact or Fiction.**

Referências


1. Craig Blomberg, The Historical Reliability of the Gospels, (Downers Grove, Ill.: InterVarsity Press, 1987), 10.

2. Ibid., 9.

3. F.F. Bruce, The New Testament Documents: Are They Reliable? 5th ed. (Downers Grove: InterVarsity Press, 1983), 14.

4. Norman Geisler, Baker Encyclopedia of Christian Apologetics, (Grand Rapids, Mich.: Baker Books, 2002), 530.

5. Michael Wilkins and J.P. Moreland, Jesus Under Fire, (Grand Rapids, Mich.: Zondervan Publishing, 1995), 80.

6. Blomberg, The Historical Reliability of the Gospels, 27-28.

7. Geisler, 474.

8. Ibid.

9. Citado por Norman Geisler, General Introduction to the Bible, (Chicago: Moody Press, 1986), 405.

© 2004 Probe Ministries

* Pessoalmente, não concordo com o autor do artigo neste ponto, pois, se a legitimidade desta passagem (Marcos 16:9-20) é discutida, a questão é, no mínimo, controversa, e existem argumentos tanto do lado daqueles que defendem a sua ilegitimidade, como do lado dos que afirmam que ela realmente pertence a Marcos, e sem a mesma o respectivo evangelho terminaria abrupta e sombriamente - ao passo que os outros três evangelhos todos terminam com o relato da ressurreição de Cristo (nota do tradutor).

** Aguarde tradução de artigo sobre o tema (nota do tradutor).


Fonte: Probe Ministries (http://www.probe.org)

Tradução: Rodrigo Reis de Faria


terça-feira, 7 de maio de 2013

As Cruzadas

Don Closson

Introdução

No Concílio de Clermont, em 1095, o Papa Urbano II convocou os cristãos da Europa para responderem a um pedido urgente de ajuda dos cristãos bizantinos no Oriente. Os muçulmanos ameaçavam conquistar para Alá este remanescente do Império Romano. A ameaça era real; a maior parte do Oriente Médio, inclusive a Terra Santa, onde Cristo havia caminhado, já tinha sido conquistada. Assim começou a era das Cruzadas – do latim crux, “cruz”. Comprometidos em salvar o Cristianismo, os cruzados deixaram família e trabalho para assumir a causa. Dependendo de como se conta (seja pelo número real de exércitos cruzados ou pela duração do conflito), houve seis Cruzadas entre 1095 e 1270. Mas o espírito cruzado perduraria por séculos, até que o Islam não fosse mais uma ameaça para a Europa.

Existe uma dificuldade real para nós em vermos as Cruzadas de outro modo que não pelos olhos de um americano do século 21. A noção de defender o Cristianismo ou o lugar de nascimento de Cristo via ação militar é difícil de imaginar ou apoiar a partir da Escritura - mas talvez um pouco mais fácil desde os eventos de 11 de Setembro.

Por isso, quando os cristãos pensam hoje sobre as Cruzadas, pode ser com remorso ou embaraço. Os líderes eclesiásticos, inclusive o Papa, recentemente têm feito notícia ao se desculparem com os muçulmanos - e com todo o mundo - pelos eventos relativos às Cruzadas. Nas mentes de muitos, as Cruzadas foram um fiasco mal orientado, que não atingiu o objetivo de recuperar permanentemente Jerusalém e a Terra Santa.

Será que os livros de história estão corretos quando retratam as Cruzadas como uma invasão de territórios muçulmanos por europeus saqueadores cuja motivação primária era pilhar novas terras? O que geralmente fica de fora do texto é que a maior parte do Império Islâmico havia sido cristã e que fora conquistada militarmente pelos seguidores do Profeta Muhammad nos séculos 7 e 8.

O Islam havia subitamente surgido do nada para se tornar uma ameaça para toda a Europa cristã, e embora tivesse demonstrado algum comedimento em seu trato com os cristãos vencidos, também havia exibido notável crueldade. No mínimo, o Islam aplicou a discriminação religiosa e econômica contra aqueles que controlava, tornando os judeus e cristãos em cidadãos de segunda classe. Em alguns casos, líderes muçulmanos foram além. Um evento que pode ter deflagrado a Cruzada inicial em 1095 foi a destruição do Santo Sepulcro pelo califa fatímida al-Hakim.(1) De fato, muitos cristãos da época consideravam al-Hakim como o Anticristo.

Queremos respostas diretas para questões perturbadoras, mas as Cruzadas nos apresentam uma complexa coleção de eventos, motivações e resultados que tornam difícil encontrar respostas simples. Neste artigo, consideraremos as origens e o impacto desta batalha secular entre os seguidores de Muhammad e os seguidores de Cristo.


As Causas


O historiador Paul Johnson escreve que os ataques terroristas de 11 de Setembro podem ser vistos como uma extensão da batalha secular entre o Oriente islâmico e o Ocidente cristão. Johnson escreve:
As Cruzadas, longe de ser um revoltante protótipo de imperialismo ocidental, tal como se ensina na maioria de nossas escolas, foi um mero episódio de uma batalha que tem durado 1.400 anos, e foi uma das poucas ocasiões em que os cristãos tomaram a ofensiva para reconquistar os “territórios ocupados” da Terra Santa.(2)

O Islam havia explodido no mapa conquistando territórios que haviam sido primeiramente cristãos. As cidades de Antioquia, Alexandria e Cartago haviam sido os centros do pensamento cristão e da inquirição teológica por séculos, antes de serem tomadas por exércitos muçulmanos em sua jihad para espalhar o Islam pelo mundo. Começando em 1095, e continuando por mais de quatrocentos anos, o espírito cruzado que impregnou boa parte da Europa pode ser visto como um ato de autopreservação cultural, tanto como os americanos agora vêem a guerra contra o Taliban no Afeganistão.

Uma das motivações para a Cruzada em 1095 foi o pedido de ajuda feito pelo imperador bizantino Alexius I. Grande parte do Império Bizantino havia sido conquistada pelos turcos seljúcidas e Constantinopla, a maior cidade cristã do mundo, também estava sendo ameaçada. O Papa Urbano sabia que o sacrifício envolvido no chamado para combater os turcos precisava mais do que apenas vir para resgatar a Cristandade oriental. Para motivar seus seguidores, ele acrescentou um novo objetivo à libertação de Jerusalém e do lugar de nascimento de Cristo.

A nível pessoal, o Papa acrescentou a possibilidade de remissão dos pecados. Como a ideia do voto peregrino era muito difundida na Europa medieval, os cruzados, tanto nobres como camponeses, fizeram o voto de alcançar o Santo Sepulcro em troca do perdão da igreja para os pecados que haviam cometido. A igreja também prometeu proteger as propriedades deixadas para trás pelos nobres durante as viagens para o Oriente.

O Papa podia lançar uma Cruzada, mas ele tinha pouco controle sobre ela uma vez que começasse. Os cruzados prometiam a Deus, não ao Papa, completar a tarefa. Uma vez a caminho, o exército cruzado mantinha-se unido por “obrigações feudais, laços familiares, amizade, ou temor”.(3)

Ao contrário do Islam, o Cristianismo ainda não tinha desenvolvido a noção de uma guerra santa. No século quinto, Agostinho descreveu o que constituía uma guerra justa, mas excluiu a prática da batalha com o propósito de conversão religiosa ou para destruir idéias religiosas heréticas. Líderes de nações poderiam decidir entrar em guerra por razões justas, mas a guerra não devia ser um instrumento da igreja.(4) Infelizmente, usando a linguagem da guerra justa de Agostinho, papas e cruzados se viram mais como guerreiros de Cristo do que como um povo buscando justiça em face de uma ameaça inimiga invasora.


Os Eventos


Os livros de história que nossas crianças lêem tipicamente enfatizam as atrocidades cometidas pelos cruzados e a tolerância dos muçulmanos. É verdade que os cruzados mataram judeus e muçulmanos no saque de Jerusalém, e mais tarde colocaram sob cerco a cidade cristã de Constantinopla. Registros indicam que os cruzados lutavam até entre si mesmos enquanto combatiam os muçulmanos. Mas um exame mais atento das Cruzadas mostra que a verdadeira história é mais complexa do que a percepção do público, ou do que aquilo encontramos nos livros de história. O fato é que tanto muçulmanos como cristãos cometeram considerável carnificina e praticaram guerras internas, e batalhas políticas freqüentemente dividiram ambos os lados.

Os muçulmanos poderiam ser, e freqüentemente eram, bárbaros em seu tratamento com os cristãos e judeus. Um exemplo é como os turcos lidaram com prisioneiros alemães e franceses capturados no começo da Primeira Cruzada, antes do saque de Jerusalém. Aqueles que renunciaram a Cristo e se converteram ao Islam foram enviados para o Oriente; o restante foi executado. Até mesmo Saladino, o re-conquistador de Jerusalém, nem sempre foi misericordioso. Após derrotar um grande exército latino em 3 de julho de 1187, ele ordenou a execução em massa de todos os hospitalários e templários deixados vivos, e pessoalmente decapitou o nobre Reynald de Chatillon. O secretário de Saladino anotou que:

Ele ordenou que eles fossem decapitados, preferindo tê-los mortos do que na prisão. Com ele havia um grupo de estudiosos e sufitas ... [e] cada um deles implorava para que pudesse matar um deles, e sacava sua espada e puxava sua manga. Saladino, com o rosto contente, estava sentado em seu estrado; os infiéis mostravam negro desespero.(5)

De fato, Saladino havia planejado massacrar todos os cristãos em Jerusalém após tomá-la de volta dos cruzados, mas quando o comandante da guarnição em Jerusalém ameaçou destruir a cidade e matar todos os muçulmanos no interior das muralhas, Saladino permitiu que eles comprassem sua liberdade ou fossem vendidos à escravidão.(6)

A traição demonstrada pelos cruzados contra outros cristãos é um reflexo dos tempos. No apogeu do espírito cruzado na Europa, Frederico Barba-ruiva reuniu um grande exército de alemães para o que agora é conhecida como a Terceira Cruzada. Para facilitar o seu caminho, ele negociou tratados para livre passagem através da Europa e Anatólia, obtendo até permissão dos turcos muçulmanos para passar sem entraves. Por outro lado, o imperador cristão de Bizâncio, Isaque II, combinou secretamente com Saladino incomodar os cruzados de Frederico através do seu território. Quando era considerado útil, tanto muçulmanos como cristãos faziam pactos com qualquer que pudesse fazer avançar sua própria causa. Em certo ponto, o sultão do Egito ofereceu ajuda aos cruzados em sua batalha contra os turcos muçulmanos, e os turcos não conseguiram vir em resgate dos muçulmanos xiitas fatímidas que controlavam a Palestina.

A traição e pecaminosidade humana foram evidentes em ambos os lados do conflito.


Os Resultados


Em 29 de maio de 1453, a cidade de Constantinopla caía diante do sultão otomano Mehmed II. Com isto, o Império Romano de 2.206 anos chegava a um fim e a maior igreja cristã do mundo, a Hagia Sophia, era convertida em uma mesquita. Alguns alegam que este desastre foi um resultado direto dos esforços mal-orientados dos cruzados, e que qualquer coisa de positivo que poderiam ter realizado foi passageira.

Olhando de volta para as Cruzadas, somos inclinados a pensar nelas como uma erupção de esforços fracassados e de curta duração dos mal-orientados europeus. Na verdade, o espírito cruzado durou centenas de anos, e o reino latino que se estabeleceu em 1098, durante a Primeira Cruzada, durou quase 200 anos. Jerusalém permaneceu em mãos europeias por oitenta e oito anos, um período maior do que a sobrevivência de muitas nações modernas.

Dado o fato de que o reino latino e Jerusalém eventualmente caíram em mãos muçulmanas, será que os cruzados realizaram algo de significativo? Pode-se alegar que o movimento de grandes exércitos europeus até territórios mantidos por muçulmanos diminuiu o avanço do Islam em direção ao Ocidente. A presença de um reino latino na Palestina atuou como uma zona de contenção entre o Império e os poderes muçulmanos, e também motivou os líderes muçulmanos a focarem sua atenção mais na defesa do que na ofensiva, ao menos por um período de tempo.

Psicologicamente, as Cruzadas resultaram em uma cultura de cavalaria baseada tanto em proezas reais como lendárias dos governantes europeus. Os reis cruzados Ricardo Coração de Leão e Luis IX foram admirados até mesmo pelos seus inimigos como homens de integridade e valor. Ambos se viam como agindo pela causa de Deus em sua busca para libertar Jerusalém da opressão muçulmana. Durante séculos, governantes europeus olhavam para os reis cruzados como modelos de como integrar o Cristianismo e as obrigações da cavalaria.

Infelizmente, a coragem e a capacidade de conduzir a guerra tiveram precedência sobre todas as outras qualidades, talvez porque isto fosse um resquício de raízes francas pagãs e do culto a Odin, o deus da guerra. Estes povos germânicos podem ter se convertido ao Cristianismo, mas ainda tinham um lugar em seus corações para o paraíso do guerreiro valente, Valhalla.(7) Como certo estudioso escreveu:

Mas os descendentes desses adoradores de Odin ainda tinham o amor a um deus guerreiro em seu sangue, um deus de guerreiros cujo símbolo definitivo era a guerra.(8)

As Cruzadas protegeram temporariamente alguns cristãos de terem de viver sob o governo muçulmano como cidadãos de segunda classe. Chamados de dhimmi, este código legal impunha superioridade dos muçulmanos e humilhava todos os que se recusavam a abandonar outras crenças religiosas.

Argumenta-se também que o espírito cruzado é que eventualmente mandou os europeus para o Novo Mundo. A viagem de Colombo acontece de coincidir com a remoção do governo muçulmano da Espanha. A exploração do Novo Mundo eventualmente encorajou uma explosão econômica que o mundo muçulmano não pode equiparar.


Sumário


Os muçulmanos ainda apontam para as Cruzadas como um exemplo de injustiça perpetrada pelo Ocidente contra o Islam. Uma questão interessante poderia ser: “Se a situação tivesse sido inversa, os muçulmanos se sentiriam justificados em ir à guerra contra os cristãos?” Em outras palavras, as regras do Corão e do Hadith (os livros santos do Islam) justificariam um conflito semelhante ao que os cruzados conduziram?

Você provavelmente já ouviu o termo jihad, ou luta, discutido nas notícias. A palavra denota diferentes tipos de esforço dentro da fé islâmica. Em certo nível, ela fala do esforço pessoal pela justiça. Contudo, existem vários usos para o termo dentro do Islam nos quais explicitamente ele se refere a guerra.

Primeiro, o Corão permite a guerra para defender indivíduos muçulmanos e a religião do Islam de ataque.(9) De fato, todos os muçulmanos fisicamente capazes são ordenados a auxiliarem na defesa da comunidade dos fiéis. Os muçulmanos também têm permissão para remover traidores do poder, ainda que tenham anteriormente entrado em um acordo com eles.(10)

Os muçulmanos são encorajados a usar a luta armada com o propósito geral de espalhar a mensagem do Islam.(11) O Corão especificamente diz: “Combater é uma ofensa grave, mas mais grave à vista de Alá é impedir o acesso ao caminho de Alá, negá-lO, impedir o acesso à Mesquita Sagrada ...”.(12) A guerra também é justificada com o propósito de purificar um povo da servidão da idolatria ou da associação de qualquer coisa a Deus. Isto dá ao muçulmano uma razão teológica para entrar em guerra com os cristãos, visto que o Corão ensina que a doutrina da Trindade é uma forma de idolatria. Se a situação tivesse sido inversa, a religião do Islam fornece múltiplas racionalizações para as ações dos cruzados.

Mas será que existe uma justificativa cristã para as Cruzadas? O único exemplo de um cristão combatendo no Novo Testamento é o apóstolo Pedro, quando sacou sua espada para proteger Jesus dos soldados romanos. Jesus lhe disse para guardar sua espada. Em seguida, Ele disse: “Pensa que eu não poderia invocar meu Pai, e Ele de imediato colocaria à minha disposição mais de doze legiões de anjos?” O reino que Jesus havia estabelecido não seria edificado sobre o sangue dos incrédulos, mas sobre o sangue derramado do Cordeiro de Deus.

As ações dos cruzados deveriam ser defendidas usando-se a linguagem da “guerra justa” de Agostinho, ao invés do vocábulo “guerra santa”. Embora eles nem sempre vivessem à altura dos ditames dos ideais de “guerra justa” - tais como a imunidade dos não-combatentes - as Cruzadas foram uma guerra defensiva de último recurso que buscou a paz para o seu povo que havia estado por muitos anos sob ataque constante.

Se uma das funções de um governo ordenado por Deus é refrear o mal e promover a justiça, segue-se então que os governantes das nações onde os cristãos habitam podem precisar conduzir uma guerra justa a fim de proteger o seu povo da invasão.


Referências


1. John Esposito, ed. The Oxford History of Islam, (Oxford University Press, 1999), 335.

2. Paul Johnson, National Review, http://www.nationalreview.com/15oct01/johnson101501.shtml.

3. Thomas F. Madden, A Concise History of the Crusades, (Rowman & Littlefield Publishers, Inc, 1999), 10.

4. Ibid., 2.

5. Ibid., 78.

6. Ibid., 80.

7. Zoe Oldenbourg, The Crusades, (New York: Pantheon Books, 1966), 33.

8. Ibid, 32.

9. Qur'an 2:190, 193.

10. Ibid, 8:58.

11. Ibid, 2:217 (also see www.irshad.org/islam/iiie/iiie_18.htm published by The Institute of Islamic Information & Education, P.O. Box 41129, Chicago, IL 60641-0129).

12. Qur'an 2:217.


©2002 Probe Ministries.


Fonte: Probe Ministries (http://www.probe.org)
Tradução: Rodrigo Reis de Faria