Moisés Pinedo
Com
frequência, os católicos fazem duas afirmações importantes: (1) a Igreja
Católica é a igreja mais antiga (os católicos estão firmemente convictos de que
a Igreja Católica é bem mais antiga que qualquer grupo protestante que existe hoje. Embora esta afirmativa esteja
historicamente correta, será verdade que a Igreja Católica é a igreja mais antiga?) (2) a Igreja
Católica é a igreja bíblica (os católicos alegam que sua igreja é aquela
descrita na Bíblia e, portanto, a igreja que Deus aprova).
Estas
duas reivindicações trazem algumas sérias implicações. Primeiro, se a Igreja
Católica é a igreja mais antiga, então: (a) não poderia haver nenhuma igreja
antes dela; (b) a primeira igreja, a qual Cristo prometeu estabelecer, deve ser
a Igreja Católica; e (c) todo o registro histórico e/ou bíblico da primeira
igreja deve apontar para o Catolicismo. Segundo, se a Igreja Católica é a
igreja bíblica, então: (a) a Bíblia deve ter um registro desta igreja; e (b)
seus ensinos e práticas devem ser aprovados pela Bíblia.
ORIGENS DO CRISTIANISMO
Para
determinar se a Igreja Católica é a igreja mais antiga, devemos ir à Bíblia
para encontrar um registro acerca da primeira igreja. O profeta Daniel disse
que
... o Deus do céu
levantará um reino que nunca será destruído; e o reino não passará a outro
povo; despedaçará e consumirá todos estes reinos, e permanecerá para sempre
(2:44, ênfase acrescentada).
Deus
tinha um plano para que os seguidores de Seu Filho fizessem parte de um reino
diferente de qualquer outro, um reino espiritual que permaneceria para sempre:
a igreja (cf. Colossenses 1:13). Mas quando começou esta instituição divina?
Mateus
16:18 registra a primeira vez em que o termo “igreja” é introduzido no Novo
Testamento. Jesus disse: “E eu também te digo que tu és Pedro, e sobre esta
rocha edificarei a minha igreja, e os
portões do Hades não prevalecerão contra ela” (ênfase acrescentada). O termo
“igreja”, do grego ekklesia, era
geralmente usado pelos gregos para se referir a uma assembléia política (cf.
Atos 19:41). Este termo é usado pela primeira vez para descrever os seguidores
de Cristo em Mateus 16:18.
Quando
Jesus falou a respeito da Sua igreja neste verso, Ele declarou três coisas
muito importantes. Primeiro, Jesus disse: “Edificarei
a minha igreja”. O tempo futuro do verbo indica que a igreja ainda não
estava estabelecida. Ela não existia naquele tempo. Segundo, Jesus disse: “Eu edificarei”, indicando que o Próprio
Cristo estabeleceria a igreja e seria o seu fundamento. Terceiro, Jesus disse:
“a Minha igreja”, indicando que a
Igreja pertenceria a Ele.
Note
mais uma vez a declaração de Jesus a Pedro: “E eu também te digo que tu és
Pedro, e sobre esta rocha edificarei a Minha igreja” (Mateus 16:18). Usando
dois termos gregos – petros e petra – o Novo Testamento deixa claro
que esta “rocha” (petra) seria o
fundamento sobre o qual Jesus edificaria a Sua igreja. Mas ao que ou a quem
esta “rocha” se refere? Mateus nos diz que Jesus havia perguntado aos Seus
discípulos quem eles pensavam que Ele fosse: “Simão Pedro respondeu e disse:
‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo’” (Mateus 16:16). Por causa desta
declaração, Jesus fez a afirmação mencionada acima (Mateus 16:18). Portanto,
isto só pode significar uma coisa: Jesus iria edificar a Sua igreja sobre a confissão que Pedro havia feito a respeito
dEle. Em outras palavras: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” seria o
fundamento sobre o qual a igreja seria edificada. Jesus prometeu a Pedro que
ele seria a pessoa bem-aventurada a abrir as portas do Cristianismo (ou da
igreja), mas Pedro (petros) não seria a rocha (petra) da igreja.
Embora estes versos em Mateus 16 não nos dêem o começo da
primeira igreja, eles nos dão uma predição exata da sua origem, incluindo o
seguinte:
- Esta
igreja ainda não estava edificada no tempo em que Jesus estava falando (v.
18).
- Esta
igreja seria edificada por Cristo, o Qual também seria o seu fundamento
(v. 18).
- Esta
igreja pertenceria a Cristo (v. 18).
- Esta igreja
seria edificada sobre a confissão de que Jesus é o Cristo (vv. 16, 18).
- Pedro
abriria (simbolicamente) as portas desta igreja (v. 19).
Nesse caso, então, quando estas coisas aconteceram, e
quando a primeira igreja veio à existência?
Então aqueles que receberam alegremente a sua palavra foram batizados; e
naquele dia cerca de três mil almas foram acrescentadas a eles (Atos 2:41).
Este verso, registrado por Lucas, nos conta o resultado
do sermão de Pedro e dos outros apóstolos pregado em Pentecostes. A Bíblia nota
que os apóstolos haviam permanecido em Jerusalém após a ascensão de Jesus,
aguardando a promessa do Pai (ou seja, a chegada do Espírito Santo; cf. Atos
1:4, 12; 2:1). Quando o Espírito Santo foi enviado, os apóstolos começaram a
falar em diferentes línguas (Atos 2:4-11). Muitas pessoas creram, mas houve
também alguns que zombaram (Atos 2:13). Então, Pedro, pondo-se de pé com os
onze, levantou a sua voz e pregou àqueles que o escutavam (Atos 2:14). Após
mostrar evidência convincente acerca da veracidade messiânica de Jesus, Pedro
declarou: “Portanto, saiba com certeza toda a casa de Israel que Deus fez a este Jesus, a quem vós
crucificastes, Senhor e Cristo” (Atos
2:36; ênfase acrescentada).
O relato de Lucas leva nossas mentes de volta às palavras
de Jesus. Jesus havia predito que Pedro abriria as portas da igreja, e que a
igreja seria edificada sobre a sua confissão (Mateus 16:16-18). Em Atos 2:36,
Pedro não apenas abriu as portas do Cristianismo, mas também confessou uma vez
mais que Jesus era o Senhor e o Cristo (ou seja, a rocha sobre a qual a igreja
seria edificada). Portanto, foi neste exato dia que as palavras de Jesus foram
cumpridas. Atos 2:41 indica que aqueles que creram “foram batizados; e naquele
dia cerca de três mil almas foram acrescentadas a eles”. A questão então se
torna: “Ao que as pessoas que criam e eram batizadas foram acrescentadas?” O
verso 47 nos dá a resposta: “o Senhor acrescentava todos os dias à igreja aqueles que estavam sendo salvos”
(nota: A ASV omite a palavra “igreja” e anota “eles”, mas a idéia é a mesma. A
respeito desta tradução, Boles disse que o sentido é de que aqueles que eram
batizados “por meio deste processo eram reunidos, e assim formavam a igreja”
[1941, p. 52]). Este é o primeiro texto bíblico que fala da igreja como estando
em existência; é neste exato momento na Escritura que a presença da primeira igreja é notada. Pedro havia
aberto as portas da igreja através da pregação da Palavra. Ele havia confessado
uma vez mais a divindade de Jesus. E o Senhor havia acrescentado à Sua igreja
as pessoas que obedeceram.
Que igreja, então, é a igreja mais antiga? A resposta é,
naturalmente, a igreja que Cristo edificou em Atos 2. Mas que igreja era esta?
Seria este o começo da Igreja Católica (como o Catolicismo ensina)? Note que
Cristo disse que Ele edificaria a Sua igreja
(Mateus 16:18), não a Igreja Católica.
Saudai-vos uns aos outros com ósculo santo. As igrejas de Cristo vos saúdam (Romanos 16:16, ênfase
acrescentada).
Embora houvesse várias congregações que louvavam a Deus
em muitas partes do mundo quando o apóstolo Paulo escreveu esta carta aos
romanos, ainda havia uma característica única sobre elas: todas elas pertenciam
a Cristo (isto é, elas eram igrejas de Cristo),
pois Cristo dissera que edificaria a Sua igreja. Portanto, todas elas honrosamente
traziam o nome do seu Fundador – Cristo.
Atos 2 informa-nos que a igreja de Cristo foi
estabelecida em Jerusalém no Dia de Pentecostes (c. 30 a.D.). Ela teve um único
fundamento, Jesus Cristo (1 Coríntios 3:11). Cristo, não Pedro, era a pedra de
esquina da igreja (cf. 1 Pedro 2:4-8). A igreja compreendia um grupo de crentes
que adotaram o título de “cristãos” (não “católicos”) por autoridade divina
(Atos 11:26; cf. Isaías 62:2). Eles compunham o único corpo de Cristo (Efésios
1:22-23; 4:4). A igreja também era considerada a esposa de Cristo (2 Coríntios
11:2; Efésios 5:24; Apocalipse 19:7). Cristo era a sua autoridade e a sua
Cabeça (Colossenses 1:18); ela não tinha nenhuma cabeça terrena. Em sua
organização, nomes e divisões humanas eram condenadas (1 Coríntios 1:10-13).
Esta era a instituição divina e maravilhosa que Deus estabeleceu sobre a Terra
– a igreja de Seu Filho, a igreja de Cristo (vede Miller, 2007).
ORIGEM DO
CATOLICISMO
Se a Igreja Católica não
é a igreja mais antiga, como e quando ela se tornou uma entidade histórica?
Quando a igreja do Senhor começou em Atos 2, ela cresceu rapidamente. De acordo
com Atos 2:41, cerca de 3.000 pessoas creram na pregação de Pedro e dos demais
apóstolos, e foram batizadas. Atos 4:4 nos conta que, pouco depois, o número
dos fiéis era de pelo menos 5.000, e Atos 6:7 informa-nos que “o número dos
discípulos continuava a crescer grandemente em Jerusalém”.
No começo, o governo romano considerava os cristãos como
sendo uma das várias e insignificantes seitas judaicas. O livro de Atos conclui
notando que, mesmo sob custódia romana, Paulo continuava a pregar e ensinar
“com toda a confiança, ninguém o impedindo” (Atos 28:31). Os romanos
subestimavam o poder e influência do Cristianismo, concedendo à igreja tempo e
oportunidades para crescer em seus primeiros anos (Atos 18:12-16; 23:23-29).
Contudo, sempre houve grande oposição da parte dos líderes judeus ortodoxos
daquele tempo, os quais intelectual, psicológica e fisicamente perseguiam os
apóstolos e outros cristãos (p.e., Atos 4:1-3, 18; 5:17-18; 9:1-2, 22-24;
13:45, 50; 17:4-5, 13; 21:27-31; 23:12-22).
Embora a perseguição fosse um flagelo terrível para os
cristãos, eles haviam sido advertido contra isto e sabiam como deviam reagir.
Jesus havia alertado Seus discípulos em diferentes ocasiões a respeito das
perseguições futuras por causa do Seu nome (Mateus 10:22). Ele lhes dissera que
seriam perseguidos dos mesmos modos que Ele fora perseguido (João 15:19-20). Na
verdade, a perseguição da parte dos judeus tornou-se uma realidade logo depois
que a igreja começou (Atos 8:1). Por causa da sua hipocrisia e ignorância das
Escrituras, os judeus endurecidos detestavam a mensagem do Evangelho.
Jesus também havia advertido Seus discípulos para que
escapassem para outras cidades quando fossem perseguidos (Mateus 10:23). Ele não
apenas queria que buscassem segurança, mas também pregassem o Evangelho em
outros lugares. A princípio, os cristãos não queriam deixar a segurança e
proteção de sua pátria, mas a perseguição forçou a sua partida (Atos 8:1;
11:19; etc.). Na medida em que se espalhavam, os cristãos começaram a obedecer
à Grande Comissão dada pelo Senhor de “ir por todo o mundo e pregar o
evangelho”, anunciando a chegada do reino do céu (Marcos 16:15; Mateus 28:19;
cf. Atos 8:4; 14:4-7; et al.).
Em consequência dos seus esforços globais para ensinar e
do zelo dos judeus em muitos dos lugares para onde os cristãos viajavam, o
Cristianismo não apenas obteve interesse religioso, mas também atenção
política. O governo romano começou a prestar mais atenção a esta “nova
religião” que frequentemente era acusada de ser importuna e blasfêma em relação
ao governo (cf. Atos 17:6-9; 19:23-27).
Suetônio, um historiador romano, parece confirmar este
fato escrevendo o seguinte a respeito de Cláudio César: “Ele baniu de Roma
todos os judeus, que estavam constantemente causando desordem por instigação de
Cresto” (1890, p. 318). Claramente, pelo tempo do Imperador Cláudio (41 a 54
a.D.), esforços para intimidar e desacreditar os cristãos já eram um problema
sério (cf. Atos 18:2). Quando Cláudio morreu, o infame Nero assumiu. Ele tinha
grandes sonhos em construir uma Roma magnífica para satisfazer a seus próprios
prazeres. Muitos historiadores acreditam que Nero foi responsável pelo grande
incêndio que consumiu Roma em 64 a.D. e matou muitos dos seus habitantes (p.e.,
Suetônio, Dio Cássio, et al.; cf. Nelson, 1985, p. 450). Muitos dos seus
contemporâneos também acreditavam que Nero fosse responsável. Para suprimir
esses rumores, Nero acusou injustamente os cristãos do crime e castigou-os de
formas inacreditavelmente terríveis. Suas ações encorajaram o ódio para com os
cristãos (cf. Tácito, 1836, pp. 287-288). Os cristãos nunca haviam desfrutado
da aprovação do Império Romano, mas Nero foi o primeiro imperador a instigar
uma perseguição intensa contra eles. Perseguição intensa e excessiva continuou
durante séculos. Como escreveu James Baird, “na realidade, o Cristianismo fora oposto
mais vigorosamente do que qualquer outra religião na longa história de Roma”
(1978, p. 29).
Mas, além dos infortúnios trazidos sobre o Cristianismo
pelos oponentes da justiça divina, havia outro perigo no horizonte, um perigo
ainda pior do que a própria perseguição: a
apostasia predita. Em Seu ministério terreno, Jesus ensinou Seus discípulos
a viver pela verdade, ensinar a verdade, e até morrer pela verdade. A verdade
da Sua Palavra (João 17:17) era um tesouro inestimável. Jesus sabia que, após a
Sua ascensão, a verdade seria desafiada, e muitos se afastariam dela. Em certa ocasião,
Jesus advertiu Seus discípulos: “Acautelai-vos dos falsos profetas que vêm até
vós vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores” (Mateus
7:15). Paulo confirmou o que Jesus disse quando escreveu: “Porque eu sei isto:
que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não
perdoarão ao rebanho” (Atos 20:29). O apóstolo João escreveu sobre o
cumprimento da profecia de Jesus como uma realidade presente (1 João 4:1). A
apostasia que Jesus predisse existia então, e muitos já haviam abandonado a fé
(cf. 2 Timóteo 4:10).
Contudo, a influência dos apóstolos ainda era forte e
eles guardaram a pureza da verdade. Muitos dos escritos apostólicos preservados
no Novo Testamento foram direcionados para corrigir falsos ensinamentos,
defender a fé, e advertir novos cristãos acerca das doutrinas teológicas
perigosas que surgiriam (cf. Gálatas 1:6-10; 1 Timóteo 4:1-3; 1 Pedro 3:15; 1
João). Para pôr em ordem algumas coisas que estavam faltando em algumas
congregações e para defender “a fé que de uma vez por todas fora entregue aos
santos” (Judas 3), Deus ordenou (através dos apóstolos) que uma pluralidade de
anciãos (também chamados “bispos” ou “pastores” – Atos 20:17, 28; Tito 1:5, 7;
1 Pedro 5:1-4) fossem designados em cada congregação da igreja (Tito 1:5-9; cf.
Filipenses 1:1; 1 Timóteo 3:1-7). Os anciãos estavam encarregados de orientar e
alimentar o rebanho do Senhor (Atos 20:28). Era sua responsabilidade vigiar a
igreja que Cristo comprara com o Seu próprio sangue (Efésios 5:25; Hebreus
7:26-27).
Com a morte dos apóstolos (que não deixaram sucessores
apostólicos), os anciãos, juntamente com os diáconos, evangelistas e mestres,
assumiram total responsabilidade de defender a fé. Muitos deles haviam sido
instruídos diretamente pelos apóstolos, e assim foram parte fundamental do
desenvolvimento espiritual da igreja (nota: Alguns destes homens às vezes são
chamados de “pais da igreja” ou “pais apostólicos”). Em seu livro, The Eternal Kingdom, F. W. Mattox
escreveu:
Durante os primeiros cinquenta anos
após a morte do Apóstolo João, a igreja lutou para manter a pureza apostólica.
A literatura deste período, escrita por homens que são comumente chamados de
“Pais Apostólicos” e “Apologetas”, mostra claramente os esforços feitos para
manter o padrão do Novo Testamento e as tendências que mais tarde levaram à
apostasia (1961, p. 107).
Ainda que monumentais, muitos dos esforços destes
apologetas antigos para unificar a igreja estavam erroneamente baseados em mera
racionalidade humana. Pouco a pouco, novas idéias começaram a ser aceitas que
instigaram mudanças na igreja. A primeira principal mudança tinha que ver com a
organização da igreja, especificamente com a autoridade dos anciãos. Conforme
temos notado, nos primeiros dias da igreja, cada congregação possuía uma pluralidade de anciãos que simultaneamente a vigiavam. Não
obstante, muitos começaram a considerar um ancião como maior do que os outros,
e eventualmente somente este recebia o título de “bispo”. Disputas e contendas
pelo poder começaram. Mais tarde, “bispos” começaram a presidir individualmente
sobre várias congregações em uma cidade, as quais chamavam de “diocese”
(Latourette, 1965, p. 67).
Uma das pessoas que se esforçaram para unificar a igreja
sob um único homem (ou seja, “o bispo”) foi Inácio de Antioquia. Em sua carta
aos efésios, ele escreveu:
Pois, se neste breve espaço de tempo,
tenho desfrutado de tamanha comunhão com o vosso bispo – não quero dizer de uma
mera natureza humana, mas espiritual – quanto mais vos considero felizes por
estardes tão unidos a ele como a Igreja está a Jesus Cristo, e como Jesus
Cristo está ao Pai, para que todas as coisas possam concordam em unidade! ...
Sejamos cuidadosos, então, para não nos colocarmos em oposição ao bispo, a fim
de que possamos nos sujeitar a Deus (Roberts and Donaldson, 1973, 1:51).
Esta nova estrutura (ou seja, um bispo tendo autoridade
sobre outros) começou como um chamado para defender a verdade, mas levou a tal
afastamento do padrão divino que, por volta de 150 a.D., o governo de muitas
congregações locais diferia completamente da organização simples esboçada no
Novo Testamento. Esta mudança “inocente” na organização da igreja foi a semente
que precedeu à germinação do movimento católico muitos anos mais tarde.
Em tempo, os bispos que exerciam autoridade em certas
regiões começaram a se encontrar para discutir questões que interessavam a
todos eles. Eventualmente, esses encontros tornaram-se concílios onde credos e
novas idéias eram declaradas formalmente obrigatórias a todos os cristãos, e
supostos hereges eram condenados.
Constantino, imperador de Roma, reuniu o primeiro desses
concílios, o Concílio de Nicéia (325 a.D.). Pelo tempo do seu reinado, a
população cristã havia crescido tremendamente. A despeito da constante perseguição
e da crescente apostasia, muitos cristãos haviam permanecido fiéis a Deus, e
sua influência era crescente. A fé, influência e coragem destes cristãos (que
levaram muitos a morrer por amor à verdade) eram óbvias para Constantino. O
Cristianismo era considerado, em certos sentidos, uma ameaça potencial para o
Império se continuasse a crescer. Portanto, havia apenas duas opções: (1)
tentar erradicar o Cristianismo do Império aumentando a oposição a ele (uma
tática que havia fracassado durante quase três séculos), ou (2) “seguir a
correnteza” para que o Cristianismo ajudasse a unificar e fortalecer o Império.
Constantino decidiu não apenas parar a perseguição contra o Cristianismo mas
promovê-lo. Para ajudar a igreja, Constantino ordenou que 50 cópias manuscritas
da Bíblia fossem produzidas, e colocou alguns cristãos em posições elevadas no
seu governo (Miller and Stevens, 1969, 5:48, 51). Além disso, ele restaurou
lugares de adoração para os cristãos sem exigir pagamento (vede “The Edict...”,
n.d.).
Sob a direção de Constantino, mais mudanças foram
realizadas – especialmente na organização da igreja. Como o fim da perseguição era
algo que os cristãos consideravam impossível, e como o favoritismo do governo
parecia ainda menos alcançável, muitos cristãos se deixaram influenciar pelo
governo a ponto de se desviarem cada vez mais da verdade. Sob a influência de
Constantino, uma nova organização eclesiástica começou a se desenvolver,
moldada segundo a organização do governo romano. Embora o “Cristianismo” medrasse
sob sua influência, é irônico que o próprio Constantino não fosse um cristão.
Contudo, somente antes da sua morte – e seguramente com a esperança de que seus
pecados seriam removidos – ele concordou em ser batizado pela causa cristã
(vede Hutchinson and Garrison, 1959, p. 146).
Embora o Catolicismo não viesse realmente à existência
durante o tempo de Constantino, certamente sua influência e seu legado foram
pedras fundamentais sobre as quais o Catolicismo logo desenvolveu o seu poder.
Na medida em que a igreja obtinha benefícios do governo, tornou-se cada vez
mais semelhante ao governo e afastou-se mais do padrão divino. Por volta do
século sétimo, muitos cristãos, aceitando o modelo do governo romano,
instalaram um homem – o papa – em Roma para exercer poder eclesiástico
universal. De acordo com o modelo dos conselheiros do imperador romano, um
grupo de cardeais foi eleito para serem consultores do papa. De acordo com o
modelo dos governadores romanos, bispos foram designados sobre dioceses. E, em
harmonia com o modelo do Império Romano Universal (i.e., católico), uma nova
igreja – a Igreja Católica Romana – foi estabelecida. Consequentemente, a
Igreja Católica foi estabelecida no começo do século sétimo, sob a liderança do
primeiro homem a ser chamado universalmente de “papa” – Bonifácio III.
Referências
Baird, James
O. (1978), “The Trials and Tribulations of the Church from the
Beginning,” The Future of the Church, ed. William Woodson
(Henderson, TN: Freed-Hardeman College).
Boles, H. Leo
(1941), A Commentary on Acts of the Apostles (Nashville, TN:
Gospel Advocate).
“The Edict of
Milan” (no date),
[On-line], URL: http://home.inreach.com/bstanley/edict.htm.
Hutchinson,
Paul and Winfred Garrison (1959), 20 Centuries of Christianity (New
York: Harcourt, Brace and Co.).
Latourette,
Kenneth S. (1965), Christianity through the Ages (New York:
Harper & Row)
Mattox, F.W.
(1961), The Eternal Kingdom (Delight, AR: Gospel Light).
Miller, Dave
(2007), What the Bible Says about the Church of Christ (Montgomery,
AL: Apologetics Press).
Miller, Jule
and Texas Stevens (1969), Visualized Bible Study Series: History of the
Lord’s Church(Houston, TX: Gospel Services).
Nelson,
Wilton M., ed. (1985), Illustrated Dictionary of the Bible [Diccionario
Ilustrado de la Biblia] (Miami, FL: Editorial Caribe), fourteenth edition.
Roberts,
Alexander and James Donaldson, eds. (1973 reprint), Ante-Nicene
Fathers: The Apostolic Fathers with Justin Martyr and Irenaeus (Grand
Rapids, MI: Eerdmans).
Suetonius
Tranquillus (1890), The Lives of the Twelve Cæsars, trans. Alexander
Thomson (London: George Bell and Sons).
Tacitus,
Cornelius (1836), The Works of Cornelius Tacitus (Philadelphia,
PA: Thomas Wardle).
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Fonte:
Apologetics Press (http://www.apologeticspress.org)
Tradução: Rodrigo Reis de Faria
Gostei desse conteúdo, trás detalhes ótimos.
ResponderExcluirExcelente! Respostas que venho procurando a algum tempo. Obrigada.
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