terça-feira, 27 de novembro de 2012

Origem e História do Catolicismo (Parte II)


Moisés Pinedo

DESENVOLVIMENTO DO CATOLICISMO

Uma nova igreja havia nascido, uma igreja completamente diferente da igreja estabelecida por Cristo. Enquanto a igreja de Cristo havia nascido em Jerusalém (Atos 1:12; 2:1; etc.), esta igreja nascera em Roma. Enquanto a igreja de Cristo havia nascido com poder espiritual (Atos 2:2-4), esta igreja nascera com poder político e militar. Enquanto a igreja de Cristo havia nascido sob a autoridade de uma Cabeça divina (Colossenses 1:18), esta igreja nascera sob a autoridade de uma cabeça humana – o papa. Esta nova igreja logo invadiu a Terra com as suas doutrinas.

Contudo, uma ameaça inesperada para este tipo de Cristianismo estava rapidamente se aproximando desde o Oriente: o Islam. Com Muhammad como seu líder, a religião do Islam originou-se em 622 a.D. e espalhou-se agressivamente. Em menos de 25 anos desde o início da “Hégira” (i.e. a partida de Muhammad de Meca), os seguidores de Muhammad haviam tomado o controle do Egito, Palestina, Pérsia e Síria (Mattox, 1961, p. 173). Com a sua sede de conquista, esta religião ameaçava converter o mundo inteiro às suas crenças. Logo a ameaça para o Catolicismo tornou-se cada vez mais óbvia. Muitos católicos em nações conquistadas haviam se convertido ao Islam por medo; o avanço desta doutrina sobre a influência romana e sua religião oficial parecia inevitável. A religião romana, e a unidade da nação que dependia dela, logo entrariam em colapso se algo não fosse feito rapidamente. Assim os conflitos entre católicos e muçulmanos deram origem às infames Cruzadas.

As Cruzadas (de 1096 a 1270) foram expedições militares que se colocaram em marcha como um cumprimento a um “solene voto” de recuperar das mãos dos muçulmanos os “lugares santos” da Palestina. Em novembro de 1095, o Papa Urbano II encorajou as massas a combaterem contra os turcos seljúcidas que invadiram o Império Bizantino e sujeitaram os católicos gregos, sírios e armênios. Ele também queria estender o seu poder político e religioso. Para encorajar os católicos a se envolverem em uma guerra sangrenta em “nome de Deus”, o papa ofereceu perdão de pecados, proteção para as terras pertencentes aos cruzados e a perspectiva de despojos (vede Hitchens e Roupp, 2001, p. 186).

Embora multidões de pessoas respondessem ao chamado para se unir às Cruzadas, elas falharam em cumprir o objetivo inicial de recuperar as Terras Santas. Após muitos anos de luta e perda de muitas vidas, as Terras Santas ainda estavam em mãos muçulmanas. Não obstante, os cruzados melhoraram o relacionamento entre as nações católicas e detiveram o avanço dos turcos na Europa.

Logo após as Cruzadas, novas ideologias, que o Catolicismo considerou heresias, ameaçaram a Igreja Católica. Multidões de pessoas, induzidas por incansáveis líderes religiosos, executaram os que eram considerados hereges sem nenhum processo judicial. A necessidade de uma regulamentação judicial concernente à heresia, a preocupação católica com o crescimento de novas idéias revolucionárias, e o desejo de aumentar o poder da Igreja Católica, deram origem a outra onda de derramamento de sangue paradoxalmente conhecida na história como a “Santa” Inquisição.

A Inquisição é descrita geralmente como a instituição judicial criada na Idade Média para lidar com os inimigos da religião do estado (i.e. o Catolicismo). Havia três tripos de inquisição.

1. A Inquisição Episcopal foi estabelecida pelo Papa Lúcio III em 1184. Era supervisionada e administrada pelos bispos locais. Uma vez que as doutrinas ortodoxas estavam estabelecidas, qualquer desvio delas era investigado e estudado pelo bispo da respectiva diocese. Se o “crime” fosse confirmado, era punido, primariamente por meio de penas canônicas (vede Chami, 1999a).

2. A Inquisição Pontifícia foi criada pelo Papa Gregório IX em 1231 (vede Schmandt, 1988, 10:277). Este tipo de inquisição foi confiada à ordem dominicana, a qual respondia apenas ao pontífice. Foi introduzida na França em 1233, em Aragão em 1238 e na Itália em 1254 (Mattox, 1961, pp. 214-215). Os inquisidores iam ao lugar da suposta heresia, e com a ajuda das autoridades pediam que os hereges se apresentassem voluntariamente diante do tribunal. O público também era encorajado a delatar hereges; qualquer um poderia acusar algum outro de heresia. O acusado era forçado a confessar sua “heresia” sem oportunidade de confrontar seus acusadores ou de se defender. Um longo aprisionamento aguardava o “herege” que negasse as acusações. Seu aprisionamento era interrompido por inúmeras seções de tortura até que ele confessasse sua “heresia”. Se continuasse a se recusar a confessar, era entregue às autoridades civis, as quais administravam a pena de morte ao “herege obstinado”.

3. A Inquisição Espanhola é considerada a mais terrível de todas. Começou em 1478 com a aprovação do Papa Sixto IV, e durou até 1834 (vede “Inquisition”, 1997, 6:328). Este tribunal era diferente da Inquisição Pontifícia porque o inquisidor era designado pelo rei ao invés do papa, de modo que o inquisidor tornou-se um servo do estado ao invés da igreja (vede Chami, 1999b). Alguns dos principais motivos para esta inquisição foram:

a) a “ameaça” judaica – nos séculos 14 e 15, a Europa era assolada por graves crises economicas. Muitas pragas e epidemias contribuíram para esta situação. Devido a suas rigorosas práticas higiênicas, os judeus da Europa sobreviviam a estas epidemias e pragas. Enquanto os europeus caíam em desespero e pobreza, a maioria dos judeus retinha o seu status econômico. Esta situação produziu muitos protestos contra os judeus e aumentou a avareza religiosa e política pela confiscação da riqueza judaica. Forçados a abandonar suas atividades econômicas, e sendo pressionados por padres fanáticos, muitos judeus se converteram à religião católica no princípio do século 15. Muitos católicos tornaram-se ciosos do contínuo progresso financeiro e da posição social destes judeus e acusaram-nos de conversão artificial e insincera (vede Domínquez, n.d.).

b) A necessidade de unidade no reino – a Espanha fora unida politicamente sob os “Reis Católicos” Fernando de Aragão e Isabel de Castela, mas ainda havia ideologias religiosas diferentes no país. Esperando unir religiosamente o seu país, os reis pediram ao papa permissão para “purificar” seu reino das ideologias não-católicas por meio da Inquisição (vede Chami, 1999b).

Estes foram os motivos para a cruel Inquisição Espanhola. Em tempo, este tribunal bárbaro dedicou-se à perseguição de muçulmanos, supostas bruxas, e partidários do Protestantismo.

Embora as inquisições anteriores fossem cruéis, a Inquisição Espanhola foi projetada para aterrorizar até o mais vil criminoso. Seus instrumentos de tortura eram ainda mais inovadores e desumanos do que os de tempos passados. Os tratamentos com tortura incluíam, mas não estavam limitados a: (1) deslocamento das juntas do corpo; (2) mutilação das cavidades vaginal, anal e oral; (3) remoção de línguas, mamilos, orelhas, narizes, genitálias e intestinos; (4) Fraturamento de pernas, braços, dedos das mãos e dos pés; (5) esmagamento das articulações, das unhas e cabeças; (6) serramento do corpo ao meio; (7) perfuração da pele e dos ossos; (8) esfolamento da pele do rosto, abdômen, costas, extremidades e seios; e (9) estiramento das extremidades do corpo (vede Rodriguez, 2007).

Ainda que o Catolicismo queira negar o seu passado, a história fala em alta voz a respeito das atrocidades cometidas em nome da fé católica. O Catolicismo pode tentar esconder-se por detrás das injustiças cometidas por outros grupos religiosos para encobrir a sua própria desgraça, mas a verdade é que a metodologia católica foi a inspiração para as telas sanguinárias de outros “artistas” religiosos. Não há dúvida de que as Cruzadas e a Inquisição representaram um papel importante no desenvolvimento e no crescimento da Igreja Católica em um mundo que não queria se conformar a este tipo de religião.

CATOLICISMO EM TEMPOS RECENTES

No passado, a Igreja Católica usou métodos violentos para destruir a oposição aos seus ensinos e práticas. Hoje, sem a tortura, os tribunais e a matança, o Catolicismo parece passivo em relação ao crescimento de outras religiões.

O princípio do século 16 adicionou mais combustível ao fogo da Inquisição. Noventa e cinco razões para isto foram pregadas na porta do edifício da Igreja Católica em Wittenberg, Alemanha. Quem foi o responsável? Um homem: Martinho Lutero. Embora alguns antes dele já tivessem tentado acender o fogo da reforma (p.e. John Wycliffe, John Huss e outros), o movimento da Reforma fora ineficaz antes de Lutero.

Martinho Lutero nascera em Eisleben, Saxônia, Alemanha, em 1483. Ele era filho de um mineiro pobre e pagou seus estudos na Universidade de Erfurt com esmolas que recebia. Em 1505, tornou-se mais interessado na salvação de sua alma e na busca pela paz espiritual do que no estudo da lei. Entrou para o monastério agostiniano de Erfurt, onde tornou-se um monge devoto, mas espiritualmente inquieto. Por volta de 1508, Lutero havia chegado à conclusão de que alguns ensinos e a organização da Igreja Católica eram completamente diferentes dos do Novo Testamento. A imoralidade do clero de Roma, a irreverência para com os sacramentos pelos seus próprios defensores, e a avareza daqueles que coletavam indulgências e outras penas colocaram Martinho Lutero em um curso de colisão com a Igreja Católica. Em 1517, suas 95 teses incomodaram o mundo católico a ponto de, cerca de 1520, o papa redigir uma bula convocando Lutero a se retratar dos seus ensinos ou ser excomungado. Porém, ele não cedeu a esta ameaça, e continou a difundir os seus ensinos (vede Mattox, 196, pp. 243-261; Pelikan, 1988, 12:531-533). Outros, como Huldreich Zwingli (1484-1531), na Suíça, e João Calvino (1509-1564), na França e em Genebra, Suíça, também contribuíram grandemente para a Reforma e o desenvolvimento das religiões protestantes.

Diversas condições ajudaram o progresso da Reforma no século 16: (1) A Renassença – este movimento cultural estimulou a liberdade intelectual e despertou entusiástico estudo das Escrituras na Europa. Muitas pessoas começaram a perceber a diferença entre o Catolicismo e o Cristianismo do Novo Testamento. (2) A corrupção da hierarquia da Igreja Católica – o dinheiro trazia direitos e privilégios, e a imoralidade imperava na época, mesmo entre o clero católico. A inconsistência entre a fé e a prática tornaram-se notórias. (3) O apoio de governantes seculares à oposição à hierarquia católica – por este tempo, a Igreja Católica possuía um terço do território da Europa Ocidental. Reis e governantes estavam ávidos por possuir estas terras, bem como outras propriedades que a igreja havia tomado para si. (4) O advento da imprensa – Lutero e outros usaram a imprensa para difundir suas idéias e as Escrituras por toda a Alemanha e outros países (vede Mattox, 1961, pp. 239-246). Por volta de 1542, o Protestantismo estava se espalhando por muitos lugares e penetrando com as suas doutrinas até na Itália. Devido ao seu temor por esta nova rebelião ideológica, o Papa Paulo III incitou o público e os líderes eclesiásticos a voltarem para os níveis severos da Inquisição. Apesar disto, o Protestantismo prosperou.

A Igreja Católica havia encontrado um grande inimigo que aparentemente não tinha a menor intenção de se render. Porém, o “Santo Ofício” da Inquisição continuou a operar durante os séculos subsequentes e se espandiu até as colônicas da Espanha no Novo Mundo. O tribunal da Inquisição tinha jurisdição sobre outros tribunais organizados nas colônias da América Latina. Nestas colônias, a Inquisição não alcançou o mesmo nível vergonhoso que alcançou na Europa, visto que os nativos estavam apenas começando a aprender a religião católica e ainda não entendiam todo o dogma católico. Mas o pobre exemplo de “bondade” demonstrado nas nações conquistadas não podia apagar a crueldade inerente do “santo” tribunal.

Em 1808, José Bonaparte (irmão de Napoleão) assinou um decreto pondo um fim ao “Santo Ofício”, mas foi apenas em 1834 que o édito final de sua abolição foi publicado (vede O’Malley, 2001; “Inquisition”, 1997; 6:328). Tendo o seu braço político, militar e social quebrado, a única coisa que restava para a Igreja Católica era “seguir o rebanho” e aceitar o que parecia ser o fim da sua ditadura.

Em completo contraste com o seu passado, a Igreja Católica tornou-se progressivamente mais tolerante com outras religiões, apesar da sua oposição verbal e pública. Esta tolerância levou a uma mistura do Catolicismo com as religiões evangélicas, como o Luteranismo, o Pentecostalismo, etc., resultando em sérias repercussões para o mundo católico. Esta situação mostra claramente que este tipo de religião não está baseado na Bíblia, mas em preferências religiosas. Ninguém pode dizer com certeza o que a Igreja Católica se tornará ou aceitará no futuro, mas a história ilustra claramente as suas crenças e práticas do passado.

Referências

Chami, Pablo A. (1999a), “Origin of the Inquisition” [“Origen de la Inquisición”], [On-line], URL: http://www.pachami.com/Inquisicion/Origen.html.
Chami, Pablo A. (1999b), “The Spanish Inquisition” [“La Inquisición en España”], [On-line], URL: http://pachami.com/Inquisicion/Espa.htm.
Domínguez, Antonio O. (no date), “The Jewish Problem” [“El Problema Judío”], [On-line], URL: http://www.vallenajerilla.com/berceo/florilegio/inquisicion/problema judio.htm.
Hitchens, Marilynn and Heidi Roupp (2001), How to Prepare for SAT: World History (Hauppauge, NY: Barron’s Educational Series).
“Inquisition” (1997), The New Encyclopædia Britannica (London: Encyclopædia Britannica).
Mattox, F.W. (1961), The Eternal Kingdom (Delight, AR: Gospel Light).
O’Malley, John W (2001), “Inquisition,” Encarta Encyclopedia 2002 (Redmond, WA: Microsoft Corporation).
Pelikan, Jaroslav (1988), “Luther, Martin,” The World Book Encyclopedia (Chicago, IL: World Book).
Rodriguez, Ana (2007), “Inquisition: Torture Instruments, ‘a Cultural Shock’ for the Audience” [“Inquisición: Instrumentos de Tortura, ‘Sacudida Cultural’ para el Espectador”], La Jornada, March 9, [On-line], URL: http://www.jornada.unam.mx/2007/01/09/index.php?section=cultura&;article=a04n1cul.
Schmandt, Raymond H. (1988), The World Book Encyclopedia (Chicago, IL: World Book).


Copyright © 2008 Apologetics Press, Inc. All rights reserved.

Fonte: Apologetics Press (http://www.apologeticspress.org)
Tradução: Rodrigo Reis de Faria

Nenhum comentário:

Postar um comentário