quinta-feira, 9 de outubro de 2014

O Que é o Islam

Rick Rood

Não é todo dia que a religião aparece como matéria de capa nos jornais atuais, particularmente com certa regularidade. Mas nos últimos 20 anos, uma religião talvez tenha sido matéria de capa mais do que qualquer outra – a religião do Islam. O Islam reivindica um bilhão de seguidores em todo o mundo. Não apenas é a religião que cresce mais rápido do mundo, mas sua influência toca virtualmente cada aspecto da vida – não apenas espiritual, mas político e econômico também. E mais, sua influência está se fazendo sentir cada vez mais perto de casa. Atualmente há quase 5 milhões de muçulmanos nos E.U.A., e mais de 1.100 mesquitas ou centros islâmicos.

O que ensina o Islam? Em que os ensinos do Islam são semelhantes aos do Cristianismo? Em que são diferentes? Qual deve ser nossa atitude em relação ao Islam, e àqueles que seguem esta poderosa religião? Estas são algumas questões que queremos tratar neste ensaio.

A História do Islam

Primeiro, queremos considerar a história do Islam. O Islam foi fundado no começo do século sétimo por Muhammed. Quando tinha 40 anos de idade, em 610 A.D., Muhammed afirmava receber mensagens de Deus. Essas mensagens foram mais tarde compiladas e registradas no Corão – o livro sagrado do Islam.

Por volta desse mesmo tempo, Muhammed começou a pregar contra a ganância, a opressão econômica e a idolatria que infestavam os árabes. Ele convocou as muitas facções árabes a se unirem sob a adoração a Allah, o deus principal do panteão árabe de divindades. Embora sua mensagem fosse inicialmente rejeitada, por volta do ano 630 ele havia conseguido obter o controle de Meca, o centro econômico e religioso da península árabe.

Embora Muhammed morresse dois anos depois, o movimento religioso-político que ele fundou rapidamente se espalhou por todo o mundo árabe, e mais além. Por volta de 750 A.D., o império islâmico se estendia da Espanha, no ocidente, até a Índia, no oriente. Nos séculos que se seguiram, o Islam penetrou mais na África e Ásia, estendendo-se até as Filipinas. Durante sua “era dourada”, o Islam reivindicava alguns dos filósofos e matemáticos mais refinados do mundo. Foi durante esse tempo também que o Islam e o Cristianismo entraram em choque como conseqüência das Cruzadas, que reclamavam a Terra Santa dos muçulmanos.

Começando por volta de 1500, e acelerando após a revolução industrial dos séculos 18 e 19, o Islam sentiu a crescente influência das potências européias. Eventualmente, grandes porções do mundo muçulmano foram colonizadas por países europeus. Esta dominação política e econômica pela Europa continuou até o fim da 2ª. Guerra Mundial, após o que os países muçulmanos começaram a obter a independência política. Com a descoberta e o desenvolvimento das vastas reservas de petróleo em muitas terras muçulmanas, a independência econômica subitamente também foi atingida. Por fim, o Islam teve em seu alcance tanto a oportunidade como os recursos para se reafirmar como uma força poderosa no mundo. Após estar na defensiva por muitos séculos, o Islam agora estava na ofensiva!

A Situação Atual do Islam

Neste ponto, devemos discutir a situação atual do Islam. Ao fazer isto, é importante perceber que o Islam não é um sistema monolítico. Embora todos os muçulmanos derivem sua inspiração de Muhammed e do Corão, muitos grupos e movimentos são identificáveis dentro do Islam.

A divisão mais óbvia é entre o Islam sunita e xiita. Os sunitas (que compõem cerca de 90% de todos os muçulmanos) derivam seu nome do fato de que consideram tanto o Corão como a “sunna” ao estabelecer a conduta muçulmana apropriada. A “suna” é o comportamento ou exemplo de Muhammed e da comunidade muçulmana primitiva. É claro que existem muitas subdivisões entre os sunitas, mas todas se identificam como sunitas.

O outro maior grupo de muçulmanos são os xiitas (que compõem cerca de 10% de todos os muçulmanos e residem principalmente no Iraque e no Irã). A palavra xiita significa “partidário”, e refere-se ao fato de que os xiitas são “partidários de Ali”. Ali foi o genro e sobrinho de Muhammed, e um dos primeiros califas ou sucessores de Muhammed como líder do povo muçulmano. Os xiitas acreditam que o líder do Islam deve estar entre os descendentes de Ali, o qual acreditam possuir uma unção divina especial para esta tarefa. O último destes líderes divinamente designados, ou “imames”, a maioria dos xiitas acreditar estar “oculto” em outro plano de existência. O aiatolá Khomeini era considerado um porta-voz deste “imam oculto”.

Um terceiro grupo que deve ser mencionado são os sufitas – os muçulmanos (tanto entre os sunitas como xiitas) que buscam mais uma experiência mística com Deus do que um conhecimento meramente intelectual acerca dEle, e que também são dados a várias práticas supersticiosas.

Além dessas divisões dentro do Islam, também se deve mencionar as atitudes entre os muçulmanos em relação ao seu contato com o mundo ocidental em tempos modernos. Embora a situação seja muito mais complexa do que sejamos capazes de lidar neste panfleto, duas tendências principais têm se evidenciado no Islam.

Uma tendência é no sentido de certo grau de acomodamento e ajuste com o Ocidente e os modos de vida modernos. Esta tem se manifestado mais obviamente em países como a Turquia, que tem instituído extensamente formas seculares de governo e modos de vida ocidentais, embora mantendo as práticas religiosas islâmicas.

A tendência oposta é no sentido de um retorno a uma abordagem mais tradicional à vida islâmica e uma rejeição dos modos ocidentais e modernos. A expressão mais extremada desta tendência é manifesta nas várias formas de fundamentalismo islâmico, que insistem na implementação da lei islâmica (chamada de Sharia) em cada aspecto da vida. Os fundamentalistas têm sido bem sucedidos na Arábia Saudita, Irã, Paquistão e Sudão; mas estão ativos virtualmente em cada país islâmico, às vezes recorrendo à violência e ao terrorismo na tentativa de implementar sua agenda.

Para compreender este poderoso movimento religioso e político, é importante conhecer as várias divisões e atitudes dentro do Islam e as crenças básicas do Islam.

As Crenças Básicas do Islam

Embora as crenças dos muçulmanos em todo o mundo sejam quase tão diversas como entre os cristãos, existem seis artigos básicos de fé comuns a praticamente todos os muçulmanos.

O primeiro deles é que não há outro Deus além de Allah. Os árabes pré-islâmicos eram politeístas. Mas Muhammed conseguiu levá-los a se dedicarem exclusivamente ao deus principal do panteão, o qual chamavam de Allah (que significa simplesmente Deus). Adorar ou atribuir a divindade a qualquer outro ser é considerado shirk, ou blasfêmia. O Corão menciona inúmeros nomes de Allah, e esses nomes freqüentemente se acham nos lábios de muçulmanos devotos que acreditam que eles possuem um poder quase mágico.

O segundo artigo de fé é a crença em anjos e jinn. Jinn são espíritos capazes de fazer tanto ações boas como más, e de possuir seres humanos. Acima do nível dos jinn estão os anjos de Deus. Dois deles são acredita-se que acompanham a cada muçulmano, um à direita para registrar as boas ações, e outro à esquerda para registrar suas más ações.

O terceiro artigo é a crença nos livros sagrados de Deus, dos quais 104 são referidos no Corão. Entre os principais estão a Lei dada a Moisés, os Salmos dados a Davi, o Evangelho (ou Injil) dado a Jesus, e o Corão dado a Muhammed. Concebe-se que cada um deles comunicava a mesma mensagem básica da vontade de Deus ao homem. Discrepâncias óbvias entre as Escrituras judaicas e cristãs e o Corão (particularmente com referência a Jesus e Muhammed) foram explicadas por Muhammed em sua sugestão de que a Bíblia foi adulterada por judeus e cristãos.

O quarto artigo de fé é a crença nos profetas de Deus, através dos quais Allah apelou ao homem para que seguisse a Sua vontade conforme revelada em Seus livros sagrados. Não há acordo quanto ao número de profetas que existiram – alguns dizem centenas de milhares. Entre eles estavam Adão, Noé, Abraão, Moisés e Jesus. Mas todos concordam que Muhammed foi o profeta de Deus final e supremo – o “selo” dos profetas. Embora o próprio Muhammed dissesse que era um pecador, existem muitos muçulmanos em todo o mundo que parecem chegar perto de adorá-lo.

O quinto artigo de fé é a crença na absoluta vontade predestinatória de Allah. Embora alguns muçulmanos tenham modificado um pouco esta doutrina, o Corão parece apoiar a idéia de que todas as coisas (tanto boas como ruins) são o resultado direto da vontade de Deus. Aqueles que concluem que o Islam é uma religião fatalista têm bom motivo para fazer isto.

O sexto e último artigo de fé é a crença na ressurreição e no juízo final. No final da história, Deus julgará as obras de todos os homens. Aqueles cujas boas ações pesarem mais que suas más ações entrarão no paraíso (retratado em termos um tanto sensuais). Os demais serão consignados ao inferno. A característica proeminente da crença islâmica, além do seu forte monoteísmo, é que se trata de uma religião de obras humanas. A posição de alguém com respeito a Allah é determinada pelo seu sucesso em guardar Suas leis.

As Práticas Básicas do Islam

Agora queremos enfocar as mais importantes dessas obras. Elas se resumem no que geralmente chamam de os “Cinco Pilares do Islam”.

O primeiro pilar é a recitação do credo: “Não há outro Deus além de Allah, e Muhammed é o seu profeta”. Acredita-se geralmente que recitar este credo na presença de duas testemunhas é constituir-se a si mesmo um muçulmano – alguém em submissão a Deus. Naturalmente, a palavra Islam significa simplesmente “submissão”.

O segundo pilar é a prática regular de orações. Os muçulmanos sunitas devem recitar orações específicas acompanhadas por movimentos específicos, cinco vezes ao dia (os xiitas fazem isto apenas três vezes por dia). Todos os muçulmanos homens também são obrigados a se reunirem para oração comunitária (e sermão) toda sexta-feira ao meio-dia.

O terceiro pilar é dar esmolas. Nascido ele mesmo órfão, Muhammed era profundamente preocupado com os necessitados. O Corão exige que 2,5% das rendas de alguém sejam dadas aos pobres ou para a propagação do Islam.

O quarto pilar do Islam é o jejum durante o mês de Ramadan (o quinto mês lunar do calendário muçulmano, durante o qual diz-se que Muhammed recebeu a sua primeira revelação de Deus, e durante o qual ele e seus seguidores fizeram sua histórica viagem de Meca para Medina). Durante este mês, os muçulmanos com boa saúde devem renunciar a todo o alimento e líquido durante as horas do dia. Este jejum promove a auto-disciplina do muçulmano, a dependência de Allah, e a compaixão pelos necessitados.

O quinto pilar é o Hajj, ou peregrinação a Meca. Se possível, todo muçulmano deve fazer uma peregrinação a Meca uma vez durante sua vida. Ela pode ser feita apropriadamente somente em alguns dias durante o último mês do ano muçulmano. O Hajj promove as idéias de unidade mundial e igualdade entre os muçulmanos. Mas também contém muitos elementos de atividades prescritas que são de origem pagã.

Um sexto pilar, o da jihad, é geralmente acrescentado (o termo significa “esforço”, ou “luta” pela causa de Deus). A jihad é o meio pelo qual aqueles que estão do lado de fora do lar do Islam são trazidos para o seu aprisco. A jihad pode ser por persuasão, ou pode ser por força ou “guerra santa”. O fato de que qualquer muçulmano que morre em uma guerra santa tem o seu lugar assegurado no paraíso fornece um forte incentivo à participação!

Os muçulmanos em todo o mundo consideram esses pilares como orientação para moldarem sua prática religiosa. Mas, em acréscimo a esses pilares, existem inúmeras leis e tradições contidas no Hadith – literatura que foi compilada após o término do Corão, a qual afirmam conter o exemplo e as declarações de Muhammed sobre muitos temas. Porque as leis do Hadith e do Corão cobrem virtualmente cada área da vida, o Islam é bem referido tanto como um modo de vida todo-abrangente, como uma religião.

Uma Perspectiva Cristã sobre o Islam

Neste ponto, é apropriado apresentar uma breve avaliação do Islam a partir de uma perspectiva cristã.

A princípio, deve-se declarar que existe muita coisa no Islam que o cristão pode afirmar. Entre as doutrinas islâmicas mais importantes que podem ser genuinamente afirmadas pelo cristão estão a sua crença em um Deus, seu reconhecimento de Jesus como nascido de uma virgem, profeta sem pecado e messias de Deus, e sua expectativa de uma ressurreição e juízo futuros.

Existem, porém, algumas áreas de diferença muito significativas. Mencionaremos apenas algumas. Primeiro, a percepção muçulmana de Deus de modo algum é a mesma que a revelada na Bíblia. O Islam retrata Deus, em última análise, como irreconhecível. Na verdade, no Corão, Allah revela a Sua vontade, mas Ele nunca Se revela a Si mesmo. Ele também nunca é retratado como um Pai para o Seu povo, como o é na Bíblia.

Segundo, embora Jesus seja apresentado como um profeta que operava milagres e messias, e inclusive sem pecado, o Islam nega que Ele seja o Filho de Deus ou o Salvador do mundo. Na verdade, nega-se que Jesus de algum modo tenha morrido, muito menos pelos pecados do mundo.

Terceiro, embora a humanidade seja descrita como fraca e tendente ao erro, o Islam nega que o homem seja um pecador por natureza e necessitado de um Salvador, como a Bíblia ensina tão claramente. As pessoas são capazes de se submeter às leis de Deus e merecer a sua aprovação final. De acordo com o Islam, a necessidade espiritual do homem não é de um salvador, mas de orientação.

Isto leva ao fato de que, como no Islam a aceitação por Deus é algo que devemos merecer por nossas obras, não é possível fornecer o senso de segurança que pode ser achado na graça de Deus, conforme ensinado na Bíblia.

Muitos de nós teremos oportunidade de ajudar vizinhos, colegas ou amigos muçulmanos. Ao fazer isto, devemos estar cientes de algumas barreiras que existem entre muçulmanos e cristãos, devido a animosidades passadas e atuais.

A atitude de muitos muçulmanos em relação ao Cristianismo e em relação ao Ocidente é colorida pela história do conflito que teve expressão nas Cruzadas e nos tempos medievais, na dominação e colonialismo europeu, assim como no apoio ocidental ao Sionismo em tempos mais recentes. Devemos permitir que o amor de Deus vença o nosso próprio medo e atitude defensiva, e penetrar essas barreiras.

Nos últimos anos, muitos muçulmanos têm sido profundamente impressionados pela compaixão demonstrada pelos ocidentais (e particularmente pelos Estados Unidos) em relação a países muçulmanos que têm sofrido severas dificuldades. Este tipo de compaixão pode ser demonstrado a nível individual também. Ao fazer isto, podemos então convidar nossos amigos muçulmanos para se unirem a nós em um estudo do Novo Testamento que revele a única fonte de aceitação diante de Deus em Seu amor e graça, expresso através do sacrifício de Seu Filho Jesus Cristo e Seu dom do Espírito Santo.



Fonte: Probe Ministries (http://www.probe.org)

Tradução: Rodrigo Reis de Faria